PM mata 1 a cada 15 h no litoral; ação é a mais letal de SP desde Carandiru

Com média de uma morte a cada 15 horas, a ação da PM que já matou 31 pessoas em 19 dias em fevereiro, na Baixada Santista, é a mais letal da corporação desde o massacre do Carandiru, em 1992.

O que aconteceu

Como foi a 31ª morte. O caso foi registrado na madrugada de ontem (21), em Santos. Segundo a PM, dois homens abriram fogo contra os agentes, que revidaram. Um deles conseguiu fugir. Baleado, o outro suspeito foi socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.

Mortes de suspeitos começaram após assassinato de soldado da Rota. A ação da PM na Baixada Santista teve início em 3 de fevereiro, após o assassinato, em Santos, de um integrante da tropa de elite da corporação. O soldado Samuel Wesley Cosmo morreu horas após levar um tiro no olho quando fazia patrulhamento no bairro Rádio Clube. Cinco dias depois, o cabo da PM José Silveira dos Santos foi baleado no abdômen e também morreu. Já o soldado Marcelo Augusto da Silva fora morto a tiros na madrugada do dia 26 de janeiro, na interligação da rodovia Anchieta-Imigrantes, em Cubatão.

Maior saldo de mortes desde o Carandiru. A operação é a mais violenta desde o massacre do Carandiru, que terminou com a morte de 111 detentos após uma rebelião no presídio, há 31 anos.

Mais violência que na Operação Escudo. A ação da PM na Baixada ultrapassou a Operação Escudo, concluída em setembro de 2023 com 28 mortes em 40 dias, na mesma região. Ambas as ações foram desencadeadas após a morte de PMs.

Versão repetida de que o suspeito foi socorrido e morreu a caminho do hospital reforça a suspeita de especialistas de alteração de cena de crime, já que não é possível fazer perícia para determinar como foi a ação sem o corpo no local. "Não é possível analisar a posição do corpo e discutir a possível trajetória de disparos", diz Cássio Thyone Rosa, perito criminal aposentado e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Denúncia de abusos. Moradores ouvidos pelo UOL nos últimos dias denunciam abusos da PM, com relatos de alteração da cena do crime.

A SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) diz que todos os casos são investigados pela Polícia Civil e acompanhados pelo Ministério Público. "A Corregedoria [da PM] está à disposição para receber denúncias sobre a atuação do trabalho policial", diz a pasta, em nota.

Sangue lavado e câmera quebrada

Entre as denúncias de moradores, há um vídeo que mostra sangue sendo lavado e escorrendo de uma casa, sob o olhar de PMs. "Tem que lavar a casa, é?", pergunta uma moradora. De costas para o imóvel e de frente para uma viatura, um dos agentes faz sinal de positivo com a cabeça, enquanto o sangue escorre próximo aos seus pés.

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Testemunhas dizem que sangue foi lavado de dentro da casa onde um homem foi morto na terça-feira (20). Elas relataram ter presenciado os policiais militares limpando o sangue do chão após os tiros que mataram o ajudante de pedreiro Alex Macedo Paiva, 30. "Era muito sangue. A gente levantou o tapete da casa e o sangue escorria dele", disse uma mulher.

Moradores contestam versão da SSP. A secretaria diz que a limpeza foi feita por um morador e só depois da chegada de peritos. Moradores contradizem essa versão, alegando que peritos não foram ao local.

Câmera quebrada por policiais. A ação da PM na Baixada Santista tem denúncia de câmera de vigilância quebrada pelos próprios agentes na segunda-feira (19). A imagem registra cinco PMs em um bairro no Guarujá. Um deles usa um gradil de ferro como escada para alcançar o equipamento. Em seguida, um colega de farda inutiliza a câmera com um pedaço de madeira.

SSP diz que câmeras eram de criminosos e que equipamentos eram utilizados para "monitorar as atividades ilícitas e a chegada das forças policiais à comunidade", em nota enviada ao UOL.

Ouvidoria das polícias de SP investiga casos. As imagens de ambos os casos foram encaminhadas pelo UOL para o órgão. "Denúncias dessa ordem avolumam-se em nossos canais, sempre que recrudescem os métodos utilizados pela polícia em operações como esta", diz trecho de nota encaminhada pelo ouvidor Cláudio Silva.

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