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Caso Henry: As versões que Monique e Jairinho adotarão em interrogatório

Dr. Jairinho e Monique serão interrogados pela Justiça nesta quarta-feira (9) - Arte/ UOL
Dr. Jairinho e Monique serão interrogados pela Justiça nesta quarta-feira (9) Imagem: Arte/ UOL

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

08/02/2022 19h50

Pela primeira vez, nesta quarta-feira (9), a pedagoga Monique Medeiros e o ex-vereador Jairo Souza Santos, o Dr. Jairinho, darão suas versões à Justiça sobre a noite em que Henry Borel, de 4 anos, morreu no apartamento do casal na Barra da Tijuca, em 8 de março do ano passado.

Os últimos movimentos das defesas dos réus indicam que Monique manterá a defesa de ser uma boa mãe e vítima da influência de Jairinho, enquanto o ex-vereador, padrasto do menino, pretende reforçar a ausência de violência e questionar as provas periciais do processo.

O interrogatório está marcado para as 9h30 na 2ª Vara Criminal de Justiça do Rio de Janeiro. As falas dos réus acontecem após uma série de movimentações importantes no processo, inclusive relatos de ameaças e mudança de advogados.

Monique e a cruzada contra a influência de Jairinho

No dia 15 de dezembro, testemunhas de defesa escolhidas por Monique e seus advogados prestaram depoimentos à juíza Elizabeth Louro. Familiares de Monique reforçaram a versão de que ela viveu em um "relacionamento abusivo", como disse Reinaldo César Pereira Schelb, coronel bombeiro da reserva que se considera tio da pedagoga.

O "relacionamento abusivo" apontado pelo tio teria sido o motivo de Monique não contar sua versão dos fatos. A mesma linha foi reforçada nos últimos dois meses, após denúncias de supostas ameaças de pessoas ligadas a Jairinho contra Monique.

A pedagoga e seus advogados, Thiago Minagé e Hugo Novais, relataram que ela foi ameaçada dentro da prisão. A suposta ameaça teria partido de Flávia Fróes, advogada contratada pela família de Jairinho para fazer uma investigação defensiva.

Minagé disse temer por sua cliente: "Ela é bem segura, mas dessa vez está bem assustada". Na petição em que relatou a ameaça, a defesa de Monique pediu sigilo de informações pessoais para "manter sua segurança" e relatou que Flávia disse que "dariam um jeito" de transferi-la em conversa com a ré. Flávia negou e abriu queixa-crime contra os advogados de Monique.

Após um segundo episódio de suposta ameaça, em que um advogado teria pedido para uma detenta "passar recados" a Monique, os advogados pediram a conversão em prisão domiciliar para a pedagoga, que foi negada.

A juíza Elizabeth Louro negou a domiciliar, mas afirmou que "está empenhada em garantir a segurança da ré". Louro também negou que Monique seja isolada de outras detentas porque "seria uma espécie de punição''.

Jairinho questiona inquérito e laudos

Flávia Fróes negou as ameaças. Segundo ela, na ocasião da visita ao presídio, buscava com Monique obter mais detalhes do histórico médico do garoto.

A advogada diz que seu papel no processo é coletar provas de que "ambos são inocentes", a pedido do deputado estadual Coronel Jairo (Solidariedade), pai de Jairinho. Flávia diz acreditar na inocência da mãe de Henry e que, por isso, o relato de Monique "não faz sentido".

Há menos de 15 dias o advogado Lúcio Adolfo foi escolhido para comandar a defesa do ex-vereador. O antigo advogado, Braz Sant'anna, abandonou o processo após o imbróglio das visitas de Flávia a Monique, mas alegou questões de "foro íntimo". Agora, Adolfo segue a linha que já vinha sido apontada pela antiga defesa: erros nos laudos.

Nesta terça-feira (8), véspera dos interrogatórios, Adolfo alegou suspeição dos peritos Leonardo Huber Tauil e Gabriela Graça Suares Pinto, responsáveis pelos laudos de necropsia de Henry.

Sobre Tauil, a defesa de Jairinho afirma que ele destruiu provas. "Ao destruir as evidências, avocou-se como único portador universal da verdade sobre elementos de materialidade do putativo crime", diz a petição.

Adolfo retoma que não há fotografia do fígado de Henry, que teria sofrido lesões que levaram à morte do garoto.

Sobre Gabriela, a defesa afirma que houve "quebra de imparcialidade e demonstrações visíveis de comprometimento com o resultado final do processo" e cita a presença da perita em um livro lançado sobre o caso.

Além do questionamento das provas periciais, Jairinho deve seguir a linha de mostrar o homem "carinhoso" relatado por testemunhas de defesa nas audiências de dezembro. Ele foi descrito como "amoroso" e "incapaz de matar uma mosca".

Em 6 de maio de 2021, o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) denunciou Jairinho por homicídio triplamente qualificado, tortura e coação de testemunha. Monique foi denunciada pelos crimes de homicídio triplamente qualificado na forma omissiva, tortura omissiva, falsidade ideológica e coação de testemunha.

"O crime de homicídio foi cometido por motivo torpe, eis que o denunciado decidiu ceifar a vida da vítima em virtude de acreditar que a criança atrapalhava a relação dele com a mãe de Henry", afirmou o promotor de Justiça Marcos Kac, no texto da denúncia.

Os laudos periciais apontam 23 lesões no corpo do menino, e que Henry morreu em decorrência de hemorragia interna e laceração no fígado causada por ação contundente.