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Lula contesta Moraes por acolher ação de Bolsonaro sobre venezuelanas

Moraes mandou Lula apagar posts que associavam Bolsonaro ao crime de pedofilia - Reprodução
Moraes mandou Lula apagar posts que associavam Bolsonaro ao crime de pedofilia Imagem: Reprodução

Weudson Ribeiro

Colaboração para o UOL, em Brasília

19/10/2022 13h02

Em manifestação apresentada hoje ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a decisão em que o ministro Alexandre de Moraes proibiu o petista de usar contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) vídeos que associem o mandatário ao crime de pedofilia desencoraja o eleitorado a fazer questionamentos sobre as declarações do candidato à reeleição.

Em entrevista ao canal Paparazzo Rubro-Negro, no YouTube, Bolsonaro usou a expressão "pintou um clima" ao se referir a adolescentes venezuelanas. Em sua determinação, o presidente da Corte Eleitoral afirmou que, ao divulgar trechos do material, a campanha do petista teve aparente finalidade de vincular a imagem de Bolsonaro ao cometimento de crime sexual.

Os advogados Angelo Ferraro e Cristiano Zanin, que representam Lula no TSE, negaram que haja descontextualização na divulgação do conteúdo do vídeo e disseram que a campanha de Bolsonaro busca apagar a declaração do presidente. O pedido de reconsideração ocorre depois de Bolsonaro usar a decisão de Moraes como munição contra Lula durante debate promovido pelo UOL, em parceria com Folha de S.Paulo, TV Cultura e TV Bandeirantes, do domingo (16).

"Não há lacuna interpretativa na fala para promoção de qualquer descontextualização, porque na entrevista em questão, de fato, Jair Bolsonaro aborda a questão sensível dos refugiados venezuelanos, perfazendo sua fala sobre o assunto. Entretanto, o que choca é a história contada por ele para exemplificar a sua crítica acerca dos refugiados venezuelanos, relato esse que é objetivo, chapado, sem espaço para entendimento diverso", dizem.

Além do petista, sua esposa, Rosângela da Silva, e a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) também são alvos da decisão do ministro, que prevê multa de R$ 100 mil em caso de descumprimento.

"A campanha de Jair Bolsonaro tenta responsabilizar a campanha do ex-presidente Lula pela grande repercussão nas redes sociais causada pela fala, justamente pela indignação das pessoas ao se depararem com a declaração de um senhor de 67 anos no sentido de que teria 'pintado um clima' com 'menininhas bonitinhas de 14 anos'. Comoção natural e inerente à gravidade da fala de Bolsonaro", diz a defesa do petista.

Desde a tarde de sábado (15), a declaração de Bolsonaro sobre as jovens repercute nas redes sociais. O assunto chegou a ser um dos mais comentados no Twitter, com os termos "Bolsonaro pedófilo" e "Bolsonaro pervertido" ultrapassando a marca de 100 mil citações.

No mesmo sentido, a equipe do presidente tem feito anúncios pagos com a frase "Bolsonaro NÃO é pedófilo" na internet.

O que disse Bolsonaro no vídeo usado por Lula?

Durante entrevista na última sexta-feira (14), o presidente abordava temática recorrente de sua campanha: o suposto risco de o Brasil "virar uma Venezuela" caso Lula seja eleito e relatou um encontro que teve com meninas venezuelanas.

"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na tua casa?' Entrei", afirmou Bolsonaro na entrevista.

"Tinha umas 15, 20 meninas, num sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora. E como chegou neste ponto? Escolhas erradas", disse o presidente.

Ao UOL, uma das venezuelanas que estava na casa visitada por Bolsonaro afirmou que, naquele dia, o local servia de espaço para uma ação social de corte de cabelo e design de sobrancelhas.

Bolsonaro se defende de críticas

Na madrugada de domingo, o presidente usou suas redes sociais para se defender das críticas de que tem sido alvo por causa das declarações sobre meninas venezuelanas.

"Fiz uma live de dentro de uma casa de umas meninas venezuelanas. Devia ter umas 12, 13, 14 meninas. Eu mostrei a minha indignação, estava na região periférica de Brasília, quando eu parei e vi umas meninas de 14, 15 anos, arrumadas, meninas humildes, e eu pedi para entrar na casa delas", disse.

Sem explicar o que quis dizer com a expressão "pintou um clima" nem se informou a alguma autoridade sobre a suposta situação de exploração sexual, Bolsonaro afirmou que o PT tenta explorar as falas sobre o encontro de maneira deturpada.

"O PT recorta pedaços [da entrevista ao podcast] como se eu estivesse atrás de programas. Fiz uma live, foi demonstrado o que estava acontecendo. O PT pega pedaço e fala 'pintou um clima'? Que vergonha é essa? Sempre combati a pedofilia. Se fosse algo escondido, tudo bem, mas não foi nada escondido. Abri uma live por indignação sobre o que estava acontecendo."

Ontem, Bolsonaro divulgou um vídeo com um pedido de desculpas e afirmou que as jovens venezuelanas eram trabalhadoras.

Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também usou seus perfis nas redes sociais para defender o pai.

"É completamente abominável a mais nova mentira da esquerda! Pegou uma fala mal colocada do presidente para lhe imputar uma fake news nojenta! Um pai com uma filha e duas netas! Bolsonaro sempre foi um ferrenho combatente da pedofilia", afirmou o congressista.