Na Globo, Bolsonaro citará inserções de rádio; Lula vai destacar Jefferson
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fazem hoje, às 21h30, o último debate na corrida presidencial mais polarizada desde a redemocratização no Brasil. A estratégia do candidato à reeleição é partir para o ataque e insistir na alegação — não provada — de desequilíbrio nas inserções de rádio. Já o petista citará polêmicas recentes — da economia ao caso Roberto Jefferson — para tentar rebater o adversário.
Mais uma vez, os dois candidatos adotaram estratégias de preparação diferentes para o confronto promovido pela TV Globo. Durante esta semana, o petista cancelou viagens e não participou de caminhadas. Ele vai para o Rio de Janeiro na tarde de hoje e não deverá ter eventos públicos até o debate. Bolsonaro, por outro lado, encarou uma agenda exaustiva: nos últimos três dias, ele esteve e três estados, além do Distrito Federal, e visitou um total de oito cidades.
Bolsonaro chega ao embate mais cansado pelas viagens e por estar envolvido em polêmicas desde o último domingo.
Estratégias de Bolsonaro
Partido para o tudo ou nada. Quando um jogador de pôquer coloca todas as fichas que possui na mesa e vai para o tudo ou nada a jogada se chama all in. É este o espírito que Bolsonaro levará a Globo na noite desta sexta-feira. A estratégia é bancar apostas altas na esperança de colher recompensas lucrativas — uma virada de votos inédita.
Já contestada pelo TSE, a acusação de um represamento de 154 mil inserções de peças de rádio da coligação do presidente neste segundo turno vai fazer parte da munição de ataque. O presidente afirma que foi prejudicado com menos tempo de exposição e deu declarações fortes ao longo da semana, como sugerir que existiria um conluio entre o PT e o TSE para prejudicá-lo.
Este contexto será carregado para o debate se juntará ao histórico de Bolsonaro — que reiteradamente diz em tom de ameaça que só respeitará o resultado das urnas apenas se as eleições forem limpas. A tarefa que o ele tentará nesta noite contra Lula é tentar convencer os brasileiros de que não houve equilíbrio na corrida presidencial — estratégica que é considerada arriscada por integrantes da campanha.
Risco de perder o eleitor de centro. O argumento de parte do seu entorno é que Bolsonaro consegue inflamar seu eleitorado mais raiz quando adota um discurso mais agressivo. Ontem, por exemplo, a militância que esperava o candidato em comício em São João do Meriti (RJ) puxou o coro de "Xandão ladrão, seu lugar é na prisão".
Outra ala da sua campanha defende um presidente mais alinhado ao centro — e mais contido. O raciocínio é que atitudes extremas afastam o eleitor mais ponderado — numa eleição tão acirrada, avaliam interlocutores do presidente, é arriscado deixar de concorrer por esses votos.
Essa foi a orientação neste segundo turno, numa tentativa de virar votos e diminuir a abstenção, mas o candidato, segundo o UOL apurou, está disposto nesta note a dar uma guinada no tom apaziguador que estava adotando até recentemente.
Debate vale muito para o presidente. A leitura da campanha bolsonarista é de diferença pequena entre vencedor e perdedor na votação de domingo. Outra expectativa é a de que muitos dos eleitores indecisos no segundo turno vão decidir só na véspera da eleição se optam pelo presidente, por Lula ou por anular o voto.
Para a campanha, a repercussão na mídia e nas redes sociais do eventual bom desempenho no debate resultará em aumento do eleitorado em cima da hora.
Agenda intensa é desafio. A confiança existe, mas também é notório que Bolsonaro chega menos descansado que Lula. Ele não tirou um dia para fazer ensaios sobre situações que podem surgir no programa — embora seu núcleo político repasse informações sobre temas que considera mais sensíveis para se defender e atacar.
Desde o domingo, porém, o presidente está empregando as energias para tentar diminuir as consequências negativas do aliado Roberto Jefferson, que atirou de fuzil e lançou granadas contra policiais federais que tentavam prendê-lo.
Na sequência, surgiu a queixa da coligação de Bolsonaro a respeito de ter menos inserções de rádio. O presidente chegou a alterar a agenda para liderar uma reunião de última hora com ministros próximos e comandantes das Forças Armadas ontem.
Corrupção é bola de segurança. O cenário é diferente do desejado pela campanha, mas pelo menos uma situação não mudou: a crença de que abordar o tema corrupção renderá dividendos sobre Lula. A avaliação é que o adversário não sabe reagir ao assunto e costuma perder a compostura, sem conseguir convencer o eleitorado.
