Inteligência de MG lança glossário para servidores entenderem gírias do PCC
Resumo da notícia
- Documento sigiloso aponta palavras e expressões utilizadas por integrantes do PCC
- Glossário tem como objetivo auxiliar policiais a identificarem o que criminosos falam
- Algumas gírias, no entanto, costumam ser ditas por pessoas não ligadas a facções
Um glossário de 26 páginas foi elaborado pela Assessoria de Informação e Inteligência do governo de Minas Gerais para traduzir para servidores da segurança pública do estado 143 palavras ou expressões atribuídas a integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) presos ou em liberdade. Em frequente atualização, o documento é considerado sigiloso e restrito.
Algumas expressões são gírias conhecidas em São Paulo e utilizadas com frequência por moradores de bairros de periferia que não integram a organização criminosa.
O objetivo do glossário, segundo o próprio documento, é "otimizar e padronizar as rotinas de trabalho da comunidade de inteligência prisional, com a apresentação dos principais conceitos e terminologias utilizadas por indivíduos vinculados à organização criminosa denominada PCC".
Estudo divulgado pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) em 2017 aponta que Minas Gerais tem, predominantemente, duas facções em atividade: PCC, com influência considerada média, e a Família Monstro.
Ainda segundo o glossário, "estudos apontam tratar-se da maior organização criminosa atuante na América Latina, com possível aliança com o Hezbollah".
A caminhada dos irmãos no Comando
Muitas das gírias utilizadas pelo grupo têm sido interceptadas por investigações realizadas no país. Os integrantes costumam utilizar, por exemplo, as palavras "berro" e "ferramenta" para se referir a armamentos. E "verme" para policiais em geral.
Para estar na caminhada (ação) do Comando (o PCC), o irmão (integrante ativo da organização), que já é conhecido por algum vulgo (apelido) tem que ter em mente que o proceder (o que deve ser seguido) é a sigla PJLIU (Iniciais do lema Paz, Justiça, Liberdade, Igualdade e União para todos).
Quando presos, passam a integrar uma "faculdade" (unidade prisional). Dentro do "sistema" (complexo penitenciário), costuma chegar "cabelo de punk", o que não agrada muito: trata-se de maconha de baixa qualidade.
Dentro e fora da "faculdade", não são admitidos atos de "talaricagem" (tentar seduzir a mulher de outro "irmão") nem de "malandrismo" (pressão psicológica ou física para subtrair algo de um terceiro).
Dentro do "comado", é possível "tirar a camisa ou rasgar a peita" (pedir para ser desligado da organização se comprometendo a não prejudicar o grupo). Mas se houver falha, esse integrante será submetido ao "tribunal do crime" (julgamento feito por próprios membros do PCC). Caso seja condenado, o destino é a "vala" (morte).
É esse o "proceder" (a regra).
G de "Geral" ou de gestão
O glossário traz explicações sobre as 31 "gerais", células organizacionais identificadas do PCC:
- Geral do Estado: Abaixo da cúpula, trata-se do chefe do PCC no estado
- Geral do Sistema: Administra os interesses do PCC nos presídios
- Geral da Financeira: Setor que administra as planilhas financeiras do PCC
- Geral do Progresso: Setor que administra as atividades ilícitas da organização, como tráfico de drogas e roubo
- Geral da FM: Setor que administra o comércio de drogas no varejo
- Geral da ML: Relacionada à Geral da FM, vende apenas cocaína
- Geral do Bob: Local de venda de maconha
- Geral do PT: Local de venda de crack
- Geral da 100%: Local de venda de drogas consideradas com grau de pureza maior
- Geral da Cebola: Setor que administra as planilhas de arrecadação do PCC
- Geral da RF: Setor responsável pela arrecadação financeira da facção por meio de rifas
- Geral dos Caixas: Setor responsável por operacionalizar e fiscalizar as contas bancárias
- Geral do Bicho Milionário: Sorteios realizados para angariar dinheiro
- Geral do Esporte: Setor responsável por promover atividades esportivas em comunidades
- Geral da Feminina: Representa a facção em presídios de mulheres
- Geral dos Cadastros: Setor responsável por registrar novos membros, baixas, exclusões, dívidas e punições
- Geral dos Gravatas: Setor que faz relacionamento e intermedia ligação com advogados
- Geral do Paiol: Setor responsável por administrar a estrutura bélica do PCC
- Geral da Rua: Administra os interesses da facção por meio de membros que estão em liberdade
- Geral da Capital da Rua: Uma subdivisão do Geral da Rua, sendo responsável pelo controle de membros que estão em liberdade
- Geral dos Salveiros: Setor responsável por repassar determinações da cúpula
- Geral do Progresso dos Cinco Estados: Administração no estados fronteiriços Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul
- Geral do Pen Drive: Responsável plo registro de informações digitalizadas
- Geral das Trancas: Responsável pela administração geral dos interesses de integrantes da facção presos
- Geral do Progresso Externo: Setor que administra a arrecadação financeira das atividades ilícitas
- Geral das Comarcas: Administração de prisões menores
- Geral das Colônias: Responsável pelo controle de integrantes do PCC que estão no regime semiaberto
- Geral do Interior: Responsável pelo controle de membros de cidades pequenas
- Geral do Prédio: Setor que se responsabiliza pela disciplina dos membros dentro dos presídios
- Geral do Posto Cultural: Responsável pela arrecadação financeira em confraternizações
- Geral dos Estados e Países: Formado por membros "graduados" do PCC, é responsável por propagar a ideologia da organização criminosa em todos os estados
Procurado, o governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria da Segurança Pública, informou não comentar sobre facções criminosas.
Ouça o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Este e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.
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