Topo

Ratinho: Lula cutuca Ciro, bate em Bolsonaro e diz que pedalou como Dilma

Candidato à Presidência da República, Lula deu entrevista ao Ratinho, no SBT - Reprodução
Candidato à Presidência da República, Lula deu entrevista ao Ratinho, no SBT Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

22/09/2022 20h32Atualizada em 23/09/2022 11h18

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cutucou os adversários Ciro Gomes (PDT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), defendeu as gestões petistas no Planalto e disse que, se eleito, vai aumentar o salário mínimo "aumentando" na sabatina do Programa do Ratinho, do SBT, nesta noite.

Descontraído, Lula falou palavrões, contou causos sobre Ratinho, fez anedotas populares e chamou Bolsonaro de "ignorante" e "chucrão". Ao aceitar o convite, o objetivo da campanha era exatamente usar o tom mais popular, que o ex-presidente está familiarizado, e atingir as classes média e baixa.

Lula participou do programa "Candidatos com Ratinho", no SBT. O petista foi o quarto e último entrevistado pelo apresentador. Jair Bolsonaro, Ciro Gomes e Simone Tebet (MDB) também foram sabatinados. O atual chefe do Executivo participou do programa no dia 13 de setembro, enquanto Ciro e Tebet nos dias 19 e 20, respectivamente.

Salário mínimo. Logo no começo, questionado pelo apresentador Ratinho sobre como voltaria a aumentar o salário mínimo acima da inflação anualmente, se eleito, o candidato disse: "aumentando". Promessa antiga de campanha, Lula usou o exemplo de seu governo na resposta e alfinetou Bolsonaro.

Ratinho: O senhor diz que vai aumentar o salário mínimo. Como é que o senhor vai aumentar o salário mínimo?
Lula: Aumentando. Deixa eu falar uma coisa, quando eu fui presidente a gente aumentava o salário mínimo. Você repunha aquilo que era a inflação, e você dava o aumento de salário de acordo com o crescimento do PIB. Olha, se PIB crescer 5% você dá, 5%, se o PIB não crescer nada você dá a inflação. Foi assim que nós fizemos durante o nosso governo e por isso o salário mínimo aumentou 77%."

A LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), sancionada por Bolsonaro, prevê um salário mínimo de R$ 1.294 em 2023 —um aumento de R$ 82 em relação a este ano (R$ 1.212). Caso o valor seja mantido, será o quarto ano seguido sem um reajuste acima da inflação.

Após uma queda histórica de 4,1% em 2020, o PIB do Brasil fechou em alta de 4,6% em 2021, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O surto. Em uma das raras cutucadas em Ciro, Lula afirmou que o adversário "está surtando" em relação à promessa de campanha sobre perdão a dívidas. Antigo aliado, o candidato do PDT tem subido o tom contra Lula, a quem dedica grande parte das críticas recentes em redes sociais, programas e entrevistas.

Eu acho que o Ciro está surtando. Eu vi o Ciro falar para você: 'não, porque a taxa de juros está muito alta, o Brasil pagou 500 bilhões'. Ele foi ministro da Fazenda durante três meses, sabe qual era a taxa de juros quando ele foi ministro? 55%. Se ele tiver memória curta, é importante ele lembrar que ela reduziu foi apenas para 49%."

Em entrevista na quarta-feira (21) a Bruno Aiub, o Monark, que já defendeu a existência de um partido nazista no Brasil reconhecido por lei, Ciro chamou o ex-presidente Lula e Bolsonaro de fascistas. "Fascismo puro o que o PT e o Lula estão administrando contra o fascismo do Bolsonaro. É o fascismo na veia que sempre foi. O Lula sempre foi fascistoide", disse o pedetista.

"Ignorante" e "chucrão". Lula subiu o tom contra Bolsonaro ao falar da pandemia de covid-19. Com uma espécie de ponderação feita por Ratinho, que questionou se já havia vacinas a serem compradas quando o petista falou sobre demora para aquisição das doses, o candidato disse que Bolsonaro estava "brincando" durante a crise.

O Bolsonaro, você sabe que é meio ignorante, ele é meio chucro, ele até falou para você que é meio chucro, fala palavrão. Ele poderia ter montado um comitê de crise, poderia ter ouvido a saúde, ele poderia ter ido no conselho federal de saúde, poderia ter montado um conselho com os principais secretários de saúde dos estados brasileiros, e poderia ter comprado a vacina na hora certa. Ele ficou brincando."

"Tinha vacina?", tentou amenizar Ratinho. "Lógico que tinha", disse Lula, que citou as ofertas feitas pela Pfizer para compra —que vieram à tona durante a CPI da Covid—, que não foram respondidas.

