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Corrupção, casamento, cola: em que a sabatina de Bolsonaro repetiu 2018

Do UOL, em São Paulo

23/08/2022 04h00

A entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao "Jornal Nacional" (TV Globo), ontem à noite, teve semelhanças com a que ele concedeu à emissora há quatro anos.

Além de repetir gestos e fazer declarações parecidas, Bolsonaro voltou a trazer uma "cola" na palma das mãos e a ter momentos ásperos com os jornalistas William Bonner e Renata Vasconcellos, apresentadores do telejornal.

Em uma entrevista mais longa —com duração de 40 minutos, contra 28 do encontro anterior—, o presidente não foi questionado sobre declarações antigas —como ficou marcado o encontro de 2018. Mas voltou a negar que tenha posturas antidemocráticas e reafirmou que seu governo não nomeia ministros por meio de indicações políticas.

Vai respeitar o sistema eleitoral? A primeira pergunta da sabatina ontem foi a respeito de ataques de Bolsonaro a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e ao sistema eleitoral. Bonner tentou obter do presidente um compromisso de que o resultado das eleições em outubro será respeitado. O presidente diz que respeitará o desfecho "desde que as eleições sejam limpas e transparentes".

Em 2018, o então candidato havia sido questionado sobre uma declaração do então candidato a vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), de que poderia haver uma intervenção militar no país. Em 2017, Mourão disse a um grupo de militares que, se os Poderes não achassem uma solução, os militares teriam que "impor essa solução".

Na sabatina de 2018, o então candidato afirmou que a fala de Mourão havia sido "um alerta", mas que "nós [ele e Mourão] não queremos nada pela força". Em seguida, citou um editorial do jornal O Globo defendendo o golpe militar de 1964, um entendimento que foi revisto pelo grupo de comunicação em 2013.

Corrupção no governo? Na sabatina de ontem, Bonner perguntou por que o chamado centrão tornou-se base do governo apesar de Bolsonaro, historicamente, ter criticado essa aliança entre o Executivo e o Legislativo. Em 2018, o assunto não foi abordado, mas Bolsonaro afirmou que era o único candidato com autonomia para nomear ministros sem indicações políticas.

Pode ter certeza, eu sou o único desses que estão aí com chance de chegar que vai ter isenção para escolher os seus ministros, não vai pedir bênção e nem vai estar preso a indicações políticas, que os ministros geralmente trabalham para os seus partidos políticos
Jair Bolsonaro, em sabatina ao Jornal Nacional em 2018

Bolsonaro sustentou, no encontro de ontem, que seu governo foi livre de corrupção e de indicações políticas. "Nós estamos num governo sem corrupção. Eu indiquei ministros pelo critério técnico. Eu não aceitei pressões de lugar nenhum para escalar ministros", disse o presidente.

Em contraponto, Vasconcellos citou a alta rotatividade de alguns ministérios de Bolsonaro, como o da Educação, em que ocupantes da pasta caíram por problemas como insulto a ministros do STF, mentiras no currículo e suspeitas de corrupção. Sobre esta última acusação, envolvendo o ex-ministro Milton Ribeiro, Bolsonaro negou que o episódio tenha sido um escândalo. "Cadê o duto do dinheiro vazando ali?", perguntou.

Na sabatina de quatro anos atrás, Bonner perguntou como Bolsonaro poderia se apresentar como "novo na política" tendo passado 27 anos no Congresso e colocado três filhos em cargos eletivos. Em resposta, o então candidato afirmou que sempre ficou distante dos cargos contaminados pela corrupção e que a família dele era "limpa na política".

"Vamos falar de economia?" Tanto em 2018 como ontem, o assunto da economia foi introduzido na entrevista por Bonner para encerrar uma discussão anterior.

Quatro anos atrás, Bolsonaro havia atacado a Globo ao ser questionado por ter recebido auxílio-moradia mesmo tendo imóvel próprio. Ele afirmou que a prática era legal, assim como uma suposta "pejotização" da emissora na contratação de funcionários.

Já em 2022, o assunto economia foi levantado para encerrar uma discussão sobre a postura do governo no combate à pandemia. Na pauta econômica, Bolsonaro foi questionado sobre a piora de indicadores como a inflação, a taxa de juros e o preço do dólar. Em resposta, atribuiu os números a fatores externos, como a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Cola na mão Há quatro anos, o presidente foi a um debate da Rede TV! com as palavras "pesquisas", "armas" e "Lula" escritas na mão. Os tópicos eram uma "cola" com tópicos a serem abordados no programa. Dias depois, Bolsonaro repetiu o expediente na sabatina do Jornal Nacional, desta vez com os dizeres "Deus", "Família" e "Brasil".

Ontem, Bolsonaro voltou a aparecer com palavras na palma da mão, mas as palavras pareciam ser mais um recado do que uma cola. O presidente escreveu "Nicarágua", "Argentina", "Colômbia" e "Dario Messer". Em nenhum momento, esses tópicos foram mencionados por ele ao longo dos 40 minutos de sabatina.

"Casamento" Tanto em 2018 como nesse ano, o presidente recorreu a uma analogia entre alianças políticas e casamento. Na primeira entrevista, ele foi questionado sobre o que faria se o escolhido para a área econômica, Paulo Guedes, decidisse abandonar o governo. O então candidato disse que não havia plano B.

"Bonner, é quase que um casamento. Eu estou namorando o Paulo Guedes há algum tempo e ele a mim também. Nós, Bonner, somos separados. Até o momento da nossa separação, nós não pensamos numa mulher reserva para isso. Se isso vier a acontecer, por vontade dele ou por uma vontade minha, paciência", disse.

Na sabatina deste ano, Bolsonaro usou a analogia com o matrimônio ao falar sobre as quedas sucessivas de ministros da Educação. "As pessoas se revelam quando chegam. Atualmente, eu tenho um excelente ministro da Educação. Acontece. Igual a um casamento, muitas vezes", respondeu.