Josmar Jozino

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Reportagem

Racha no PCC gera tensão em prisões de SP e detentos pedem transferência

O racha interno no PCC (Primeiro Comando da Capital) gera tensão no sistema prisional paulista. Advogados preparam petições para solicitar à Justiça prisão domiciliar ou até mesmo a transferências de seus clientes para presídios considerados neutros — aqueles onde não há integrantes de facções criminosas.

O clima de aflição nos presídios do estado teve início na sexta (16) quando veio a público a confirmação de um conflito entre Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, e três outros integrantes da cúpula da organização criminosa. Todos eles estão recolhidos na Penitenciária Federal de Brasília.

Segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), os presos Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, chamaram Marcola de delator e, além de excluí-lo do PCC, decretaram a morte dele.

Em contrapartida, integrantes da "sintonia final" do PCC, fiéis a Marcola, acusaram Tiriça, Vida Loka e Andinho por calúnia e traição e divulgaram um "salve" (comunicado) anunciando que os três já não fazem mais parte da facção e estão jurados de morte.

Detentos de unidades prisionais de Osasco, na Grande São Paulo, de Jundiaí e de Campinas, no interior, ligados a Tiriça, Vida Loka e Andinho manifestaram aos seus advogados o desejo de transferência para presídio neutro na região de Presidente Prudente — por medo de uma carnificina.

Defensores ouvidos pela reportagem revelaram que estão preparando as petições para protocolar os pedidos de transferência dos clientes nas respectivas Varas das Execuções. Os criminalistas pediram para não ter os nomes divulgados porque temem represálias do crime organizado.

Nas ruas da capital, interior e litoral, pessoas com algum vínculo com esses três presos também pensam em mudar de endereço. Algumas delas conversaram com a reportagem e disseram esperar pelo pior, pois o racha no PCC é o maior da história e deve gerar um conflito sangrento.

A guerra interna mais violenta do PCC aconteceu em 2002, quando Marcola assumiu a liderança máxima do PCC. José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz, Silva, o Cesinha, fundadores da facção, foram excluídos e acusados por traição. Dezenas de aliados de ambos foram mortos nas prisões.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos presos envolvidos no conflito. O espaço permanece aberto para manifestações.

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Áudio vazado

O desentendimento entre os líderes teve início em junho de 2022, quando Marcola, tido como o número 1 do PCC, disse a um policial penal na Penitenciária de Porto Velho (RO), em uma conversa informal, que Tiriça era psicopata.

O diálogo foi gravado e o áudio acabou usado por promotores no júri que condenou Tiriça a 31 anos e seis meses pelo assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), morta a tiros em maio de 2017 em Cascavel (PR).

Inconformado com a condenação e com o vazamento do áudio no tribunal, Tiriça chamou Marcola de delator. Vida Loka e Andinho, que chegaram a trocar socos no pátio do banho de sol da Penitenciária Federal de Brasília em meados do ano passado, ficaram do lado de Soriano.

No "salve" divulgado aos faccionados no último dia 15, a "sintonia final" do PCC informou que o áudio do diálogo de Marcola com o agente penal foi analisado e a conclusão é que foi apenas uma conversa de um criminoso com um policial e que o líder máximo do PCC não fez nada errado.

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Nas ruas e no sistema prisional do estado de São Paulo, onde o PCC nasceu e se expandiu, a versão que prevaleceu foi a da "sintonia final", inocentando Marcola da acusação de delator.

Na avaliação da "sintonia final", Tiriça, Vida Loka e Andinho foram considerados culpados porque infringiram os artigos 6 e 9 do estatuto do PCC, que proíbem a calúnia e a traição. O documento diz que o preço para os faccionados que desrespeitam essas regras é a morte.

Reportagem

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