Câmara do Rio vira "memorial" em homenagem a Marielle
Na última quinta-feira (15) a Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, viveu um de seus momentos mais tristes de sua história. Uma multidão se reuniu no lugar antes, durante e depois do velório da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista que dirigia o carro onde ela estava, Anderson Pedro Gomes, que aconteceu na Câmara Municipal. Eles foram assassinados na noite da última quarta-feira (14) na Lapa, na região central. Nesta sexta-feira (16) o Palácio Pedro Ernesto e a Cinelândia ainda guardavam as marcas da homenagem. Adesivos, flores, cartazes, pichações e grafites transformaram o lugar em uma espécie de memorial, que atrai visitantes que fazem fotos ou mesmo só param para contemplar as lembranças sobre Marielle e Anderson.
A Cinelândia é um dos pontos turísticos mais conhecidos do centro do Rio. Com nome oficial de Praça Floriano, o lugar também abriga a Biblioteca Nacional, tem o Museu de Belas Artes em uma de suas esquinas, o Theatro Municipal e o Palácio Pedro Ernesto. Desde a morte de Marielle e o motorista, o prédio da Câmara chama mais atenção.
“Eu teria que passar pela rua de trás, mas decidi passar aqui (em frente ao prédio) para ver. Queria ter estado aqui ontem (quinta) e não pude. Passei para ver os escritos e a coisa toda”, disse o professor de filosofia, Luciano Gomes Brasil.
“Tenho a impressão que, infelizmente, desta vez as pessoas realmente foram atingidas e não vão repetir as opiniões pré-formadas”, acrescentou o jovem.
A funcionária pública gaúcha, Adriana Silva, estava conhecendo o Rio e aproveitou para ir à Cinelândia por conta da manifestação do dia anterior.
“Achei legal o ambiente de manifestações, as pichações, as flores achei interessante registrar o momento”, afirmou a turista, que admitiu que não estava muito ciente sobre o crime que matou a vereadora.
Já o casal de advogados argentinos, Mariana Puebla e Lucas Pasetti, que também fotografavam a praça, estavam bem a par dos acontecimentos.
“Sabemos que assassinaram Marielle. Pensamos na dor das pessoas. É terrível e a tristeza que isso provoca. Espero que quem fez isso não fique impune e que se faça justiça. Na Argentina os amigos postaram no Facebook coisas sobre ela, amigos que viveram no Rio e que sabiam da luta da Marielle pelos direitos humanos, pelas mulheres”, declarou Mariana.
Pasetti disse que na Argentina a morte de políticos não é comum, porém, de ativistas de direitos humanos é recorrente.
“Não era só na ditadura, mas na democracia também há assassinatos [de ativistas de direitos humanos]. O triste é que em plena democracia ainda aconteça isso em países da América do Sul”, concluiu o turista.
Marielle participava de um evento direcionado a jovens mulheres negras, na Lapa, antes de ser morta. Ela percorreu cerca de quatro quilômetros até ser abordada no Estácio, também na região central.
De acordo com a polícia, pelo menos dois carros participaram da emboscada que matou a vereadora e Anderson. Imagens de uma câmera de segurança mostram, segundo informações da Polícia Civil, que a placa de um dos carros envolvidos no crime é de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Todos os tiros foram disparados contra a parte traseira do carro, lado direito, onde a vereadora estava sentada.
Como os vidros do veículo são escuros, a Polícia acredita que os criminosos seguiram Marielle e sabiam exatamente onde atirar.
A vereadora morreu imediatamente após ser atingida por quatro tiros na cabeça. Nada foi roubado, e os criminosos fugiram.
O motorista levou três tiros. Uma assessora que também estava no carro teve ferimentos leves. A principal hipótese dos investigadores é de crime premeditado.
Segundo a perícia, a munição utilizada no crime foi calibre 9 mm, que pode ser disparada por pistolas ou por submetralhadoras.
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