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Caso Henry: polícia pede prisão e indicia casal por homicídio com tortura

O menino Henry Borel ao lado da mãe, Monique Medeiros, e do padrasto, o vereador Dr. Jairinho - Reprodução
O menino Henry Borel ao lado da mãe, Monique Medeiros, e do padrasto, o vereador Dr. Jairinho Imagem: Reprodução

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

03/05/2021 15h57

A Polícia Civil do Rio concluiu hoje à tarde a investigação envolvendo o assassinato de Henry Borel, morto na madrugada de 8 de março no apartamento da família na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. O inquérito será encaminhado nas próximas horas ao MP-RJ (Ministério Público do Rio).

Os investigadores pedem à Justiça a prisão preventiva do vereador Dr. Jairinho (sem partido) e da professora Monique Medeiros, padrasto e mãe do menino que completaria 5 anos hoje. Eles foram indiciados pelo crime de homicídio duplamente qualificado —com emprego de tortura e recursos que dificultaram a defesa da vítima.

Fontes ligadas ao caso confirmaram ao UOL que o inquérito foi concluído após oito semanas de investigação. Laudos complementares, como os dados do celular do parlamentar, foram anexados ao procedimento. Jairinho e Monique estão presos desde 8 de abril por suspeita de atrapalhar as investigações e ameaçar testemunhas.

Jairinho ainda responderá por crime de tortura no dia da morte da criança. Padrasto e mãe do menino também responderão por tortura em decorrência das agressões ocorridas em 12 de fevereiro, confirmadas com base nas mensagens trocadas entre Monique e a babá da criança, que relatou agressões em tempo real.

O menino, que ficou trancado com o parlamentar em um quarto, disse para a babá ter levado rasteiras e chutes. Após ter sido informada das agressões, Monique levou quase três horas para voltar para casa. Segundo a Polícia Civil, Monique tinha obrigação legal de afastar o agressor da vítima após ter tomado conhecimento do episódio —o que não ocorreu.

A investigação da morte de Henry foi marcada por reviravoltas, trocas de versões sobre o dia do crime e revelações do histórico de violência em relatos de ex-namoradas.

Na sexta-feira (30), Jairinho foi indiciado pelo crime de tortura majorada contra a filha de uma ex. Os crimes ocorreram entre 2010 e 2013, quando a vítima tinha de 3 a 5 anos. Em seu relato, a criança contou que teve a cabeça batida contra a parede de um banheiro em uma ocasião e afundada na piscina em outra.

"Esse caso serve para corroborar o perfil violento do Dr. Jairinho contra crianças e filhas de pessoas com as quais ele tem relacionamento amoroso", disse o delegado Felipe Curi ao comentar as acusações contra o vereador.

Perícia desmonta versão de casal

A tese de Jairinho e Monique de que a morte de Henry teria sido causada por um acidente doméstico foi desmentida por peritos criminais e legistas que analisaram o local do crime.

As 23 lesões encontradas no corpo da criança e a altura da cama fizeram com que os legistas chegassem à conclusão de que houve uma ação violenta, confrontando a versão apresentada pelo casal.

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Henry morreu em decorrência de hemorragia interna e laceração hepática causada por uma ação contundente, informou o laudo produzido pela perícia.

Mudança de versão de Monique após prisão

A professora Monique Medeiros esteve ao lado de Jairinho até depois da prisão, em 8 de abril, quando foram detidos no mesmo imóvel em Bangu, zona oeste do Rio. Quando prestou depoimento à Polícia Civil no dia 17 de março, disse que o relacionamento entre o parlamentar e seu filho era "muito bom". Disse ainda que Jairinho tentava "cativar o amor de Henry".

Agentes penitenciários denunciaram ao UOL que Jairinho e Monique tiveram regalias nas duas horas em que permaneceram no Presídio José Frederico Marques, em Benfica. De acordo com os relatos, o casal se despediu com beijo e abraço antes de deixar o local. O episódio foi denunciado ao MP-RJ, que teve acesso às câmeras de segurança da unidade.

Contudo, a mãe de Henry mudou a sua versão do caso após trocar de advogados, no dia 12 de abril. E revelou, em carta encaminhada pela nova defesa, que foi "medicada" por Jairinho no dia do crime. "Logo eu adormeci", escreveu.

Os novos advogados de Monique passaram a solicitar que ela prestasse novo depoimento à polícia. Os investigadores, entretanto, entenderam que uma nova versão não mudaria o rumo da investigação.

'Meu filho dizia que ele era um homem mau'

Em outra carta enviada a familiares, Monique diz que Jairinho é um "homem ruim, doente, psicopata e esquizofrênico". No texto revelado pelo Fantástico ao qual o UOL teve acesso, diz ainda que Henry a alertava sobre o parlamentar. A professora diz que só começou a enxergar um outro lado de Jairinho após ser presa.

Eu acreditava no Jairinho, cegamente e não sei por quê. Meu filho dizia que ele era um homem mau. E eu não acreditei

Ela também escreveu outras quatro cartas —uma delas endereçada a Leniel Borel, pai de Henry.

O que dizem os advogados

Ao UOL, o advogado Braz Sant'Anna, que defende o vereador Dr. Jairinho, disse que o indiciamento do vereador "já era esperado". Ele ainda fez críticas à estratégia adotada pela defesa da professora Monique Medeiros. "Bastante inconsistente, que não convenceu o próprio ex-companheiro [Leniel]. No curso do processo, cairá por terra mais esta versão defensiva."

A advogada Thaise Assad, que representa a mãe de Henry, relatou que a defesa ainda não teve acesso à conclusão do inquérito e que só irá se manifestar após ser notificada.

O advogado André França, primeiro defensor de Jairinho e Monique, também se posicionou sobre as mudanças de versão. "A defesa sempre pautou a sua atuação pela ética e pela técnica, jamais alterando a narrativa apresentada pelo casal, desde o início e de forma única. Adotamos, inclusive, a investigação defensiva, para verificar e dar visibilidade ao que o casal afirmava."