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Por que Lula e Haddad não participarão de missas em Aparecida

Lula e Haddad em campanha, em São Bernardo do Campo: ambos alegam que não querem fazer campanha em Aparecida - Mariana Greif/Reuters
Lula e Haddad em campanha, em São Bernardo do Campo: ambos alegam que não querem fazer campanha em Aparecida Imagem: Mariana Greif/Reuters

Do UOL, em São Paulo

11/10/2022 17h17

O feriado religioso de 12 de outubro —dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do país— divide as campanhas presidencial e ao governo de São Paulo. De um lado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos) divulgaram a ida ao santuário, em Aparecida (SP). Do outro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Haddad (PT) dizem que não querem fazer da data um palanque eleitoral.

Lula e Haddad já divulgaram que não viajarão até a cidade do interior paulista. No entanto, Haddad vai a uma missa em Itaquera, na zona leste de São Paulo. O petista afirmou, em evento em Santos, no litoral, na manhã de hoje (11), que não gosta de misturar política com religião.

"Eu não gosto de transformar o Brasil numa arena de guerra religiosa, não precisamos disso", declarou. A campanha alega que ele pretende acompanhar a celebração religiosa de amanhã como cristão, e não como candidato —e nem deve dar entrevista no evento.

A fala pode ser interpretada como uma alfinetada em Bolsonaro e Tarcísio, que, além de confirmarem a visita a Aparecida, têm aparecido em cultos e citam passagens da Bíblia em atos políticos frequentemente.

Segue o líder. A estratégia de Haddad é similar à de Lula —que cumprirá agendas no Rio de Janeiro e em Salvador na quarta (12), sem destacar compromissos religiosos.

Católico, o candidato à Presidência evitava falar de religião durante a campanha: chegou a dizer que não pretendia usar a fé como "arma eleitoral" e preferia convencer o eleitor cristão com pautas de economia. Mas pouco antes do primeiro turno o tom mudou.

Por mais resistente que o ex-presidente estivesse, a campanha começou a entender que o tema não poderia ser ignorado e que, ao evitar o assunto, parecia que estava fugindo dele. Lula argumentava que em outras campanhas não precisou tratar disso, mas foi convencido.

O assunto passou a ser parte de seus discursos, postagens nas redes sociais e, às vésperas do primeiro turno, participou de um evento para evangélicos na Baixada Fluminense —com direito a jingle gospel.

Para inaugurar a campanha de segundo turno, reuniu-se com frades franciscanos em São Paulo e falou sobre liberdade religiosa no primeiro programa de TV.

Não faz parte da minha cultura política instituir uma guerra santa."
Lula em agosto de 2022

Por partes. Agora, a campanha introduz o assunto aos poucos —tanto por receio de Lula, que segue resistindo a "usar" a fé no palanque, quanto por causa de uma compreensão de parte dos aliados de que tratar desse tema é "jogar no campo do Bolsonaro".

Foi por uma decisão pessoal que, mesmo convidado pelo governador reeleito Helder Barbalho (MDB), Lula não foi ao Círio de Nazaré, no Pará, e não irá a Aparecida.

Por outro lado, o ato desta terça (11) na Baixada Fluminense também conversa muito com público evangélico. Comandado por Waguinho (União Brasil), prefeito de Belford Roxo (RJ), a organização do evento pediu para as pessoas irem de branco e era esperado que religião fosse um dos principais temas.

A campanha petista debate ainda uma carta de aceno aos evangélicos. Segundo aliados, ela pode ser divulgada na próxima semana, mas também há resistência em parte do grupo petista.

Atos. Bolsonaro, por outro lado, tem frequentado vários eventos religiosos com alcunha política. Durante participação em cultos evangélicos, o presidente trata o Brasil como "terra prometida" e diz orar diariamente para que o país não caia nas mãos do comunismo.

Testemunho. A primeira-dama Michelle Bolsonaro também tem pregado aos fiéis. Ela trata por milagre a sobrevivência do marido a um ataque a faca, na campanha de 2018, e o coloca como "escolhido" para cumprir uma missão espiritual no país.

Na semana passada, em um culto evangélico na capital paulista, Michelle cobrou que a igreja deveria se posicionar. Foi atendida.

Desde ontem, Michelle e a senadora eleitora Damares Alves (Republicanos-DF) percorrem o Norte e ao Nordeste, onde o presidente foi derrotado no primeiro turno, em reuniões com lideranças evangélicas —já que o presidente não tem aliados políticos de peso nas regiões. As duas encabeçam um comitê de mulheres da campanha.

Círio de Nazaré. Mas o próprio Bolsonaro também tem agendas religiosas. No sábado (8), mesmo sem ter sido convidado pela divulgação do evento, ele esteve no Círio de Nazaré, em Belém (PA). A procissão celebra Nossa Senhora de Nazaré e é considerada patrimônio cultural brasileiro.

Sírio? O candidato à reeleição cometeu uma gafe nas redes sociais ao errar a grafia do evento e escrever "Sírio de Nazaré". Bolsonaro negou que a ida à celebração tenha ocorrido com objetivo eleitoral, mas a colunista do UOL Carla Araújo aponta a necessidade da campanha de mostrar apoio entre a base católica.

Filho de Bolsonaro, o deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro (PL-SP) reforçou a tese de uso político da procissão após ter chamado um trecho da romaria de "barqueata pró-Bolsonaro".

Encontro às cegas. Embora Lula tenha sido convidado para participar do Círio, ele se disse contra fazer campanha na festa e enviou Janja em seu lugar.

A mulher do petista —presença frequente nos palanques do PT— evitou mencionar a presença de Bolsonaro, mas cutucou o adversário de Lula ao afirmar que a santa homenageada não faz distinções entre os fiéis.

"Eu acho que Nossa Senhora acolhe todos, não é? Inclusive os nossos desafetos, ele veio... Eu vim aqui mesmo só para agradecer a ela [Nossa Senhora de Nazaré]. Então, não vou comentar sobre ele [Bolsonaro]", disse.