Eleição em São Paulo coloca herdeiros de Mário Covas em lados opostos

Os herdeiros de um dos sobrenomes mais importantes da política paulista estarão em lados opostos nas eleições municipais deste ano. Quatro anos após Bruno Covas vencer a disputa na capital, o filho dele, Tomás Covas, e seu tio-avô, Mario Covas Neto, escolheram candidatos diferentes para defender nas urnas.

Mario Covas Neto voltou à cena política para recuperar a importância do PSDB, partido que o pai, Mário Covas, escolheu para seguir na vida pública após o fim da ditadura militar. Ele saiu do partido em 2018 por divergências com João Doria, e migrou para o Podemos, onde chegou a concorrer ao Senado, sem sucesso. Atual presidente municipal da confederação formada com o Cidadania, o ex-vereador defende o nome do apresentador José Luiz Datena, recém-filiado à sigla, como uma espécie de "tábua de salvação" dos tucanos.

Mas a decisão de lançar um nome próprio à disputa provocou um racha no partido, já balançado com as saídas de Geraldo Alckmin e João Doria e com a morte precoce de Bruno, em maio de 2021.Tomás, que é bisneto de Mário Covas, optou por compor a ala favorável à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB) - o que, em tese, poderia lhe render a expulsão da sigla por infidelidade partidária.

"Tenho a certeza hoje de que o meu pai fez a escolha certa em escolher você, Ricardo, como vice. Você nunca virou as costas pra mim e tem o senso público que o meu pai também tinha", discursou Tomás na convenção que oficializou Nunes como o candidato de 12 partidos da centro-direita.

Aos 18 anos, o atual coordenador de Políticas para a Juventude da Prefeitura de São Paulo — com salário de R$ 10,4 mil — foi o convidado de honra do evento realizado no último sábado (3) com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele é neto de Renata Covas, mãe de Bruno, e irmã de Mario Covas Neto.

Chamado ao palco no final do evento, Tomás deu um recado direto aos tucanos: Nunes foi escolhido lá atrás como o sucessor de Bruno, sendo, portanto, merecedor de seu apoio e da militância do partido.

Bruno Covas recebe a visita do filho Tomás durante internação no hospital Sírio Libanês, em dezembro de 2019
Bruno Covas recebe a visita do filho Tomás durante internação no hospital Sírio Libanês, em dezembro de 2019 Imagem: Reprodução TV Globo

Mas há divergências. A história do PSDB, aliás, é marcada por elas. Se estivessem vivos, tanto Bruno como Mario Covas estariam juntos em defesa de uma candidatura tucana própria, costuma dizer Mario Covas Neto. "Não tenho dúvidas disso. Eles sempre foram líderes do partido e hoje defenderiam a sua reconstrução, assim como eu estou fazendo", afirma.

Por ter vencido as últimas duas disputas — com Bruno e Doria —, o pleito paulistano virou a menina dos olhos também para a direção nacional do PSDB. O presidente, Marconi Perillo, tem participado ativamente das negociações para convencer Datena a não desistir dessa vez, lembrando que o apresentador já se filiou a outras dez siglas e chegou a cogitar disputar tanto a prefeitura como o Senado, sem nunca ir adiante.

Continua após a publicidade

PSDB terá candidatos em 73 municípios paulistas

Após eleger 176 prefeitos no estado em 2020, o PSDB lançará candidatos em apenas 11% dos municípios paulistas: 73. Mesmo cidades comandadas hoje por tucanos não têm nomes para liderar as chapas.

Em São Bernardo do Campo (SP), por exemplo, o prefeito Orlando Morando (PSDB) filiou a sobrinha, Flávia Morando, no União Brasil e a apresenta como sua sucessora. É mais um caso de racha, já que os tucanos apoiam o deputado federal Alex Manente (Cidadania) na disputa.

Na capital, o PSDB chega às eleições sem nenhum vereador — os oito parlamentares eleitos em 2020 deixaram o partido para apoiar a reeleição de Nunes. Nem mesmo Mario Covas Neto aceitou ser candidato a uma vaga na Câmara Municipal, ao menos por enquanto. "Minha intenção é mesmo colaborar nessa retomada do PSDB, reorganizando o partido e preparando [a legenda] para esta e outras eleições. É onde o meu pai estaria."

O grupo que defende a reeleição de Nunes, no entanto, segue contestando o processo partidário pelo qual a candidatura de Datena foi homologada. Comandados pelo ex-presidente municipal da sigla Fernando Alfredo, o "Movimento Tucanos com Ricardo Nunes" divulga ações da gestão a partir de perfis nas redes sociais e participação pública nas demais convenções. Tomás é um dos apoiadores.

Legado em disputa

Mário Covas e Alckmin, então candidatos ao governo e Fernando Henrique Cardoso, candidato à presidência, em 1994
Mário Covas e Alckmin, então candidatos ao governo e Fernando Henrique Cardoso, candidato à presidência, em 1994 Imagem: AGLIBERTO LIMA/ESTADÃO CONTEÚDO/AE
Continua após a publicidade

Datena mal chegou ao PSDB e já reivindica para si as marcas alcançadas pelo partido em São Paulo. Ao discursar na convenção tucana, o apresentador citou não apenas Mário e Bruno, mas políticos que marcaram o partido, como Franco Montoro, José Serra e Fernando Henrique Cardoso, atual presidente de honra.

"Parece que eu nasci para este dia. Tantas pessoas importantes que fizeram a história desse partido nunca se acovardaram ao chamamento de estar ao lado do povo", disse ele. Pouco depois, o pré-candidato batia boca com militantes tucanos contra a sua escolha na saída da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Para reforçar o elo com Bruno, a sigla pretende registrar o plano de governo formulado pela equipe de Datena juntamente com o plano apresentado pelo ex-prefeito na eleição de 2020, quando venceu o candidato Guilherme Boulos (Psol-SP) por 59,4% a 40,6%. O gesto tem duas funções: destacar que o então prefeito era tucano e reforçar que Nunes não cumpriu boa parte dos compromissos assumidos pela chapa.

José Luiz Datena durante o lançamento de sua pré-candidatura pelo PSDB à prefeitura de São Paulo
José Luiz Datena durante o lançamento de sua pré-candidatura pelo PSDB à prefeitura de São Paulo Imagem: 13.jun.2024-Rodilei Morais/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Deixe seu comentário

Só para assinantes