Justiça condena a 530 anos ladrões de 'Novo Cangaço' que roubaram R$ 51 mi
A Justiça de São Paulo decidiu, na manhã de hoje, aumentar de 481 para 530 anos a pena de prisão de quatro ladrões de banco e de carro-forte, que agiam no interior de São Paulo numa tática que ficou conhecida como "Novo Cangaço".
De acordo com a Justiça, os quatro condenados participaram de um mega-assalto à empresa de transporte de valores Prosegur na madrugada de 5 de julho de 2016 na cidade de Ribeirão Preto (a 310 km da capital paulista). Depois de roubar R$ 51 milhões da empresa, os criminosos, na fuga, trocaram tiros por cerca de uma hora com a polícia. Durante o tiroteio, um policial militar rodoviário de 43 anos foi morto.
O "Novo Cangaço" é quando criminosos entram numa cidade de pequeno ou médio porte rapidamente, com tiros e bombas, roubam o alvo planejado e deixam o local rapidamente.
Os quatro já haviam sido condenados, em dezembro de 2018, pela Justiça de Ribeirão Preto, em primeira instância. As defesas apelaram judicialmente e requisitaram as absolvições e nulidade do processo.
Em paralelo, o MP (Ministério Público) também recorreu da primeira decisão, pois a morte do policial não constava na primeira decisão. Quem aumentou as penas foi a 4ª Câmara Criminal do TJ (Tribunal de Justiça).
Segundo investigadores, normalmente, esse tipo de crime não é orquestrado pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), mas costuma ser financiado pela maior facção criminosa do país.
O PCC fornece, de maneira alugada, armamentos e o que mais for necessário para a execução do plano. Depois do crime, parte do dinheiro roubado é entregue para a facção, além da devolução do que foi alugado.
Diego Moura Capistrano, que figurou na lista do Ministério da Justiça como o quarto criminoso mais procurado do país até novembro do ano passado, quando foi preso, que estava condenado a 123 anos de prisão, deve sua sentença aumentada para 136 anos. Ele teria transportado o dinheiro roubado e os comparsas em um caminhão durante a fuga.
Capistrano também é suspeito de ter participado de um roubo a outra empresa de valores, em 2017, em Ciudad Del Este, no Paraguai. Aquela ação, de acordo com policiais paraguaios, foi orquestrada pelo PCC, que fez algumas ações semelhantes para conseguir dinheiro.
Ele sustentou em juízo que é inocente. Afirmou que as versões que o implicaram não têm credibilidade.
Além de Capistrano, Juliano Moisés Israel Lopes e Ângelo Aparecido Domingos dos Santos, que haviam sido foram condenados a 121 anos de prisão cada um, tiveram suas penas aumentadas para 133 anos. Eles foram tidos pela investigação como os criminosos que orquestraram o roubo.
Lopes negou em juízo todas as acusações, mas admitiu conhecer os outros três condenados. Santos afirmou que estava em um quarto de hotel em outra cidade no momento do roubo e que Juliano pediu para usar seu cofre para guardar dinheiro fruto de ação trabalhista.
Já o ex-funcionário da empresa de valores Sérgio Zemantauskas Daniel, que teria repassados informações estratégicas para os assaltantes, teve a pena aumentada de 116 para 128 anos de prisão. Ele afirmou em juízo que não repassou nenhuma informação da empresa, mas disse conhecer os outros condenados.
A desembargadora Ivana David, relatora do processo, afirmou, durante seu voto, que a denúncia foi clara, o trabalho de investigação foi da polícia judiciária e não da militar e que todo o processo jurídico não teve ilegalidades.
"Não pode aceitar a tese de que o latrocínio [contra o PM] absorveria o crime de explosão. São crimes diferentes com dolos diferentes. Foram quatro latrocínios tentados, um efetuado, explosão, tiroteio, roubo de R$ 51 milhões", afirmou.
Não falamos mais em Novo Cangaço. Falamos em Terrorismo Urbano. Réus causam esse mal, esse pavor à sociedade, enquanto vítimas e toda a sociedade ficam encurraladas. No caso, Ribeirão Preto. Mas estamos assistindo em todo o país.
Ivana David
De acordo com a decisão judicial, o crime teve planejamento antecedente e divisão de tarefas entre os criminosos. Ainda segundo a decisão, os criminosos agiram de forma complexa e especializada, como costumam agir organizações criminosas armadas:
"O poderio do armamento utilizado pela quadrilha impossibilitaram que a força policial pudesse impedir o assalto e a fuga, mas a investigação policial levada a efeito possibilitou a descoberta do local usado como 'quartel' pelo grupo criminoso, onde se encontraram munição militar, máscaras petrechos além de provas relacionadas a alguns dos integrantes, desvendando-se a participação de um funcionário da empresa de segurança que teria acesso a informações estratégicas essenciais para o sucesso da empreitada ilícita."
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