Estratégias de Lula
Economia, mas com tempero. Para fechar a eleição, o ex-presidente Lula deverá voltar ao cerne da sua campanha desde o começo: pautas econômicas que atingem diretamente a vida do cidadão médio, como desemprego, inflação, aumento do custo de vida e perda do poder de compra.
Dessa vez, no entanto, ele deverá temperar com críticas às duas propostas da equipe econômica de Paulo Guedes, ministro da Economia, que vieram à tona na última semana:
- o pacote que desatrela o reajuste do salário mínimo da inflação passada e acaba com sua vinculação às aposentadorias, revelado pela Folha de S.Paulo na semana passada;
- o estudo sobre retirar a dedução de gastos com saúde e educação do Imposto de Renda, revelado pelo Estadão na quarta (25).
Na esteira da repercussão das reportagens, Guedes negou que colocará as propostas em prática, mas, para o PT, o estrago já estava feito. O partido abordou o assunto em suas incursões e programas de TV e avalia que foi o tema que mais impacto negativo causou na campanha bolsonarista nesta reta final da disputa.
Lula sempre defendeu que sua campanha tente convencer o eleitor pelo bolso e pela melhoria do padrão de vida — mesmo a contragosto de parte da equipe, que temia pelo impacto do discurso repetitivo. Agora, há novos ingredientes.
Críticas à gestão. No debate promovido pelo UOL -- em parceria com a Band, Folha e TV Cultura, a avaliação do entorno de Lula é que o petista teve o melhor momento durante o primeiro bloco, quando dominou a pauta e fez comparação entre os dois governos. A orientação agora é o ex-presidente continue com esta ofensiva programática.
Em suas viagens pelo país, Lula tem repetido que Bolsonaro "não fez nada pela região" e levanta dados sobre obras e contribuições federais feitas em seu governo (2003-2010). O plano agora é confrontar Bolsonaro com esses dados — para isso, Lula deverá revisar e estudar números, em especial nas áreas de economia e infraestrutura.
Caso Jefferson e defesa democrática. A prisão de Roberto Jefferson voltou a trazer aos holofotes o que os petistas chamam de "pauta democrática", um dos temas iniciais da pré-campanha.
Lula tratou o caso em duas coletivas seguidas, sempre fazendo ligação entre o ex-deputado e Bolsonaro, aliados e amigos de longa data, e citando o episódio como uma afronta a valores democráticos. Em peça para a TV, a campanha petista fez relação similar ao mostrar vídeos de agressões de bolsonaristas. Tudo isso deverá ser reaproveitado no debate.
Para a campanha petista, o caso afugentou possíveis eleitores considerados "mais ponderados" de Bolsonaro, propensos a mudar de voto. Lula reforçará o caso focando neste público. Na lógica petista, se não ajudar o ex-presidente a ganhar votos, pelo menos atrapalha o outro lado — e ainda pode tirar o presidente do sério.
Sem medo de ser polêmico. Entrar em temas considerados mais polêmicos marca uma mudança na estratégia do candidato, sinalizada desde o primeiro debate do segundo turno. No último encontro, Lula já havia se programado para usar temas mais delicados caso fosse provocado por Bolsonaro.
No mesmo dia do embate, no entanto, o TSE julgou que Lula não poderia ligar Bolsonaro à pedofilia no caso das meninas venezuelanas, em que o presidente disse que "pintou um clima" ao se referir a adolescentes. Segundo a equipe petista, isso teria impedido o ex-presidente de citar o episódio como pretendia.
Nos últimos dias, o TSE também impediu Lula de veicular sobre a proposta de indexação do salário mínimo e do caso Jefferson. Diferentemente do que ocorreu com as venezuelanas, a campanha petista avalia que isso não impede o petista de usar os casos no debate — e diz que ele deverá fazê-lo.
Jogando no próprio campo. O único ponto que a campanha ressalta, no entanto, é que, se for para tratar de assuntos não propositivos, é melhor fugir das chamadas "pautas de costume", caras ao bolsonarismo.
No último debate, embora procure não assumir publicamente, a campanha avaliou que o principal problema de Lula no terceiro bloco — etapa em que ele se saiu pior — não foi só ter deixado Bolsonaro com mais de cinco minutos livres para falar, mas por não ter conseguido pautar os assuntos.
Na avaliação petista, Bolsonaro conseguiu entrar nas pautas de costume e Lula gastou quase todo seu tempo se defendendo e tentando desmentir o presidente. Agora, o grupo trabalha para que o ex-presidente não só rebata as possíveis acusações ou mentiras como consiga também controlar os temas em discussão.
Especial 'Lado a Lado' traz eleitores de Lula e Bolsonaro debatendo seus votos. O vídeo está disponível no Youtube de MOV.doc.
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