Ceará registra ataques a ambulância, Câmara e rádio no interior do estado
A madrugada desta segunda-feira (7) registrou ao menos dois ataques na cidade de Icó, a 365 km de Fortaleza, no sexto dia seguido de ataques violentos no estado. O número de atentados passa de 125 e atingiu ao menos 36 cidades, segundo disseram ao UOL policiais ligados à investigação da onda de violência.
Os dados não são confirmados oficialmente pela Secretaria da Segurança Pública. A pasta afirmou, porém, que ao menos 148 suspeitos de participação nos ataques foram presos, sendo 38 entre a noite de ontem e a manhã de hoje. Um contingente de 300 agentes da Força Nacional foi enviado ao Ceará no sábado (5) por ordem do ministro Sergio Moro para reforço na segurança.
O governo do Ceará iniciou no domingo a transferência de presos suspeitos de comandar a onda de ataques. O governo federal disponibilizou 60 vagas em presídios federais para os líderes das ações. Segundo o governo estadual, apenas um dos chefes de facção tinha sido transferido até as 10h30 desta segunda --outros 20 presos devem ser levados nas próximas horas.
Para Cláudio Justa, presidente do Conselho Penitenciário do Ceará, a tendência é que os ataques deixem de ocorrer na Grande Fortaleza e migrem para o interior do estado.
Tudo indica que a estratégia do crime agora é a interiorização dos ataques em razão da saturação de policiamento na região metropolitana. É mais difícil de combater, é as facções têm muita capilaridade
Cláudio Justa, do Conselho Penitenciário do Ceará
Ataques nesta madrugada
Por volta de 1h da manhã, um caminhão-caçamba que prestava serviço à prefeitura de Icó foi incendiado. Três horas depois, criminosos atacaram simultaneamente o prédio da rádio da cidade e a sede da Câmara Municipal e fizeram disparos contra as portas.
No mesmo horário, na cidade de Reriutaba, a 278 km da capital, homens chegaram em uma caminhonete e incendiaram uma ambulância que estava no pátio do hospital municipal. O veículo ficou completamente destruído.
A SSPDS (Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará) informou ainda está fazendo levantamentos de ocorrências durante a madrugada no estado. Até a madrugada de ontem, três suspeitos haviam sido mortos pela polícia. Durante trocas de tiros, um policial foi ferido na mão e não corre risco de morrer.
Nesta segunda-feira (7), 200 linhas de ônibus na capital e região metropolitana circulam com a presença ostensiva de policiais militares e também escoltados com equipes do motopatrulhamento. "A SSPDS e a Polícia Militar atuam de forma sincronizada com o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), com o objetivo de garantir segurança aos usuários do transporte coletivo."
Nesta segunda-feira, ao anunciar os números de prisões, o governador enalteceu "o esforço e comprometimento dos nossos profissionais de segurança, bem como das tropas federais, nesse enfrentamento ao crime. Estamos todos unidos para garantir a segurança dos irmãos e irmãs cearenses, bem como garantir o estabelecimento da ordem."
Ataques motivados por facções criminosas
Entre quarta-feira (2) e esta segunda (7), criminosos atacaram um prédio do governo federal, uma estação de distribuição de energia elétrica e tentaram destruir uma ponte e um viaduto, além de atear fogo a vários veículos. Os governos federal e estadual afirmam que os atos são promovidos por membros de facções criminosas.
A crise foi desencadeada por ações conjuntas das três principais facções criminosas que atuam no estado, segundo a principal linha de investigação. Seus membros estariam descontentes com a disposição do novo governo estadual em fazer mudanças no sistema prisional.
As três facções que atuam no Ceará --PCC (Primeiro Comando da Capital), CV (Comando Vermelho) e GDE (Guardiões do Estado)-- teriam se unido com o objetivo de retaliar declarações do secretário da Administração Penitenciária estadual recém-empossado, Luis Mauro Albuquerque. A reportagem solicitou entrevista com o secretário, mas ele não retornou o pedido até esta publicação.
O secretário afirmou durante sua posse não reconhecer o poder das facções no estado e disse que o Ceará passaria a deixar de dividir presos de facções rivais em unidades prisionais diferentes. A divisão é feita em diversos estados para evitar confrontos e mortes dentro de estabelecimentos prisionais, mas as facções acabam dominando as unidades onde são maioria.
Em vídeo publicado nas redes sociais na tarde de sábado (5), o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), afirmou que a onda de ataques tem como objetivo fazer com que o governo recue de medidas "duras e necessárias" que tem adotado. "O que não há nenhuma possibilidade de acontecer. Pelo contrário: endureceremos cada vez mais contra o crime", afirmou.
*Colaboração de Agência Estado
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