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Moradores protestam após jovem negro com marmita ser morto pela polícia

30.out.2021 - Moradores do morro do Piolho, na zona sul de São Paulo, fazem protesto contra a morte de Gabriel Hoytil Araújo, assassinado em uma ação da polícia com uma marmita - Divulgação
30.out.2021 - Moradores do morro do Piolho, na zona sul de São Paulo, fazem protesto contra a morte de Gabriel Hoytil Araújo, assassinado em uma ação da polícia com uma marmita Imagem: Divulgação

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

31/10/2021 09h10

Moradores do Morro do Piolho, na zona sul de São Paulo, participaram de um protesto ontem contra a morte de Gabriel Hoytil Araújo, jovem negro assassinado na comunidade em uma ação de combate ao tráfico de drogas da Polícia Civil no dia 20 deste mês.

O caso gerou comoção por causa da imagem de uma marmita suja de sangue no local. Gabriel se enquadra no perfil revelado por estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), que aponta que 80% das mortes violentas com vítimas entre 15 e 19 anos são de pessoas negras.

Os manifestantes, que produziram até um grafite com o rosto do jovem morto, exibiram cartazes pedindo por justiça e por transparência nas investigações.

O assassinato está sendo investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que apreendeu as armas usadas pelos agentes na ação e uma réplica de arma de fogo encontrada no local onde o jovem foi morto.

Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) relacionou a morte do jovem à ação do tráfico de drogas e informou que "criminosos resistiram à ação dos policiais civis, que intervieram".

Contudo, essa versão é contestada por testemunhas ouvidas pelo UOL sob a condição de anonimato, que informaram que o jovem estava sentado em um banco enquanto comia a marmita. Um morador da comunidade disse ter ido ao local do crime após ter ouvido os disparos e negou qualquer tipo de confronto com o tráfico.

Ele informou ainda ter conversado com os agentes, que inicialmente teriam dito que Gabriel teria atirado. Posteriormente, ainda segundo a versão da testemunha, um dos policiais disse ter disparado após o jovem ter tentado retirar a arma dele. Após ser baleado, o jovem caiu sobre a marmita. O morador disse não ter visto réplica de arma no local do crime.

O caso também está sendo monitorado pela Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, que está em contato com a população local.

"Um rapaz contou que um dos policiais ficou gritando: 'Não devia ter atirado. Por que você atirou?'. Foi uma ação onde é muito comum essa violação de direitos da polícia com os moradores. Já existe um processo de criminalização daquele território", disse Marisa Feffermann, que faz parte do grupo.

Neste mês, viaturas da PM foram flagradas em vídeo rondando o imóvel onde morava Gabriel Silva Guedes, adolescente morto em junho de 2020 também na zona sul paulista. O caso ocorreu três dias após a absolvição de um sargento acusado de ter participado do crime.