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Crime e poder: PCC movimenta R$ 1 bilhão e tem 'batizados' fora do país

Preso usa escudo com as iniciais do PCC no RN; facção comanda tráfico no Brasil - REUTERS / Josemar Goncalves
Preso usa escudo com as iniciais do PCC no RN; facção comanda tráfico no Brasil Imagem: REUTERS / Josemar Goncalves

Colaboração para o UOL

09/01/2023 04h00

Um grupo com atuação internacional, que movimenta milhões de reais todos os meses, conta com milhares de membros e possui rigidez nos negócios e na hierarquia interna. A descrição do PCC (Primeiro Comando da Capital) lembra a de uma multinacional bem-sucedida.

Com atuação em quase todo o território brasileiro, mais de 30 mil membros e movimentação financeira que já ultrapassa R$ 1 bilhão, o PCC é uma das principais organizações criminosas da América do Sul.

A facção voltou a chamar atenção depois que vieram à tona detalhes sobre a morte de um suposto "jurado" do tribunal do crime do PCC. Israel Costa da Sena Silva foi encontrado decapitado em Itaquera, na zona leste de São Paulo. Ao lado, havia um papel com a inscrição "ganso" — na gíria dos criminosos, "ganso" significa informante da polícia.

Ganso - Divulgação/Polícia Civil - Divulgação/Polícia Civil
Ganso foi recado deixado com a cabeça de suposto 'jurado' do PCC
Imagem: Divulgação/Polícia Civil

Os tribunais do crime — que decidem o destino de pessoas que infringem as regras da facção — são uma das muitas características do PCC.

Início e ataques de 2006

  • A facção foi fundada em agosto de 1993 na Casa de Custódia de Taubaté, no interior paulista, na esteira do massacre do Carandiru, de 1992, quando 111 presos da Casa de Detenção de São Paulo foram mortos pela PM após rebelião.
  • O PCC se estruturou a partir de maio de 2006, quando matou 59 agentes de segurança e comandou rebeliões em 74 presídios no estado de São Paulo.
  • O grupo também decretou toque de recolher em diversas regiões do estado.
  • Os ataques ocorreram em represália ao isolamento de presos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau.

Organização mafiosa

PCC - Divulgação - Divulgação
Acusados de integrar o PCC são detidos no Paraguai; ação da facção não se restringe ao Brasil
Imagem: Divulgação

Segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), a partir desse episódio a quadrilha adotou um rígido código disciplinar e uma estrutura de poder com escalões hierárquicos.

Para muitos, o PCC já pode ser considerado uma máfia. Uma das pessoas que encara a organização criminosa dessa maneira é o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, responsável pela investigação da facção.

Ele falou, em entrevista no ano passado à Band, que o que faltava para o PCC se tornar uma organização mafiosa era a lavagem de dinheiro no exterior — o que já vem acontecendo. As finanças da facção cresceram nos últimos anos.

Faturamento em alta

cotidiano - Reprodução - Reprodução
PCC submete pessoas ao "tribunal do crime" em São Paulo, onde decide quem vive e quem morre
Imagem: Reprodução
  • Documentos de 2004 e 2019 apreendidos com tesoureiros e contadores do PCC mostram que a movimentação financeira da facção criminosa aumentou praticamente 160 vezes em apenas 15 anos.
  • De setembro de 2004 a junho de 2005, a movimentação era de R$ 6,2 milhões (média de R$ 688 mil por mês). A cifra subiu para cerca de R$ 1 bilhão entre abril de 2018 e julho de 2019 (média de R$ 66 milhões por mês).
  • Ao menos 20 réus foram acusados de movimentar R$ 1,2 bilhão do PCC de janeiro de 2018 a julho de 2019.
  • Um braço financeiro do PCC é acusado de ter movimentado R$ 32 bilhões em quatro anos, segundo processo na Justiça Federal.

Segundo o Gaeco — grupo do MP-SP especializado em crime organizado — e a Polícia Federal, além de empresas de fachada, o PCC lava capitais comprando:

  • Aeronaves;
  • Imóveis de luxo;
  • Coberturas em balneários;
  • Veículos importados.

A facção também investe em postos de combustíveis e em criptomoedas, em nome de laranjas. Contrata doleiros para cuidar da lavagem de dinheiro e chegou a montar casas-cofre para esconder a grana. O PCC adquiriu ainda veículos blindados com compartimentos secretos para transportar altas quantias de dólares e reais.

Onde o PCC atua?

  • Em boa parte do território nacional, comandando o crime organizado em diversos estados, de norte a sul do Brasil, incluindo São Paulo.
  • Também faz alianças e recruta membros em estados onde tinha pouca entrada, como o Rio Grande do Sul.
  • Tem ligações com vários grupos criminosos no exterior e envia toneladas de drogas para a Europa.
cotidiano - Reprodução - Reprodução
Carga de cocaína do PCC que teria sido desviada por policiais de São Paulo
Imagem: Reprodução

Departamentos de inteligência e de segurança do Brasil detectaram ao menos 387 integrantes da facção paulista em outros 16 países. Relatório federal mostra que há pessoas batizadas pelo PCC nos Estados Unidos, em oito países da América do Sul, além do Brasil, e em outros sete na Europa.

Além desses integrantes identificados, a facção também trabalha com sócios em outros países, incluindo alguns na África e na Ásia.

Quem comanda o PCC?

Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, é apontado como o líder máximo do PCC. Ele está preso em uma penitenciária de segurança máxima em Porto Velho.

Marcola - Rogério Cassimiro/Folhapress - Rogério Cassimiro/Folhapress
08.jun.2006 - Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder do PCC
Imagem: Rogério Cassimiro/Folhapress

Marcola foi alvo, em agosto do ano passado, de uma operação deflagrada pela Polícia Federal para desarticular um plano de resgate. A facção pretendia resgatar Marcola e outros líderes. O grupo também planejava sequestrar autoridades em troca da soltura de presos.

Até abril de 2022, Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, era apontado como a principal liderança do PCC nas ruas, mas acabou sequestrado pela própria facção na Bolívia e excluído da organização criminosa pelo chamado "tribunal do crime", sob a acusação de ter mandando assassinar integrantes do grupo contra a vontade de outros líderes.

Hoje, Patric Uelinton Salomão, o Forjado, Francisco Antônio Cesário da Silva, o Piauí, Sérgio Luiz de Freitas Filho, o Mijão, e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, são alguns dos nomes que comandam a facção fora das cadeias.