Calibre restrito liberado por Bolsonaro é arma mais recadastrada por CACs

O calibre 9 milímetros foi a munição mais recadastrada por CACs (Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores) após o decreto do governo Lula (PT) que reverteu as flexibilizações para a compra de armas feitas na gestão de Jair Bolsonaro (PL).

O que aconteceu

Os calibres 9 mm, .22 LR, 12 e .357 Mag formam o topo do ranking. Os números foram obtidos pelo UOL por meio da Lei de Acesso à Informação.

O governo Lula impôs o recadastramento das armas na tentativa de fazer uma limpa nos atiradores irregulares. A fiscalização também mudou de mãos: passou a ser feita pela Polícia Federal, e não mais pelo Exército.

Homens têm mais armas que mulheres. O público masculino corresponde a 96,7% daqueles que fizeram o recadastramento. As mulheres são 3%. Entre as profissões mais frequentes estão administrador, comerciante, produtor agropecuário e até motoristas de caminhão.

Recadastramento totalizou mais de 900 mil registros. Os números se referem aos CACs que compraram armas a partir de 7 de maio de 2019, quando Bolsonaro alterou o decreto e facilitou a aquisição de armas. Eles tiveram até maio de 2023 para legalizar o registro com a PF.

Imagem
Imagem: Arte/UOL

Queridinha dos CACs e do crime organizado

Antes de Bolsonaro, a munição de 9 mm era de uso restrito para policiais e Forças Armadas. Criada pelo engenheiro austríaco Georg Luger, esse tipo de munição é normalmente usado por forças de segurança e para defesa pessoal em outros países.

A munição 9 mm é um calibre multifuncional. Pode ser usado em pistolas, carabinas e submetralhadoras.

Continua após a publicidade

Seu preço também é mais acessível. A bala é um pouco mais pesada do que outras munições, por isso tem um poder de penetração maior.

Os tiros geram um "coice" (tecnicamente chamado de "recuo") mais leve. É o que faz com que ela seja mais escolhida para defesa pessoal e amada pelos CACs.

Ela também é uma das preferidas do crime organizado por poder ser adaptada para disparos automáticos com dezenas de tiros num mesmo carregador. Reportagem do site The Intercept Brasil entrevistou armeiros do Rio que contaram preferir pistolas 9 mm pela versatilidade.

Criminosos têm preferido pistolas 9 mm quando são adaptadas para 'kit rajadas' justamente por sua maior acessibilidade e barateamento. Um fuzil no mercado ilícito custa R$ 60 mil. Uma pistola 9 mm com 'kit rajada' consegue ser adquirida por R$ 10 mil.
Roberto Uchôa, policial federal e pesquisador da área de segurança pública

Quando o governo torna determinados calibres restritos, ele não busca impedir o acesso da população à defesa. É uma forma de combater a facilidade de aquisição de armas de fogo.

Imagem
Imagem: Arte/UOL
Continua após a publicidade

Ser CAC facilitou porte de arma

Obter certificado de registro para se tornar um CAC virou um "jeitinho" de ter uma arma. Por outro lado, prejudicou os atiradores esportivos, que passaram a conviver com regras mais restritivas.

Como o governo não conseguiu liberar o porte para o civil como um todo, usou-se o caminho do tiro esportivo. Vendeu-se a ideia de que eu sendo atirador desportivo podia portar minha arma. Só precisava dizer que estava indo treinar ou participar de uma competição.
Jasiel Antônio Silva, atirador esportivo e funcionário público, sobre o aumento dos CACs

Deixe seu comentário

Só para assinantes