Peritos voltam ao prédio em que menino morreu após cair do 9º andar
Peritos do Instituto de Criminalística de Pernambuco voltaram, na manhã de hoje, ao condomínio de luxo Pier Maurício de Nassau, localizado no bairro São José, área central do Recife, para realizar perícia complementar sobre as investigações envolvendo a morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva, que caiu do 9º andar de um do edifícios, na última terça-feira (2).
Esta é a terceira vez que funcionários do IC voltam ao local da morte de Miguel. A equipe da perícia de hoje é composta por perito criminal, fotógrafo, desenhista, engenheiros civil, mecânico e nuclear. Eles vão analisar o local que o menino percorreu após abrir a porta corta-fogo, que dá acesso à área de serviço e não tem câmeras do circuito de filmagem do edifício. Os peritos também vão fazer uma simulação do tempo que o menino teve ao ser deixado sozinho no elevador pela patroa da mãe dele, Sarí Mariana Gaspar Corte Real, até a queda.
O resultado será anexado ao inquérito da Polícia Civil, que informou que não prestará informações sobre o caso até a conclusão do inquérito da polícia judiciária.
Segundo a Polícia Civil, as investigações do caso têm prazo de 30 dias a partir da instauração do inquérito no dia da morte de Miguel. Entretanto, por se tratar de caso que houve prisão em flagrante de um investigado, o prazo diminuiu para dez dias e expira na próxima quinta-feira (11).
Imagens feitas por moradores do condomínio Pier Maurício de Nassau mostram o local que o menino Miguel percorreu ao abrir a porta da área de serviço. A criança foi deixada sozinha no elevador pela patroa da mãe, Sarí Mariana Gaspar Hacker Corte Real, enquanto a empregada doméstica Mirtes Renata Santana levava o cachorro de estimação dos patrões para passear na via pública próxima ao condomínio.
Imagens do circuito interno do condomínio mostram Miguel correndo para dentro do elevador e, em seguida, a empregadora Sarí Corte Real segura a porta do equipamento e conversa com a criança, que aciona alguns botões. O menino queria ir atrás da mãe, e a patroa não impediu a saída da criança. Nas imagens, Sarí aperta o botão da cobertura do prédio e libera a porta do elevador. Depois, o menino, perdido no prédio, cai do 9º andar e morre.
Moradores do condomínio Pier Maurício de Nassau se revoltaram com a forma que a criança morreu. Eles gravaram vídeos mostrando a área percorrida pelo menino, logo após ele sair do elevador de serviço e abrir a porta corta-fogo. As imagens cedidas ao UOL por um morador da edificação, que também publicou registros do condomínio no Instagram @lucasferreira.1, mostram que o local é um corredor com janelas na altura de 1,20m. Em paralelo, há um pequeno hall onde ficam os condensadores de aparelhos de ar-condicionado e a proteção é feita por um guarda-corpo de alumínio sem tela ou grade.
Segundo a Polícia Civil, o menino teria avistado a mãe no térreo, ficou gritando e subiu na grade. Uma das barras se rompeu com o peso da criança e ela caiu de uma altura de 35 metros.
Moradores reforçam que a polícia deveria fazer uma reconstituição dos passos de Miguel para esclarecer como ele subiu na janela do corredor, que tem 1,20 metro, e depois pulado para área dos condensadores, onde ele teria escalado a grade do guarda-corpo.
"Gravei o vídeo pelo fato de que eu achei tudo muito confuso. Precisei compartilhar minha indignação através dos vídeos e mostrar que vidas negras importam, sim. [Acho] Que o caso precisa ter uma investigação mais profunda", disse o morador, que pediu para ter a identidade preservada, em entrevista ao UOL.
O condomínio Pier Maurício de Nassau é considerado de alto padrão e tem dois apartamentos por andar. São duas torres semelhantes e que são chamadas popularmente de "torres gêmeas". O prédio que Miguel caiu tem 38 andares. Durante a construção, ocorreram vários protestos de moradores de Recife que defendem a paisagem do Recife Antigo, o bairro histórico da capital pernambucana, e eles questionavam que as torres iriam causar problemas visuais no centro histórico da cidade.
Celebrações de 7º dia
Hoje, completam sete dias da morte do menino Miguel. O dia será lembrado com uma oração feita por um diácono na casa da mãe do menino, que ocorrerá no período da noite. A cerimônia vai ter presença restrita de familiares, que pedem que a imprensa não vá ao local para respeitar a privacidade deles.
A família de Miguel divulgou hoje que conseguiu colocar o nome dele na intenção de uma missa online, que será realizada às 19h30, na paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no bairro do Ibura, na zona sul do Recife.
Mais homenagens
Na calçada do condomínio Pier Maurício de Nassau foram colocadas flores, coroas e cartazes em homenagem ao menino, como também cobrando justiça ao caso. Na sexta-feira (5), dois atos pacíficos cobraram das autoridades investigação imparcial ao caso, sendo que um deles ocorreu em frente ao prédio que Miguel morreu. Em nenhum deles houve tumulto e até moradores do condomínio também participaram da manifestação.
Miguel sonhava ser policial, corredor e jogador de futebol —como grande parte das crianças que moram em periferias e têm como ídolos atletas que tiveram origem pobre e melhoraram a condição socioeconômica por meio do esporte. Ele participava de um grupo de corrida junto com a mãe.
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