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Mortos pela PM projetavam R$ 2 mi para cada um em roubo em GO, diz polícia

Ação da PM de Goiás matou oito suspeitos de arquitetar roubo a banco - Divulgação
Ação da PM de Goiás matou oito suspeitos de arquitetar roubo a banco Imagem: Divulgação

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

12/12/2021 04h00

Os oito mortos pela Polícia Militar em uma ação na madrugada de quarta-feira (8) contra suspeitos de integrar uma quadrilha especializada em assaltos a banco pretendiam lucrar até R$ 2 milhões cada um, segundo fontes ligadas ao caso ouvidas pelo UOL.

O grupo planejava um mega-assalto a uma central de distribuição do Banco do Brasil na cidade de Nova Crixás (GO). É o mesmo tipo de alvo do ataque ocorrido na madrugada de 30 de agosto em Araçatuba (SP), quando criminosos armados com fuzis e explosivos atacaram forças de segurança e fizeram moradores reféns para tentar arrecadar R$ 90 milhões.

A estratégia em Goiás, segundo informações obtidas junto ao setor de inteligência da Polícia Militar, era atacar a agência do Banco do Brasil de Nova Crixás ainda na primeira quinzena deste mês. Assim, a quadrilha poderia arrecadar a quantia referente ao 13º salário depositada por empresas da região para pagamento de funcionários.

Contudo, a polícia ainda não sabe se os suspeitos tinham informações detalhadas sobre a quantia depositada na agência ou qual era o valor total, já que a quadrilha ainda contaria com o reforço de outros comparsas. Um áudio pelo WhatsApp para recrutar comparsas de São Paulo antecipou a ação da PM, que monitorava o grupo. "Vamos buscar o time completo", disse um dos suspeitos.

Com apenas 12 mil moradores, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cidade se enquadra no perfil de ações do chamado novo cangaço, tática também conhecida como domínio de cidades. Os grupos costumam agir em municípios de pequeno ou médio porte para dominar as forças de segurança em uma ação marcada pela escalada da violência.

"Nós sabíamos que eram indivíduos bem armados que já tinham planejado um roubo aos moldes do novo cangaço. Eles eram assaltantes experientes de São Paulo. E de alta periculosidade", disse o coronel Marcelo Granja, comandante da PM de Goiás e responsável pela operação que resultou na morte dos suspeitos.

'Com a faca e o queijo na mão', disse suspeito em áudio

Mensagens em áudio extraídas dos celulares após a operação e anexadas à investigação conduzida pela Polícia Civil de Goiás confirmaram o plano da quadrilha. "Parceiro! Nós tá [sic] com a faca, o queijo (...) e o doce na mão", disse um deles.

Outro recado demonstrou a disposição do grupo inclusive para entrar em confronto com as forças de segurança, caso necessário. "Correndo o risco de morrer... Vamos morrer tentando contar, tio", falou outro suspeito.

A reportagem do UOL não localizou os advogados dos suspeitos mortos. A maioria deles era de Campinas (SP), reduto de criminosos especializados em assaltos a instituições financeiras.

Quem são os suspeitos mortos

  • Jefferson da Silva Diniz - Foi preso em flagrante acusado de envolvimento em roubo e extorsão em setembro de 2011 em Campinas (SP) pouco depois de completar a maioridade. Condenado a 3 anos e 6 meses de prisão por roubo e extorsão, deixou o Centro de Progressão Penitenciária de Jardinópolis em outubro de 2014, segundo a SAP (Secretaria de Administração Penitenciária). Tinha 28 anos.
  • Thiago Moraes de Oliveira - Foi condenado por receptação qualificada e associação criminosa com outros três comparsas após ter sido preso em flagrante em abril de 2018, em Campinas (SP). Em abril de 2020, deixou o Centro de Progressão Penitenciário I de Bauru (SP) para cumprir pena em albergue domiciliar. Tinha 28 anos.
  • Vitor Roberto da Rocha Pires - Preso em flagrante por assalto a mão armada em 2017. Em junho de 2019, deixou o Centro de Progressão Penitenciário de Hortolândia para cumprir pena em regime aberto. Tinha 24 anos.
  • Walaf Ilson do Carmo Leite - Já foi investigado por suposta participação em caso de sequestro e cárcere privado em Campinas (SP). Tinha 22 anos.
  • Outros suspeitos mortos - Paulo Henrique Ribeiro, Yago Palomino Pinheiro e Allen Johnnes de Gois - a reportagem não localizou informações sobre passagens anteriores pela polícia. Também não há dados sobre eles no sistema prisional de São Paulo.

Dinâmica semelhante à de Varginha

Com o grupo, a PM diz ter encontrado três fuzis, cinco pistolas, dois revólveres, munição de diversos calibres e explosivos em uma mochila, detonados pelas forças de segurança. De acordo com a corporação, o confronto ocorreu porque os suspeitos atiraram na direção dos agentes. Ainda segundo a versão da polícia, os suspeitos foram retirados com vida do local para serem socorridos em um hospital, onde foi confirmado o óbito.

A dinâmica do caso é semelhante à ação da Polícia Militar de Minas Gerais, também em um sítio na área rural de Varginha (MG), que deixou 26 suspeitos mortos na madrugada de 31 de outubro.

Foi a ação mais letal das forças de segurança naquele estado —na ocasião, especialistas ouvidos pelo UOL viram indícios de fraude processual, já que a cena do crime também foi desfeita sob a alegação de "socorro" às vítimas, impedindo a perícia de determinar como foi a ação.

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