Como funciona o sistema que destrói dinheiro dos bancos durante assaltos
O mega-assalto a uma central de distribuição de dinheiro do Banco do Brasil na madrugada de 30 de agosto em Araçatuba (SP) só fracassou por causa da eficácia de um sistema de segurança acionado em tempo real que retardou a ação da quadrilha, possibilitando a destruição das cédulas guardadas no local.
Após a invasão, houve acionamento automático de neblina com gás de pimenta, sirene de alta potência e uma tecnologia com luzes piscantes para causar confusão mental nos invasores. Os criminosos pretendiam levar cerca de R$ 90 milhões armazenados em cofres, segundo revelou reportagem exclusiva do UOL.
Apesar de a empreitada ter fracassado, o assalto com mortes, reféns usados como escudo humano e uso de explosivos é apontado pelo Fórum de Segurança Pública como o mais violento nos últimos dois anos pelo "novo cangaço", tática também conhecida como "domínio de cidades". O número de detonadores foi o maior da história do país, segundo levantamento da Associação Mato-Grossense para o Fomento e Desenvolvimento da Segurança.
Enquanto carros eram incendiados em vias públicas para dificultar o acesso das forças de segurança a Araçatuba, ao menos 15 homens participaram da detonação para invadir a agência.
O alvo do roubo foi a sede do Seret (Setor de Retaguarda e Tesouraria) do Banco do Brasil, centrais de distribuição de cédulas para outras agências bancárias que executam a função do Banco Central em cidades do interior.
Foi a primeira vez que o sistema, implementado neste ano nas sedes do Seret, destruiu as cédulas em um cofre.
Neblina com gás de pimenta
Após a invasão à agência bancária com o uso de explosivos, foi acionado automaticamente um gerador de neblina com gás de pimenta. A ação foi parcialmente neutralizada pelos criminosos com a utilização de um duto capaz de retirar parte da fumaça do local.
Esse sistema já foi instalado em mais de 20 mil instituições financeiras, segundo a AlarmTek, empresa responsável pela integração desse tipo de tecnologia nos bancos.
"A defesa consiste no uso de camadas. A primeira proteção [o gás de pimenta] tira a visibilidade do criminoso e causa irritabilidade nas mucosas", explicou o advogado Douglas Prehl, vice-presidente da empresa e ex-diretor de segurança do Santander.
Segundo ele, foram feitas mais de 15 mil análises de ataques a instituições financeiras no país para implementar o sistema de segurança.
Sirene e luzes piscantes
Um sistema com sirene de alta potência e luzes piscantes também dificultou a ação dos criminosos.
A tecnologia causa confusão mental e pode romper com os tímpanos de uma pessoa em apenas quatro minutos. "Esse sistema também causa tontura e passa uma impressão de câmera lenta", disse o especialista ouvido pelo UOL.
Sistema retardou ação de quadrilha
A segunda camada de proteção é a destruição das cédulas, acionada automaticamente após a invasão e com autonomia de até oito horas, mesmo em caso de corte de energia elétrica. Hoje, há cerca de 80 cofres com esse tipo de tecnologia no país, segundo a empresa responsável pela implementação do sistema.
Prehl disse ainda que o acionamento do sistema de segurança com neblina e sirene retardou a ação da quadrilha em Araçatuba. Ele estima que os criminosos tenham levado cerca de 40 minutos para chegar à sala-cofre, composta por armação em concreto e aço.
Nesses locais, há cofres com gavetas e sistema de destruição de notas. "Quando conseguiram chegar ao cofre, os criminosos só encontraram papel picado. Não havia mais dinheiro porque o sistema de destruição já tinha sido ativado desde o momento da invasão", explicou.
Cédulas destruídas com cortes em meia-lua
O sistema utilizado para a inutilização de cédulas envolve a trituração das notas seguida de entintamento com um produto químico vermelho.
Há três modelos de picotamento das notas: guilhotina, sistema com furo no meio ou nas bordas das cédulas e corte em meia-lua, usado nos cofres de Araçatuba.
A inutilização leva entre cinco e dez minutos, incluindo o uso de uma tinta sobre o dinheiro. A ação, contudo, mantém 51% de cada nota preservada para que o material danificado seja levado à Casa da Moeda para reimpressão e não haja prejuízo à instituição.
A ideia é popularizar o sistema de defesa não só para bancos. Como os criminosos não estão conseguindo acessar o dinheiro, o 'novo cangaço' vão migrar para postos de combustível, lotéricas e lojas. Esses estabelecimentos precisam estar preparados para evitar roubos"
Douglas Prehl, especialista no setor
Sistema opera em carros-forte há dois anos, diz associação
O advogado Ruben Schechter, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transporte de Valores, diz que esse tipo de tecnologia já é utilizada há ao menos dois anos em carros-forte.
Segundo ele, a eficácia do sistema contribuiu para a migração dos ataques para os bancos. "Muitas vezes, esses locais [agências do Seret] não estão preparados para impedir os ataques", analisa.
O delegado Pedro Ivo Correa dos Santos, da 5ª Delegacia de Investigações sobre Furtos e Roubos a Bancos da Polícia Civil de São Paulo, diz que o armazenamento em grandes quantidades nessas agências precisa ser repensado.
"Não é a atividade principal dessas agências. E isso precisa ser repensado com urgência em cidades pequenas. Quando essas agências foram construídas há 40 anos, não se imaginava que armazenariam tanto dinheiro. A estrutura delas não acompanhou essa mudança do sistema financeiro. Mas a polícia hoje tem treinamento e capacidade para reagir em um tempo menor", disse.
Em nota, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) informou que as grandes agências possuem centrais de monitoramento em tempo real, com acionamento às autoridades em caso de tentativa de roubo. "Os serviços de segurança são fornecidos por empresas especializadas com autorização de funcionamento expedida pelo Departamento de Polícia Federal", revelou em um dos trechos do texto.
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