Nunes, Boulos e Tabata disputam legado de Bruno Covas na pré-campanha de SP

Os três pré-candidatos mais bem colocados na corrida eleitoral à Prefeitura de São Paulo têm usado como referência o nome do ex-prefeito da cidade Bruno Covas (PSDB), morto em 2021, em posts e discursos.

O que aconteceu

Além de Ricardo Nunes (MDB), que foi eleito como vice de Covas, Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB) também têm resgatado o nome do tucano. Cada pré-candidato tem feito referência ao tucano de uma forma diferente.

Covas foi reeleito em 2020 e era visto como um dos maiores nomes da nova geração do PSDB, partido que o avô dele, Mário Covas (1930-2001), ajudou a fundar. Bruno Covas se afastou do cargo em maio de 2021 para dar continuidade ao tratamento contra um câncer no sistema digestivo e morreu dias depois.

Desde que assumiu o cargo, Nunes diz que sua gestão é uma continuidade do trabalho do tucano. Em placas de inauguração e em eventos oficiais, a logo da prefeitura com a frase "Gestão Bruno Covas" é sempre incluída. O prefeito também manteve secretários e aliados no segundo escalão do governo escolhidos por Covas.

O prefeito ainda deve ter ao seu lado na campanha Tomás Covas, filho único de Bruno Covas. O jovem de 18 anos declarou em mais de uma ocasião que vai estar ao lado do sucessor do pai nas eleições deste ano. "Acredito, sim, que o PSDB deva apoiar o Ricardo [Nunes] para a reeleição dele ano que vem", afirmou em entrevista de 2023.

Nunes foi escolhido para ser vice de Covas quase na última hora. Pesou a favor dele o perfil mais desconhecido — o que não traria rejeição à chapa — e também mais conservador. Como vereador, ele integrava a bancada religiosa da Câmara.

Em 2020, Covas foi reeleito no segundo turno com 59,38% dos votos. Boulos ficou em segundo lugar com 40,62%.

Adversários também citam Covas

Boulos quer destacar diferenças entre as gestões Covas e Nunes para convencer o eleitor que não se trata de uma continuidade. O principal ponto a ser explorado será o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao emedebista.

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No ato de filiação de Marta Suplicy ao PT, Boulos relembrou que Covas não teve apoio do ex-presidente. "É importante dizer, inclusive, que naquela eleição [2020] o Bruno Covas não foi com Bolsonaro e foi atacado pelo bolsonarismo. O Ricardo Nunes hoje abraçou o bolsonarismo traindo o legado daquele de quem ele foi vice", disse o psolista.

Em 2020, Covas afirmou acreditar que Bolsonaro não agregava valores democráticos e afirmou que anulou seu voto em 2018. "Não vou mudar para ganhar eleição ou apoiador", disse o tucano após viralizar uma foto dele com o então presidente. Três meses após a morte do ex-prefeito, Bolsonaro se referiu ao tucano como "o que morreu" — e recebeu críticas de diferentes políticos.

A presença de Nunes no ato convocado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no domingo passado também foi alvo de críticas dos adversários e de aliados de Covas. Boulos e Tabata publicaram críticas ao prefeito no X (antigo Twitter) citando o nome do tucano.

No entorno do prefeito, já era prevista que essa seria uma das consequências negativos da ida de Nunes à manifestação. Há um receio de que ele seja ligado à extrema-direita devido à sua proximidade com o ex-presidente. Há outro ponto a ser destacado: a participação de Bolsonaro reforça o movimento de nacionalização a eleição municipal — Boulos tem dito que vencer o emedebista nas urnas será como "derrotar o bolsonarismo".

Tabata tem incorporado aliados de Covas à pré-campanha. Três ex-secretários do ex-prefeito integram a equipe dela: Orlando Faria (PSDB), Vivian Satiro e Luiz Álvaro (PSDB).

A parlamentar tenta atrair o PSDB para sua chapa. Em crise desde as eleições de 2022, o partido hoje se divide em apoiar Nunes, lançar uma candidatura própria ou embarcar na pré-campanha de Tabata.

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A legenda definiu nova composição do diretório estadual de SP, mas a escolha do presidente foi adiada por falta de consenso. A decisão sobre quem vai presidir a legenda é um fator crucial na definição da estratégia eleitoral da sigla na disputa pela Prefeitura de São Paulo. José Aníbal foi eleito presidente do diretório municipal na quinta (29).

Ao UOL, Orlando Faria disse que Nunes "descaracterizou" a gestão Covas e que o político não aprovaria a aliança de seu sucessor com Bolsonaro. Para ele, Tabata tem "espírito público", assim como Covas, e é quem tem mais perfil do eleitor do PSDB, "distante da polarização".

"O Orlando não tem procuração, não tem moral, não tem a menor condição de falar em nome do Bruno", disse Nunes à reportagem. O prefeito afirmou também que quem pode falar por Covas "é a mãe ou filho dele".

O que disseram

Nós damos continuidade ao trabalho importante do prefeito Bruno Covas. Inclusive, a gente leva com muito orgulho, em tudo o que a prefeitura faz, em cada placa de inauguração -- e olha que são muitas, no momento são mais de 1.300 obras simultâneas --, tem o nome do Bruno Covas.
Ricardo Nunes durante posse de novos secretários

É uma vergonha que alguém que se elegeu vice de Bruno Covas, democrata que sempre foi contra o bolsonarismo, esteja hoje na [avenida] Paulista defendendo justamente o ataque à democracia promovido por Bolsonaro.
Boulos no X sobre a ida de Nunes ao ato de Bolsonaro

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É vergonhoso ver o prefeito da maior cidade brasileira apequenar o cargo que ocupa e a cidade que deveria liderar com sua participação [no ato]. Novamente, Nunes demonstra topar qualquer negócio para se manter no poder e envergonha o legado de Bruno Covas.
Tabata no X sobre a ida de Nunes ao ato de Bolsonaro

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