Topo

Engavetador, bobo da corte e time de Bonner: o que Lula disse no JN

Do UOL, em São Paulo

25/08/2022 23h09Atualizada em 25/08/2022 23h37

Líder nas pesquisas eleitorais para a Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi entrevistado no Jornal Nacional, da TV Globo, na noite desta quinta (25). Ele é o terceiro presidenciável ouvido na série de sabatinas realizadas pelo telejornal nesta semana.

A entrevista durou 40 minutos e tratou de temas como corrupção, Lava Jato, lista tríplice da PGR (Procuradoria Geral da República), equívocos do governo Dilma Rousseff (2011-2016) e a relação com o candidato a vice de sua chapa, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB).

Como costuma fazer em discursos e conversas, o petista utilizou metáforas futebolísticas —inclusive questionando para qual time torce o âncora William Bonner.

O UOL separou 11 declarações do ex-presidente Lula que chamaram a atenção durante a entrevista:

Moro condenado. Crítico da Lava Jato, Lula afirmou que a operação foi ganhando conotação cada vez mais política com o objetivo de condená-lo. O petista aproveitou para criticar o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), que foi considerado parcial no julgamento.

Não sei se você está lembrado que no primeiro depoimento que eu fui dar ao Moro, eu falei: 'Moro, você está condenado a me condenar, porque você já permitiu que a mentira foi longe demais, e você sabe do que eu estou falando'. E aconteceu exatamente o que eu previa."

Nas redes sociais, Moro criticou as respostas do ex-presidente.

Engavetador. Lula também aproveitou a entrevista para alfinetar Augusto Aras, indicação do presidente Jair Bolsonaro (PL) para o cargo de procurador-geral da República —o nome de Aras não constava na lista tríplice divulgada pela ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República).

Eu poderia ter escolhido um procurador engavetador. Sabe aquele amigo que você escolhe que nenhum processo vai para frente? Eu poderia ter feito isso. Eu escolhi da lista tríplice."

No mês passado, o presidente da ANPR afirmou que Aras é visto como "advogado de Bolsonaro" pela quantidade de processos contra o ex-presidente que já foram arquivados.

Pulga atrás da orelha. Ainda em menção a Augusto Aras, Lula foi questionado pela apresentadora Renata Vasconcellos sobre o motivo pelo qual tem evitado responder se, caso eleito, irá respeitar a lista tríplice no ano que vem, quando termina o mandato do atual PGR.

Na resposta, o petista admitiu que se trata de uma provocação, mas afirmou que primeiro precisa sair vitorioso nas eleições.

Porque eu quero que ele fique com uma pulguinha atrás da orelha. Não quero definir agora o que eu vou fazer."

Erro de Dilma. Lula defendeu Dilma e suas políticas econômicas ao longo da entrevista, mas afirmou que o "equívoco" dela ocorreu "na questão da gasolina", sem dar muitos detalhes. Durante o processo de impeachment, a petista foi criticada pelos valores do combustível no início de seu segundo mandato.

A Dilma cometeu equívoco na questão da gasolina. Ela sabe que eu penso isso, cometeram equívoco na hora que fizeram R$ 540 bilhões de desonerações."

Substituto de Bonner. Também comentando sobre o "equívoco" de Dilma, Lula foi questionado por William Bonner se os erros da ex-presidente não eram fruto de decisões coletivas adotadas por uma ala política do PT —o que inclui o próprio Lula.

O petista apelou para uma expressão popular para afirmar que, enquanto Dilma foi presidente, ele não tinha influência sobre as decisões de sua sucessora.

Se um dia entrar alguém no teu lugar para fazer o 'Jornal Nacional'? (...) Você vai perceber o que é rei morto, rei posto. Você vai descobrir. Ou seja, quando você deixa o governo, quem ganha vai governar do jeito que entender. Quem está de fora não vai mandar."

Mensalão ou orçamento secreto? Quando indagado sobre o escândalo de corrupção durante o governo petista conhecido como mensalão, que veio à tona em 2005, Lula rebateu Renata com outra pergunta: se o mensalão é pior do que o orçamento secreto.

Você acha que o Mensalão, que tanto se falou, é mais grave do que o orçamento secreto?"

Nesta resposta, Lula usou estratégias de campanha:

  • Comparar aspectos do governo Bolsonaro com a sua gestão (2003-2010).
  • Criticar o "tratamento desproporcional aos casos".

Bobo da corte. Em uma das várias críticas sobre Bolsonaro, Lula chamou o atual presidente de "bobo da corte", disse que ele "acabou o presidencialismo" no país, que "não manda nada" e é "refém do Congresso Nacional".

O Bolsonaro parece o bobo da corte. Ele não coordena orçamento. Veja que engraçado, acabou de aumentar o auxílio emergencial para R$ 600, correto? Ele queria R$ 200, a gente queria R$ 600. Ele mandou R$ 500, agora mandou R$ 600. Até quando? Até dia 31 de dezembro."

Inveja de Alckmin. Lula disse a Bonner sentir inveja do tratamento recebido por Alckmin dentro do PT. A fala foi uma resposta a uma questão de Bonner —o jornalista disse que uma ala do PT que ainda não aceitou a presença do pessebista na chapa.

"O que o senhor diria para esses militantes do PT que ainda se recusam a aceitar Alckmin depois das trocas de acusações pesadas que os senhores fizeram ao longo de alguns anos na política?", perguntou o âncora.

Bonner, nós não estamos vivendo no mesmo mundo. Eu estou até com ciúme do Alckmin. Você tem que ver que sujeito esperto."

O petista acrescentou que o ex-governador paulista foi "aplaudido de pé" quando foi apresentado ao PT e que já foi aceito no partido "de corpo e alma".

Metáforas clássicas. Ao falar sobre a polarização no cenário político, Lula utilizou uma metáfora de futebol —como sempre faz— para falar sobre o papel da militância petista e a comparou a uma "torcida organizada". Foi quando ele questionou ao apresentador William Bonner, que é são-paulino, se ele já foi a algum estádio.

[Lula]: Você já foi em campo de futebol? Você torce para algum time?
[William Bonner]: Não nesse momento.

Eu já fui junto com esses companheiros. É nós e eles, a torcida do Vasco é nós, e a do Flamengo é eles."

Porquinho orgânico. Defensor da agricultura familiar do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), Lula aproveitou para dizer que em seu governo haverá espaço tanto para os produtores pequenos como para os empresários do agronegócio.

"Porque, para mim, o pequeno produtor rural, o médio produtor rural têm que viver pacificamente com os grandes negócios; o Brasil tem possibilidade de ter os dois. Um produz mais internamente, o outro produz mais externamente", afirmou.

Ou seja, eu digo sempre o seguinte: o Blairo Maggi [ex-ministro do governo de Michel Temer], que é o maior plantador de soja do Brasil, talvez ele não crie a galinha caipira que ele gosta de comer. Talvez ele não crie o porquinho orgânico que ele gosta de comer."

Cada um no seu quintal. A pergunta final do JN foi sobre a relação dos governos petistas com as ditaduras de esquerda da América Latina. Lula declarou que não pretende interferir em políticas de outros países.

Primeiro, para um democrata, a gente precisa respeitar a autodeterminação dos povos. Cada país cuida do seu nariz."

Veja análise da entrevista de Lula no Jornal Nacional com os colunistas do UOL:

Veja tudo o que rolou na cobertura da entrevista de Lula no Jornal Nacional e as análises dos colunistas do UOL.