Fator humano é causa de quase 80% dos acidentes de helicóptero em 11 anos
Quase 80% dos acidentes envolvendo helicópteros ocorridos no Brasil de 2013 a 2023 tiveram a ação humana como fator preponderante, segundo dados do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
O que aconteceu
Por fator humano compreende-se tanto o desempenho técnico humano como aspectos psicológicos. Juntos, correspondem a 78,7% das causas de acidentes no período.
Foram 47,7% das ocorrências atribuídas ao desempenho técnico humano no período. Nessa categoria, estão englobados fatores como julgamento de pilotagem, aplicação de comandos, indisciplina de voo, pouca experiência do piloto e manutenção da aeronave.
Aspectos psicológicos aparecem na sequência e correspondem a 31% dos acidentes — categoria na qual estão incluídas questões como processo decisório do piloto e capacitação e treinamento.
Elementos envolvendo o ambiente de operação, como mau tempo, totalizam 9% das causas dos acidentes. No caso da queda que matou quatro pessoas em São Paulo, a investigação está em curso. Uma das passageiras relatou em vídeo que havia "muita neblina". Segundo Gerardo Portela, especialista em gerenciamento de risco, o modelo da aeronave não era recomendável para voar nessas condições.
Brasil teve 1.757 acidentes aéreos em 11 anos. Entre 2013 e 2023, 191 (cerca de 10%) envolveram helicópteros e a maioria — 1.273 (72%) — aviões. Os dados do Cenipa contemplam vários tipos de aeronaves — além de helicóptero e avião, há anfíbio, balão, dirigível, girocóptero, hidroavião, planador, trike e ultraleve.
Os 191 acidentes com esse tipo de aeronave resultaram na morte de 124 pessoas. O número equivale a cerca de 16% das 787 mortes decorrentes de acidentes aéreos. Neste mesmo período, 520 pessoas morreram em acidentes de avião, valor correspondente a 66% das mortes.
O estado de São Paulo concentrou 43 desses acidentes. Segundo estatísticas da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), mais de 2.000 helicópteros circulam pelo país. A capital paulista tem a maior frota de aeronaves do mundo —mais de 410 registradas e cerca de 2.200 pousos e decolagens diários.
Quem são as vítimas do acidente em SP
Luciana Rodzewics, 46; a filha dela, Letícia Ayumi Rodzewics Sakumoto, 20, e Raphael Torres, 41, amigo da família. Foi Raphael quem as convidou para o passeio, segundo Silvia Santos, irmã de Luciana. A aeronave era pilotada por Cassiano Tete Teodoro.
Piloto tinha "histórico de irregularidades". Teodoro estava sem licença para operar táxi aéreo —não se sabe, contudo, se no voo ele prestava esse serviço. Teodoro tinha apenas a habilitação pessoal para voar. Ele chegou a ter essa licença cassada em setembro de 2021, após fugir de uma fiscalização, mas recuperou o documento em outubro de 2023, após fazer cursos. À Folha, a defesa dele diz que houve punição indevida.
O helicóptero modelo Robinson R44 desapareceu na véspera do Réveillon. A aeronave saiu do aeroporto Campo de Marte, na zona norte da capital paulista, com destino a Ilhabela, no litoral, para um bate e volta. De acordo com a PM, o helicóptero decolou às 13h15 e fez o último contato às 15h10.
Helicóptero fez um pouso de emergência antes de desaparecer. Mensagens às quais o UOL teve acesso mostram que Letícia enviou imagens e relatou a situação ao namorado. Ele questionou onde o helicóptero estava, ao que a jovem respondeu: "Sei lá, amor. Tô parada no meio do mato".
A aeronave foi localizada na sexta-feira (12) pelo helicóptero Águia 24, da PM. Militares desceram de rapel para verificar os destroços. Segundo o delegado Paulo Sérgio Campos Mello, os corpos estavam ao lado da aeronave. A equipe de perícia investiga a causa das mortes.
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