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PF mira acusados de fundar milícia, e filha candidata fala em perseguição

12.nov.2020 - Carminha Jerominho posta foto com o tio, o ex-policial Natalino José Guimarães, alvo de ação da PF - Reprodução/Arquivo Pessoal
12.nov.2020 - Carminha Jerominho posta foto com o tio, o ex-policial Natalino José Guimarães, alvo de ação da PF Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

12/11/2020 14h37

Acusados de fundar a antiga Liga da Justiça, grupo paramilitar surgido na zona oeste do Rio que se tornou uma das maiores organizações criminosas do país nos últimos anos, os irmãos Jerominho e Natalino Guimarães foram alvo hoje de manhã de mandado de busca e apreensão da Polícia Federal. A ação visa apurar suposta prática de organização criminosa e lavagem de dinheiro ligados a crimes eleitorais.

Foram cumpridos 12 mandados em casas, comitês de campanha e empresas ligadas aos investigados. Segundo a PF, integrantes da milícia estariam mirando cargos no Legislativo e no Executivo para retomar poder na zona oeste do Rio. Ao UOL, Carminha Jerominho (PMB), filha de Jerominho e candidata a vereadora, fala em perseguição política a três dias do pleito. Segundo ela, que também é investigada, foram feitas apreensões no seu comitê de campanha.

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Imagem: Medo e demência/UOL

Capítulo 1 - Mais de dez 'candidatos das milícias' são investigados por proibir a presença de rivais em seus territórios e coagir eleitores

Capítulo 2 - Mesmo atrás das grades, bombeiro acusado de chefiar milícia e investigado por homicídio busca reeleição para vereador

Capítulo 3 - Ministério Público do Rio apura se plano de poder do Bonde do Ecko motivou assassinato de candidato suspeito de integrar milícia

Capítulo 4 - Grupos são acusados de cobrar 'taxa eleição' para bancar campanhas, comprar votos e cometer homicídios com motivação política

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Imagem: medo e demência/UOL

A PF constatou movimentações financeiras atípicas de mais de R$ 1 milhão no começo do ano. De acordo com a investigação, o grupo é suspeito de usar restaurantes e farmácias para lavagem de dinheiro usado para financiar campanhas.

Sem citar nomes, a PF informou que dois investigados já foram presos em operações anteriores e não poderiam concorrer por causa da Lei da Ficha Limpa. Contudo, apoiaram a candidatura de parentes para dar início a um plano de retomada do poder político na zona oeste do Rio.

A PF informou ter apreendido R$ 141 mil em dinheiro e outros US$ 2,5 mil em um dos alvos da ação batizada de Sólon. Em outro endereço, os agentes encontraram R$ 180 mil. A PF não divulga os nomes dos alvos, mas Carminha confirmou que os agentes foram em endereços ligados à família Jerominho.

Ela negou contudo ter havido apreensão de dinheiro nesses locais, informação endossada pelo próprio Jerominho em vídeo publicado hoje nas redes sociais.

Segundo Carminha, só foram apreendidos os celulares do policial civil aposentado e ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, e do seu irmão mais novo, o ex-policial civil e ex-deputado estadual Natalino José Guimarães.

"É inacreditável o que está acontecendo. Isso é perseguição política, só para desestabilizar a campanha. E nada encontraram. Os meus adversários políticos estão preocupados, porque eu vou ganhar a eleição", disse Carminha.

Em vídeo gravado em um galpão com cerca de 50 apoiadores, Jerominho se posicionou sobre a ação. "Os adversários estão apavorados com o crescimento da minha filha. Ela vai ganhar e vai ter a votação maciça da zona oeste. Preciso do apoio de todos vocês nessa luta", disse.

Jerominho disse ser favorável à política de abate

Em entrevista ao UOL em fevereiro, Jerominho revelou a intenção de ser prefeito do Rio e se referiu ao surgimento dos grupos paramilitares como "reação ao esculacho", em alusão à atuação de traficantes na área.

Na época, disse ainda ser favorável à política de abate de Wilson Witzel (PSC), governador afastado do Rio. Condenados por formação de quadrilha, Jerominho e Natalino foram soltos em outubro de 2018 após cumprirem dez anos de prisão.

Com mais de 300 mil habitantes, Campo Grande é o bairro mais populoso do país. Localizado a 48 km do centro, possui o batalhão da PM-RJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) com o menor efetivo da capital, na relação com o número de moradores.

'Minha campanha é pobre', diz Carminha

Carminha disse que ficou sabendo da ação pela televisão, por volta das 6h. Em seguida, foi até a casa do pai. A candidata disse que todos os gastos foram encaminhados a um contador, que irá prestar contas até o fim da campanha.

"A minha campanha é pobre, mas as pessoas não acreditam. A gente só faz barulho mesmo, com alguns voluntários nas comunidades. Meu pai e meu tio são lideranças políticas inquestionáveis", disse ao UOL.

Informações divulgadas na plataforma DivulgaCand apontam que ela recebeu R$ 83.100 —R$ 50.00 doados pela direção nacional do seu partido, R$ 33.100 de pessoas físicas e R$ 2.100 de outros recursos não informados. Até o momento, desembolsou R$ 17.000 em adesivos, R$ 3.600 em atividades de militância, R$ 3.200 em publicidade, R$ 3.000 em serviços contábeis e R$ 2.100 em outras despesas, totalizando um gasto superior a R$ 27.000.

Carminha também reclamou do prejuízo causado para a sua campanha devido à apreensão dos celulares de Jerominho e Natalino.

"O celular é hoje a principal ferramenta de campanha, porque conseguimos atingir muita gente pelas redes sociais e listas de transmissão no WhatsApp. Com a apreensão, incapacitaram o meu pai e o meu tio de fazer campanha", lamentou.

Movimentações financeiras atípicas, diz PF

Segundo a PF, foi possível verificar "movimentações financeiras atípicas nas empresas ligadas aos investigados, sendo que tais valores possivelmente seriam destinados nos gastos de campanhas eleitorais", em levantamento feito com base em análise de relatórios de inteligência financeira.

Os mandados foram expedidos pela 16ª Zona Eleitoral, especializada em crimes praticados por organização criminosa, lavagem de dinheiro e outros ilícitos conexos a crimes eleitorais.

Não houve prisões em razão da lei que proíbe o cumprimento de mandados de prisão de candidatos a menos de 15 dias para o pleito e de eleitores a menos de cinco dias da votação, no domingo (15).