O Brasil foi dos primeiros países a receber a oferta de vacina. Ele não comprou porque ele não acreditava na vacina no começo, Ratinho! Ele fazia, ele zombava da pandemia, ele brincava."

Pedaladas x golpe. Lula voltou também a defender a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e dizer que ela sofreu um "golpe". De acordo com ele, outros presidentes usaram as "pedaladas" para acertarem as contas públicas —ele admitiu que fez isso.

Nunca na vida você poderia cassar uma presidente da República porque ela fez o acerto de contas que eles colocaram o apelido de pedalada. Fernando Henrique Cardoso fez, eu fiz e todos os presidentes fizeram. Chega no fim do ano, você às vezes não tem o dinheiro para fechar o caixa, você pega dinheiro de outros programas, coloca lá e depois você repõe. Meu caro, isso é normal, inventaram um golpe e foi um golpe."

Como réplica, o apresentador disse que até hoje não sabia o que eram as "pedaladas", como ficaram conhecidas as manobras que embasaram o pedido de impeachment aceito pela Câmara dos Deputados. "Pensava que estava andando de bicicleta", brincou.

A volta do "Lulinha Paz e Amor". Ao ser lembrado que nem todos os governadores eleitos neste ano serão apoiadores do PT, Lula garantiu que vai conversar com os representantes das unidades federativas, independentemente do partido político, e falou do retorno do "Lulinha Paz e Amor", em referência à eleição de 2002.

Para mim não tem nenhum problema reunir com prefeitos e governadores. E vou fazer. Um compromisso que eu vou fazer, se eu ganhar as eleições, na primeira semana eu vou chamar os 27 governadores e [para que] possa ver em cada estado as três principais obras que cada estado tem para a gente compartilhar a construção dessas estradas. É isso que eu vou fazer. Eu quero paz e amor. O Lulinha paz e amor voltou com força total."

Pautas e cobranças. Na entrevista, o apresentador ainda fez perguntas sobre as obras realizadas na "Bolívia, Nicarágua e outros países, Venezuela, Cuba", durante a gestão petista no Planalto e disse que, nesse período, também havia desmatamento na Amazônia e invasões de áreas indígenas. Lula afirmou que as obras se reverteram em dinheiro para o Brasil, que reduziu a destruição da floresta e declarou que era possível continuar com produção agropecuária sem desmatar mais.

Tom descontraído. A entrevista, como o próprio apresentador ressaltou em mais de uma ocasião, teve o formato de um bate-papo.

Os dois relembraram que tomaram cachaça e comeram rabada com a presença de uma dupla sertaneja durante o mandato de Lula. "Você [Ratinho] foi na Granja do Torto, levou o Bruno e Marrone para conhecer. E por conta daquilo eu tive uma entrevista com o Jô Soares, ele brigou comigo porque você chegou primeiro, sabe? E nunca mais me convidou para o programa dele", disse.

Questionado sobre o que toma durante os comícios, Lula respondeu que era água —mas lembrou que não dispensa uma cachaça.

Eu estou com a garganta, fazendo tratamento com fonoaudiólogo, estou fazendo muito comício. Hoje ela está boa, mas eu gosto de uma cachaça, sim. Ah, nós já tomamos juntos na sua casa lá, no alto da Lapa, aonde eu comi a melhor rabada."

Prós e contras. A campanha chegou a cogitar não ir ao programa. O motivo seria a ligação do canal e do apresentador com Bolsonaro. Fábio Faria, ministro das Comunicações (pasta recriada pela atual gestão) é genro de Silvio Santos, dono do SBT e entusiasta do presidente, que já o recebeu em sua casa em mais de uma ocasião.

Até Ratinho, que já entrevistou Lula e tinha boa relação durante o mandato petista, hoje é mais próximo do bolsonarismo. Seu filho, Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná e favorito à reeleição, é o palanque do presidente no estado, onde o PT lançou o ex-governador Roberto Requião (PT) como opositor.

Por outro lado, Lula tem intensificado o foco da campanha nas classes média e baixa, de olho nos indecisos. Este é exatamente o público do programa, que ele pretende atingir com pautas sociais. "É um público que conheço bem", disse Lula em uma das respostas.

Prioridades. Lula não vai ao debate presidencial no próximo sábado (24). Como o programa será um pool entre SBT e CNN Brasil, a campanha entende que o ex-presidente já falou com públicos das duas emissoras.

Na semana passada, ele já participou de uma sabatina na CNN. Para a equipe lulista, as entrevistas deixam o assunto com as emissoras como resolvido. Além disso, Lula já deixou claro que considera o formato dos debates ultrapassado, com muito tempo de espera e pouco tempo de fala.