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'Essa demora acaba com as esperanças; é muito difícil', diz esposa de Dom

Alessandra Sampaio, esposa do jornalista Dom Phillips - Reprodução/TV Globo
Alessandra Sampaio, esposa do jornalista Dom Phillips Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

12/06/2022 22h23Atualizada em 12/06/2022 22h35

A esposa do jornalista Dom Phillips, correspondente do jornal britânico The Guardian, Alessandra Sampaio, disse não ter esperanças de encontrá-lo vivo. O marido dela e o indigenista Bruno Araújo Pereira estão desaparecidos desde o dia 5 de junho na região do Vale do Javari, oeste do Amazonas.

"Eu não tenho muita esperança não, para ser sincera. Mas fica aquela pontinha de uma história fantasiosa, fantástica, que talvez, quem sabe... E essa demora, realmente, acaba com as esperanças, porque é muito difícil", disse, em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.

Emocionada, Alessandra disse que não tem mais como chorar, mas que às vezes sente muita tristeza. Ela falou sobre a dedicação de indígenas nas buscas, e da mobilização de alunos do marido em um projeto social para aulas de inglês.

"Parece que eu vou acordar a qualquer momento e ele vai chegar, ou que ele vai me ligar. Eu fico com o celular o dia inteiro na mão", contou.

Depois, chorando, Alessandra disse esperar que o marido e Bruno Araújo não tenham sofrido: "Eu já disse isso antes, eu espero que eles não tenham sido torturados, ou tenham sofrido. Eu peço muito para eles estarem bem, os dois, onde é que eles estejam".

Eram homens fortes, inteligentes, que estavam acostumados com essa vivência na floresta. Mas por tudo, por toda a conjuntura, por ter sido uma emboscada, eu não acredito. Infelizmente, não acredito
Alessandra Sampaio

Alessandra também rebateu a afirmação do presidente Jair Bolsonaro (PL), que disse considerar uma "aventura não recomendável" a viagem da dupla pela região amazônica. A esposa de Dom Phillips disse que isso "não existe" e que os dois eram "profissionais seríssimos".

Hoje, o Corpo de Bombeiros do Amazonas disse ter encontrado uma mochila, notebook e outros pertences submersos na região das buscas por Bruno e Dom Phillips. Os objetos foram achados por mergulhadores, e a Polícia Federal confirmou que eram dos dois desaparecidos.

Onde o indigenista e o jornalista desapareceram - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Antes, Alessandra fez apelos pela intensificação das buscas. "Como atravessar essa noite sabendo que Dom está desaparecido?", questionou em um dos trechos.

Relembre o caso

Bruno Pereira e Dom Phillips sumiram em Atalaia do Norte, próximo à Terra Indígena Vale do Javari, uma reserva que sofre com disputas entre tráfico de drogas, madeiras e garimpo ilegal. Um suspeito foi preso e quatro testemunhas foram ouvidas.

Os dois foram vistos pela última vez por volta das 7h de domingo, a bordo de um barco, e sumiram no trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte (AM), onde eram aguardados por duas pessoas ligadas à Univaja. Após um atraso de mais de duas horas na chegada da dupla, as buscas começaram.

Bruno trabalhava com ribeirinhos e indígenas da região, afetada pela ação de invasores. Segundo testemunhas, sofria ameaças constantes de garimpeiros, madeireiros e pescadores que atuavam em terras indígenas e, por isso, a falta de contato após um dos deslocamentos é vista com bastante preocupação.

Em carta reproduzida pelo jornal O Globo, pescadores prometeram "acertar contas" com o indigenista. Segundi Yura, Bruno sofria ameaças desde quando foi coordenador da Funai em Atalaia do Norte. "Eram ameaças diretas, não mais veladas como acontecia outrora."

O MPF (Ministério Público Federal), que abriu investigação do caso, acionou Polícia Federal, Polícia Civil, Força Nacional e Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari.

Paulo Barbosa da Silva, coordenador-geral da Univaja, disse que o repórter inglês fotografou invasores armados que ameaçavam indígenas.

Segundo ele, esses homens seriam ligados a Pelado, preso em flagrante na terça-feira (7) por posse de drogas e de munição de uso restrito e apontado como suspeito de envolvimento no sumiço. A defesa de Amarildo nega envolvimento dele com o desaparecimento.