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'Never limp': mídia internacional sofre para traduzir 'imbrochável'

7.set.2022 - O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ao lado do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, durante o desfile militar para comemorar o bicentenário da independência do Brasil, em Brasília - Mateus Bonomi/Mateus Bonomi/AGIF
7.set.2022 - O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ao lado do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, durante o desfile militar para comemorar o bicentenário da independência do Brasil, em Brasília Imagem: Mateus Bonomi/Mateus Bonomi/AGIF

Colaboração para o UOL, em Rio de Janeiro

07/09/2022 17h43

Na comemoração pelo Bicentenário da Independência do Brasil em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (PL) adotou tom de campanha, puxou gritos de "imbrochável" para si mesmo, sugeriu comparação entre as primeira-damas e terminou com um "uivo" seu discurso na Esplanada dos Ministérios.

A imprensa internacional manteve o foco de suas matérias em cima do machismo e do evento em si e encontrou dificuldade para traduzir o termo. Apesar disso, o jornal norte-americano "NY Times" incorporou o chavão ao seu vocabulário e classificou o termo como "um pouco vulgar". A tradução para o inglês, no entanto, ficou como 'never limp', que livremente significa 'nunca mole'.

A palavra, que não existe no dicionário e foi criada pelo próprio presidente para se referir a si mesmo como "aquele que não brocha", repercutiu e deu a cara do discurso marcado por frases machistas. Enquanto a imprensa brasileira está tratando o termo como ele deve ser tratado, ou seja, como um neologismo, quando alguém inventa uma expressão para caber em um significado já existente, a imprensa internacional encontrou dificuldades para traduzir a expressão e focou no machismo ou no evento em si.

O jornal norte-americano "Washington Post" ainda cita que Bolsonaro chegou "acompanhado de pelo menos um dos empresários que supostamente participaram de um grupo de mensagens privados em que foram encontrados comentários a favor de um possível golpe e envolvimento militar na política, e que também está sendo investigado pela Polícia Federal por possivelmente financiar atos antidemocráticos". O empresário em questão é Luciano Hang, dono das lojas Havan.

O termo "imbrochável" e o discurso machista de Bolsonaro foram ignorados pela publicação.

A agência internacional "Reuters" também escolheu ignorar o termo e reportar apenas que Bolsonaro preferiu discursar a favor de sua candidatura, faltando menos de um mês para as eleições, além dos constantes ataques a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato da oposição.

A agência também reforçou que "autoridades locais de Brasília mantiveram um fortíssimo cordão de segurança para impedir que apoiadores de Bolsonaro avancem em direção à Suprema Corte, como prometeram fazer há um ano em um protesto, inspirados pelo ataque ao Capitólio norte-americano em 6 de janeiro de 2021."

O canal televisivo de notícias "CNN" reportou que Bolsonaro chegou ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e "utilizou seu momento no palanque para, mais uma vez, discursar a favor de sua candidatura em um feriado que deveria ser apartidário", também ignorando o chavão machista utilizado pelo presidente.

O jornal da direita argentina, "Clarín", mencionou que Bolsonaro decidiu dar "um claro tom eleitoral às tensas festividades no Brasil". O espanhol "El País" também reforçou que o presidente "converteu as comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil em um ato eleitoral", fazendo campanha para sua reeleição no próximo mês.

A única menção à Michelle feita pelo "El País" se deu apenas para reforçar que "a extrema-direita se apoia na primeira-dama para tentar ganhar votos das eleitoras, público que mais o rejeita."

Até o momento da publicação desta matéria, os principais jornais ingleses "The Guardian", "The Times" e "Daily Mirror" não reportaram notícias sobre as festividades do Dia da Independência brasileira.

No entanto, Tom Phillips, jornalista e correspondente do jornal britânico "The Guardian", compartilhou em sua conta pessoal no Twitter uma tradução livre para o termo "imbrochável".

Segundo Tom, a palavra em inglês que traduziria o chavão seria "flop-proof", mas nenhum veículo da imprensa internacional está utilizando:

Flop-proof https://t.co/RuNd4cdLuE

-- Tom Phillips (@tomphillipsin) September 7, 2022

'Imbrochável, imorrível e incomível'

Essa não é a primeira vez que o presidente usa o termo. Em diversas ocasiões, inclusive em eventos oficiais, em conversas com apoiadores no Palácio da Alvorada e em protestos com eleitores, Bolsonaro repetiu o chavão declarando-se "imorrível, imbrochável e incomível".

A fala logo repercutiu entre sua base eleitoral e foi repetida pelos filhos do presidente, Carlos, Eduardo e Flávio, e pela própria primeira-dama. Em uma breve participação no programa "Alerta Nacional" (Redetv), Michele reforçou que seu marido é "imbrochável" após provocação do apresentador Sikêra Jr.

'Tchuthuca do Centrão'

Diferente de "imbrochável", um termo usado para chamar o presidente foi parar nas páginas de um dos maiores jornais norte-americanos, o "New York Times". Na ocasião, o jornal incorporou o termo "tchutchuca" ao seu vocabulário no dia 26 de agosto de 2022, segundo monitoramento feito por uma página no Twitter chamada New New York Times (Novo [no] New York Times, em tradução livre).

O termo viralizou depois que um vídeo publicado pelo youtuber Wilker Leão mostra Bolsonaro perdendo o controle ao ser chamado de 'Tchutchuca do Centrão'.

Não foi a primeira vez que o atual presidente escutou o termo. O deputado federal do Paraná Zeca Dirceu utilizou a expressão ao criticar o ministro da Economia afirmando que Paulo Guedes agia como "tigrão" a aposentados, idosos e pessoas com deficiência, mas como "tchutchuca" em relação à "turma mais privilegiada do nosso país".

O fato aconteceu em 2019, em uma audiência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.

tchutchuca

-- New New York Times (@NYT_first_said) August 26, 2022