Brasileiro foragido foi "executivo" no Paraguai com PCC e CV como clientes
Resumo da notícia
- Brasileiro fugiu para o Paraguai com ordem de prisão decretada
- No país vizinho, virou fornecedor das facções rivais PCC e CV
- Felício mandava armas e drogas para as organizações criminosas
- Ele foi preso em sua casa, em condomínio da capital paraguaia
A prisão do brasileiro Levi Adriani Felicio, 52, movimentou o noticiário no Paraguai. Suspeito de comandar do país vizinho o fornecimento de armas e drogas para o CV (Comando Vermelho) e para o PCC (Primeiro Comando da Capital), Felicio foi detido na capital Assunção, enquanto dormia, numa operação divulgada na madrugada de segunda-feira pela Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) paraguaia pelo Twitter.
No dia seguinte, o presidente do Paraguai, Mario Abdo, usou sua conta pessoal na rede social para anunciar a expulsão de Felicio e sua entrega a autoridades brasileiras. O ministro da Justiça, Sergio Moro, agradeceu Abdo publicamente. Aproveitou para reforçar os esforços de Brasil e Paraguai para o combate ao crime organizado.
Desde quarta-feira, Felicio está preso preventivamente no Brasil, em local não divulgado. Poderia, entretanto, estar detido aqui desde 2014. Isso se não tivesse escapado da polícia numa operação frustrada realizada naquele ano.
Prisão de irmão avisa sobre investigação
Felicio é investigado por vínculos com o PCC há quase duas décadas.
Seu irmão, Rodrigo Felicio, o Tico, já foi apontado como um dos líderes da facção criminosa na região de Piracicaba (SP) em apurações da PF (Polícia Federal) e do MP-SP (Ministério Público de São Paulo).
Por conta dessa suposta relação dos irmãos com o PCC, em 2014, os dois foram alvo da operação Gaiola, deflagrada pela PF. A ação investigou o tráfico de toneladas de droga vindas de Bolívia e Paraguai para o Brasil. Rodrigo foi apontado como chefe do esquema.
No dia 1º de abril, ele foi preso preventivamente. Naquela época, a PF já tinha pedido à Justiça Estadual Paulista a prisão de Levi Felicio. A ordem para prendê-lo, porém, só foi expedida no dia 16.
Levi soube que seu irmão tinha sido preso e, segundo pessoas que o investigavam na época, desconfiou que poderia ser alvo da mesma operação. Aproveitou a demora na expedição de sua ordem de prisão e fugiu para o Paraguai.
Vida luxuosa e proteção no Paraguai
Foragido de autoridades brasileiras, Felicio fixou-se no Paraguai. Lá, vivia numa casa em condomínio de luxo em Assunção. Segundo autoridades paraguaias, ele comandava o abastecimento de cocaína, maconha e armas para facções brasileiras.
De acordo com o ministro Arnaldo Giuzzio, da Senad, ele era uma espécie de "chefe executivo do tráfico". Garantia que drogas e armas não faltassem para quadrilhas do Brasil dando ordens a "soldados" espalhados pelo Paraguai.
No Brasil, investigadores ainda não sabem como Felicio conseguia trabalhar ao mesmo tempo para o CV e o PCC. As duas quadrilhas travam uma disputa pelo controle das rotas de tráfico para o Brasil. A informação sobre a colaboração dupla de Felicio foi ratificada pela Senad paraguaia.
A Senad informou também que, no Paraguai, Felicio subornava policiais para que não o prendessem. O órgão reconheceu que isso é normal entre os chefes do tráfico no país.
Protegido no Paraguai, Levi Felicio passou a visitar o Brasil com frequência a partir de 2015. Naquele ano, ainda foragido, ele conseguiu um habeas corpus revogando sua ordem de prisão. Mesmo respondendo a processos por tráfico, Levi esteve na região de Limeira e Piracicaba, onde atuava ao lado irmão Rodrigo, que segue preso.
Egresso do sistema penal
Levi Felicio já foi preso anteriormente. Ele foi condenado por tráfico num processo de 2002. Só saiu da prisão após sua punição ser reduzida pela Justiça.
Quando já estava livre, passou a ser investigado na operação Gaiola.
Felicio ainda responde a pelo menos três processos no Brasil. Quando autoridades brasileiras souberam que ele havia sido detido no Paraguai, pediram uma nova prisão preventiva dele, a qual foi autorizada.
O governo paraguaio temia manter Felicio no país por suas conexões por lá. Resolveu expulsá-lo.
O Ministério da Justiça não informou onde Felicio está preso. Sabe-se que seu destino final deve ser um presídio do sistema penitenciário federal, que já abriga uma parte da cúpula do PCC.
O UOL não conseguiu fazer contato com os advogados que hoje representam Felicio. Na casa de sua família, ninguém quis comentar sua prisão e expulsão do Paraguai.
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