Por que Lula não vai ao debate presidencial do SBT, que terá Bolsonaro
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não vai ao debate presidencial, na tarde de hoje, no SBT. Com dois eventos na cidade de São Paulo, o petista tem agenda lotada na reta final da campanha e avalia já ter falado com os públicos que acompanharão o programa.
Com preferência por sabatinas e eventos na rua, a campanha não vê o que o ex-presidente, em ascensão nas pesquisas e na luta para tentar ganhar já no primeiro turno, teria a ganhar com a participação. Assessores entendem também que não há tanto a perder. Por outro lado, ele deverá ir ao debate da Globo, na próxima quinta-feira (29).
O petista já tinha sinalizado que só iria a no máximo três debates promovidos por pool de empresas por causa de agenda e, extraoficialmente, apenas nos que o presidente Jair Bolsonaro (PL), seu principal adversário ao Planalto, participasse.
O programa de hoje atende a ambos: será realizado por CNN Brasil, SBT, Estadão/ Rádio Eldorado, Veja, Terra e NovaBrasilFM e o presidente já confirmou presença. O petista, no entanto, já disse que não vai.
Oficialmente, em entrevista coletiva em Ipatinga (MG) ontem (23), o petista justificou a ausência com base na agenda —disse que já havia assumido compromissos quando a data foi confirmada— e na participação de candidatos novos, como Padre Kelmon (PTB), que teve a candidatura aprovada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) no meio de setembro.
Eu adoraria participar porque eu tenho um profundo prazer de participar de debate, é bom. Lamentavelmente, o debate do SBT demorou um pouco. Minha coordenação mandou uma carta para fazer um pool, quando veio a resposta do debate, eu já tinha agenda no Rio e em São Paulo."
Em nota, o pool de veículos de comunicação formado por SBT, CNN Brasil, Terra, NovaBrasil, Estadão/Eldorado e Veja informou que recebeu a declaração de Lula "com surpresa". De acordo com os veículos de comunicação, as reuniões para discutir a data e as regras do debate começaram em março —e a equipe do petista participou de todos os encontros.
"O pool lamenta a decisão do candidato de não participar, por entender que o debate é um dos mais importantes instrumentos para fomentar a democracia e ajudar o eleitor na hora do voto", diz o texto.
Check. Nos bastidores, a campanha entende que Lula já falou com públicos das duas emissoras do pool. Na semana passada, ele participou de uma sabatina na CNN e, na última quinta (22), deu uma entrevista no Programa do Ratinho, do SBT.
Com a CNN —e a apresentação de William Waack—, o foco era o nicho de empresários e classe média alta que acompanha o canal. Já no Ratinho, o objetivo da campanha era usar o tom mais popular, que o ex-presidente está familiarizado, e atingir as classes média e baixa.
Os petistas avaliam que os objetivos foram atingidos em ambos. Para a equipe lulista, as entrevistas deixam o assunto com as emissoras como resolvido.
Além disso, Lula já deixou claro que considera o formato dos debates ultrapassado, com muito tempo de espera e pouco tempo de fala. Em entrevistas, ele não só consegue falar mais como fica mais à vontade e tem, consequentemente, um desempenho melhor.
Sem parar. De acordo com a campanha do petista, a agenda está cheia e também falta tempo hábil para que Lula não só se prepare como compareça aos estúdios do SBT. A programação, até a noite de ontem (23), não contava com o debate:
- Na sexta (23), ele estava em Ipatinga (MG) para um comício junto ao ex-prefeito Alexandre Kalil (PSD), candidato ao governo de Minas Gerais;
- Hoje, terá dois comícios em São Paulo --de manhã na zona sul e à tarde na zona leste --ao lado de Fernando Haddad (PT), candidato ao governo;
- Amanhã (25), voa para o Rio de Janeiro, para um ato com a presença inédita do prefeito Eduardo Paes (PSD).
É esperado que, na hora do debate, ele esteja no ato de Itaquera, na zona leste. Para o petista, faz mais sentido se voltar à rua e a eventos presenciais do que debater —como ele afirmou ontem.
Eu não posso desmarcar [os compromissos em São Paulo] porque, faltando uma semana para as eleições, você desmarcar compromissos avisados para o povo é muito delicado."
Há quatro anos. A posição de Lula, agora, contrasta com o que aconteceu na última eleição presidencial, em 2018. Preso em Curitiba por conta da condenação em processo da Operação Lava Jato, Lula chegou a ir à Justiça para participar do debate da Band, em agosto daquele ano —o que não foi permitido. No debate seguinte, da RedeTV!, ele teve o púlpito retirado do cenário.
Na mira. O principal porém da estratégia, agora, é que, não indo ao debate, o púlpito de Lula deverá ficar vazio e seus opositores podem fazer perguntas direcionadas a ele. O receio é que, mesmo ausente, seja o petista, não Bolsonaro, o principal alvo.
Em entrevistas, adversários já indicaram que devem questionar Lula. Para a campanha, uma união improvável contra o mais bem colocado nas pesquisas não parece tão improvável assim.
Por outro lado, tanto o horário (18h15) quanto a média de audiência dos veículos envolvidos fazem com que a campanha não veja este evento como primeira necessidade. Com a tendência de crescimento nas pesquisas, eles dizem sentir que é melhor não mexer em time que está ganhando.
O debate. Além de Lula e Bolsonaro, foram convidados para o programa Ciro Gomes (PDT), Felipe D'Avila (Novo), Padre Kelmon (PTB), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil). São os únicos cujos partidos têm, no mínimo, cinco deputados federais —exigência da Justiça Eleitoral. Sem contar Lula, todos deverão ir.
De acordo com a organização, serão quatro blocos, com duração de cerca de duas horas. Não haverá plateia e apenas quatro assessores de cada candidato poderão entrar no estúdio. O debate será conduzido pelo jornalista Carlos Nascimento.
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