Toledo: Com medo de candidatura brochar, Bolsonaro obtém Viagra eleitoral
O feriado de 7 de Setembro foi marcado como o "dia do Bolsonaro", na avaliação do colunista do UOL José Roberto de Toledo. A menos de um mês do primeiro turno das eleições, o presidente da República transformou o Dia da Independência em comício nas três principais cidades do país: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
"Todos os balanços das redes sociais estão mostrando que Bolsonaro usou muito bem a expectativa que ele próprio criou de que poderia fazer algo antidemocrático, mais explícito, uma tentativa de golpe. Conseguiu com que todas as câmeras se voltassem para ele, com transmissão ao vivo em vários canais. Ele surfou essa onda de superexposição", disse Toledo.
O jornalista afirmou que Bolsonaro acabou não entregando o que se temia, que era o discurso mais golpista, embora tenha deixado isso nas entrelinhas. "Ele transformou um ato cívico com recurso público num ato da sua campanha", opinou.
"Não acredito que ele tenha ganhado novos eleitores, mas consolidou aquilo que já tinha e a palavra do dia que é 'imbrochável' reflete bem o que era o estado de espírito antes desse dia, que era o medo de que a sua candidatura brochasse. E, por enquanto, graças à essa superexposição, ele conseguiu um Viagra eleitoral", concluiu.
Datafolha x datapovo: Por que não dá para comparar pesquisa e manifestação
Repercutindo a fala de Bolsonaro sobre o instituto Datafolha ser "mentiroso", Toledo afirmou que o presidente já estava se "vacinando" para a má notícia que vai receber com a próxima pesquisa eleitoral que sairá nesta semana.
Em discurso em Brasília durante a comemoração do 7 de Setembro, Bolsonaro afirmou que as pessoas presentes "eram o verdadeiro resultado" de pesquisas eleitorais. "Nunca vi um mar tão grande aqui, com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a mentirosa Datafolha, aqui é o nosso 'Datapovo'. Aqui a verdade, aqui a vontade de um povo honesto, livre e trabalhador", disse Bolsonaro.
"[Bolsonaro] vai continuar atrás do Lula [na próxima pesquisa Datafolha]", afirmou Toledo. "É um discurso que ele faz e a extrema-direita faz no mundo inteiro há muitos anos. Um trabalho de desacreditar não só os institutos e as medições científicas, como a imprensa de modo geral, criando a sua própria mídia através das redes sociais e mentindo sem parar e sem contestação", acrescentou.
Fala do presidente é sintoma de masculinidade frágil, diz Sâmia Bomfim
Em participação no UOL News, a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) criticou a fala de Bolsonaro em relação às mulheres e associação com sua virilidade.
"O 'imbrochável' é evidente de uma masculinidade frágil, uma necessidade de afirmar um elemento de suposta virilidade, que nem deveria ser parte da discussão política ou do discurso de ninguém", disse.
"Aliás, recorrer a uma comparação entre as primeiras-damas ou tecer elogios sobre as características pessoais da Michelle Bolsonaro também não deveriam ser parte do script do 7 de Setembro ou qualquer outra data", completou.
"Bolsonaro é muito conhecido por ser machista ofensivo com mulheres, inclusive com jornalistas, mas também por ser o presidente que aplicou o pior orçamento da história em políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres."
O UOL News Especial reuniu análises e entrevistas sobre os atos de 7 de Setembro. Assista à íntegra:
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