Paraisópolis: secretário da Segurança de SP se recusa a falar sobre mortes
Resumo da notícia
- Questionado pela reportagem, Campos se esquivou e disse que há inquéritos em aberto
- Famílias das vítimas afirmam que não receberam posicionamentos diretos do secretário
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, se recusou, na noite desta quarta-feira (11), a comentar as nove mortes que ocorreram em um baile funk, em Paraisópolis, após uma ação da PM (Polícia Militar), na madrugada de 1º de dezembro.
Campos compareceu na noite de hoje a um evento do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), que premiou ações que colaboram com práticas que combates a violência contra a mulher. Em seu único posicionamento da noite, elogiou as medidas listadas no evento.
Na saída do evento, o UOL questionou o secretário repetidas vezes sobre o caso de Paraisópolis. Campos afirmou que não iria falar sobre o assunto e que, se a reportagem quisesse alguma declaração, ele falaria apenas sobre o evento da noite.
A reportagem informou ao secretário que as famílias das nove vítimas querem que ele vá à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) prestar esclarecimentos sobre as mortes. Campos, novamente, afirmou que não falaria a respeito do caso.
Após esta publicação, a Secretaria da Segurança Pública informou que o secretário general Campos se posicionou sobre o assunto em quatro coletivas de imprensa. As famílias das vítimas, no entanto, seguem afirmando que não receberam posicionamentos diretos do secretário.
Indagado, ainda, se ele não deveria se posicionar publicamente, passados dez dias das mortes, o secretário justificou o porquê de não ter respondido: "Há dois inquéritos em curso, há dois inquéritos em curso", disse. Na sequência, foi embora com seguranças.
Atualmente, há em curso dois inquéritos: um da Polícia Civil e outro da Corregedoria da PM. Na Polícia Civil, o caso é investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). Já a Corregedoria apura por que os 31 PMs envolvidos na ocorrência fecharam os locais de fuga dos jovens e investiga se houve culpabilidade dos policiais militares.
Doria troca elogios por afastamento
No período de uma semana, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), mudou seu posicionamento sobre a ação de policiais militares dentro da favela de Paraisópolis.
Em um primeiro momento, Doria refutou completamente a responsabilização dos PMs envolvidos, e defendeu a corporação e a conduta da PM na operação. Com o passar dos dias, foi mudando de discurso até anunciar o afastamento de todos os policiais que agiram na ocorrência. Ao todo, 31 policiais estão afastados.
As famílias têm culpado Doria e a chefia da PM pelas mortes de seus parentes no baile.
Nove mortos em Paraisópolis
Na madrugada do dia 1º, uma moto furou uma blitz em uma avenida próxima da favela. Segundo a PM, seis policiais que estavam em motos iniciaram uma perseguição. Durante o acompanhamento, enquanto o motorista se dirigia para dentro da favela, o homem que estava na garupa da moto atirou contra os policiais.
No centro de Paraisópolis, ocorria o baile da DZ7, com cerca de 5.000 pessoas. Os policiais informaram que entraram na favela para tentar deter os dois suspeitos que estavam na moto. Frequentadores do baile e moradores da favela, no entanto, contradisseram a versão apresentada pelos PMs.
Durante a perseguição, os PMs pediram, via rádio, ajuda para que mais policiais entrassem na favela. Eles relataram terem sido alvos de garrafadas e pedradas, e que agiram com uso moderado da força. Nove jovens, entre 14 e 23 anos, morreram após a ação policial.
Levantamento da Ouvidoria da Polícia aponta que, entre janeiro e outubro deste ano, 697 pessoas foram mortas por policiais militares no estado. No mesmo período do ano passado, foram 686 vítimas. O que faz o órgão prever que o ano termine com alta na letalidade.
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