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Delegado diz que ataque ao AfroReggae foi motivado por prisão de pastor

Do UOL, no Rio

12/08/2013 13h19

O titular da Dcod (Delegacia de Combate às Drogas), Márcio Mendonça Dubugras, afirmou nesta segunda-feira (12) que os atentados contra a sede do grupo AfroReggae, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, foram ordenados por lideranças do tráfico de drogas por conta da prisão do pastor Marcos Pereira da Silva, desafeto do coordenador da ONG, José Júnior.

Em entrevista à "TV Globo", Dubugras afirmou que a polícia já investigava tal possibilidade, e a gravação de uma conversa --exibida pelo "Fantástico", no domingo (11)-- entre os traficantes Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, "corroborou a suspeita". Beira-Mar e VP são acusados de liderar a facção Comando Vermelho.

"A Polícia Civil já tinha cinco investigações para apurar os atentados contra o AfroReggae. Nós já vínhamos trabalhando nessa linha. Já tínhamos provas de que, na realidade, [o ataque] tinha surgido por causa da liderança dessa facção [Comando Vermelho]. Essa conversa veio a corroborar a suspeita que nós tínhamos", disse.

"A prisão do pastor Marcos ocorreu dia 7 de maio. Dia 10 de maio surgiu essa conversa entre Beira-Mar e Marcinho VP e logo depois começaram a surgir os atentados. A gente acredita que a ordem para os atentados tenha partido por causa da prisão do pastor Marcos", completou.

No registro de áudio e vídeo do diálogo, que ocorreu em uma sala penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, onde ambos estão presos, Beira-Mar e Marcinho VP comentam a prisão do líder da igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias, ocorrida no dia 7 de maio --três dias antes da gravação.

Os criminosos criticam a atuação de José Júnior, que segundo eles, teria "comprado" testemunhas para depor contra Marcos Pereira. O coordenador do AfroReggae nega a acusação. Em determinado momento, Beira-Mar diz a Marcinho VP: "Tipo assim, compraram. Compraram é eufemismo. Foi o Juninho que estava por trás disso, né... Tinha que mandar um salve lá pra ele".

Na versão da polícia, "salve" é uma gíria utilizada por traficantes que significaria ataque, represália. Para o titular da Dcod, o material indica a "influência" que o religioso teria no contexto do tráfico de drogas, "inclusive de tentar até a transferência desses presidiários para um presídio no Maranhão, onde ele tem uma igreja", afirmou o delegado.

Dubugras também disse considerar fundamental o isolamento de Fernandinho Beira-Mar e de Marcinho VP:

"Essas pessoas têm que ser isoladas. Elas não podem se comunicar. Qualquer comunicação exterior, até com familiares e advogados, tem que ser monitorada. Pessoas que exercem liderança em facções criminosas não podem se comunicar, principalmente entre eles".

Segundo ele, a investigação ainda não foi concluída. "A gente ainda tem algumas diligências a serem feitas e depoimentos a serem colhidos. Na realidade, a gente tem que juntar todas essas informações. Temos cinco inquéritos para relatar", finalizou.

Pereira é acusado de estuprar duas fiéis de sua igreja e é investigado por associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e homicídios.

Conversa no presídio

O encontro entre Fernandinho Beira-Mar e Marcinho VP foi autorizado pela Justiça após Beira-Mar alegar que estava se sentindo muito sozinho em cela separada, de acordo com a reportagem do "Fantástico".

A conversa ocorreu no parlatório do presídio, e foi gravada em áudio e vídeo. Beira-Mar e Marcinho VP ficaram separados por um vidro, e se falaram por um interfone.