Josias: Brasil assiste ao sequestro do Dia da Pátria como refém indefeso
O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou hoje do desfile militar em comemoração à Independência do Brasil, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Houve participação das Forças Armadas, empresários bolsonaristas, representantes do agronegócio e também da comunidade cristã. Para o colunista do UOL Josias de Souza, entretanto, o desfile cívico-militar em comemoração ao bicentenário da independência não representou o país como um todo.
"Estamos vivendo um dia importante, o Brasil está assistindo como um refém indefeso ao sequestro do Dia da Pátria. Confirmaram-se as piores expectativas nesse 7 de setembro, no bicentenário da independência. O país está experimentando o constrangimento de confirmar que não tem propriamente um presidente, o presidente é que se comporta como se tivesse o país, fazendo dele o que bem entende", disse durante participação no UOL News especial.
"O país que precisa de união assiste seu presidente discursando sobre rupturas", acrescentou.
Josias ainda afirmou que o desfile de Brasília se tornou uma parada eleitoral de Bolsonaro e frisou o destaque dado a presença do empresário bolsonarista Luciano Hang, investigado por enviar mensagens em grupos de WhatsApp em apoio a um eventual golpe de estado.
"No palanque oficial, personagens como o empresário bolsonarista Luciano Hang, que se encontra sob investigação policial, mereceram mais atenção do presidente do que o chefe de Estado de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza", disse. "Ele foi ali desprezado pelo presidente que colocou alguém sempre ele e o presidente de Portugal".
O colunista do UOL também chamou atenção para a falta de autoridades presentes no desfile, sobretudo os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Josias também destacou que membros do Poder Judiciário também não fizeram parte da festa.
"Na arquibancada havia uma torcida com palavras de ordem identificadas com a campanha do Bolsonaro, então houve uma autêntica apropriação da data nacional e foi uma festa do Bolsonaro. Não estava ali nenhum representante do Poder Legislativo, nenhum representante do Poder Judiciário".
'Constituição foi estapeada com discurso de Bolsonaro', diz ex-ministro Ayres Britto
"A nossa constituição resultou estapeada nesse discurso. Quem elaborou a Constituição não foi um governo, foi a nação brasileira. Não há chefe da nação. A nação é que é chefe de todo mundo", afirmou o ex-ministro do STF Ayres Britto durante participação no UOL News especial.
Ele cita também o discurso da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para ilustrar a afronta à Constituição. "No artigo 19, a constituição proíbe aliança com religião. Princípio da laicidade. O discurso da primeira-dama foi um discurso confessional. É preciso que o Tribunal Superior Eleitoral analise com bastante critério tudo isso".
Bolsonaro dizer 'imbrochável' é degradante; discurso degrada a data, diz historiadora
"É degradante o cara dizer 'imbrochável' no 7 de setembro e bicentenário da independência. Degrada, desmoraliza e quanto mais degradado, mais eficiente se torna o discurso dele contra a democracia", disse a historiadora Heloisa Starling durante participação no UOL News especial.
Ela também criticou o discurso da primeira-dama Michelle Bolsonaro durante o ato. "Não tem cabimento e é degradante, porque está se misturando duas coisas. Ela não tem cargo, ela não foi eleita e não tem título, portanto ela não tem voz nesse evento".
O UOL News especial reuniu análises e entrevistas sobre os atos de 7 de Setembro. Assista à íntegra:
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