Datena prioriza área central e desidrata na periferia
Antes mesmo de começar a campanha à Prefeitura de São Paulo, José Luiz Datena (PSDB) já avisava: "não sou Moisés para andar todos os dias".
Era uma referência ao profeta que caminhou com uma multidão durante 40 anos para atravessar o deserto do Sinai.
A missão de Datena era um pouco mais curta: três meses.
E, de fato, ele não precisava caminhar muito para chegar até o Sinai — no caso, o Viaduto do Chá, onde fica a sede do Executivo municipal.
Apresentador de um popular programa policial da TV aberta, ele era o nome forte, e já conhecido, escolhido a dedo para alavancar o PSDB na maior cidade do país.
A fama compensaria a falta de estrutura partidária, os rachas na legenda e o escasso tempo de TV.
E de fato: na largada Datena tinha 14% das intenções de voto, segundo o Datafolha de 7 de agosto.
Seu melhor desempenho era entre os mais pobres (até dois salários mínimos). Marcava 18% das preferências, atrás apenas do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que somava 24% - um empate dentro da margem de erro.
Cerca de 40 dias depois, Datena tinha só 6% no Datafolha de 19 de setembro. E 9% entre os mais pobres — ou seja, metade do que já ostentou um dia.
Uma explicação para a queda está justamente nos parágrafos acima.
Datena tem evitado caminhadas longas durante a campanha. E só nos últimos dias resolveu dar atenção para a periferia — onde estava o maior potencial de público em agosto.
O primeiro ato oficial do tucano foi em Aparecida do Norte, a 176 quilômetros da capital. Depois teve visita a mercadões (muitos), praças, grandes avenidas, hospital, lojas da 25 de Março, do Brás, associação de policiais, shopping de motoboys. Tudo em áreas centrais, do centro expandido ou bairros de classe média.
Isso sem contar as participações em sabatinas, debates e entrevistas.
Desde a cadeirada em Pablo Marçal (PRTB), a equipe de Datena programou três visitas à periferia: Capão Redondo, São Mateus e Perus — esta última precisou ser cancelada.
"As periferias de São Paulo são formadas por pessoas invisíveis para o poder público", disse ele durante a visita a São Mateus, na terça-feira (24).
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Quero receberLá ele prometeu ampliar o funcionamento dos serviços de creche, dar tarifa zero para beneficiários do Bolsa Família em transporte público, levar empresas e até grandes hospitais para a periferia.
Ele também criticou a falta de espaços de lazer e cultura e prometeu criar bibliotecas e laboratórios audiovisuais nesses locais.
Talvez seja um pouco tarde.
Enquanto priorizava as áreas centrais, Datena via crescer a popularidade de oponentes como Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) na quebrada.
O atual prefeito, que tem usado as obras da gestão como vitrine, hoje tem 31% das intenções de voto entre quem ganha até dois salários mínimos, sempre segundo o Datafolha.
Nunes começou a campanha, aliás, dizendo que é "cria" da quebrada. Não perde a chance de dizer que nasceu no Parque Santo Antonio, no bairro Socorro, zona sul da cidade e que estudou em escola pública a vida toda até se tornar empresário.
Boulos vem logo atrás, com 20% das preferências entre os mais pobres.
Morador do Campo Limpo, ele hoje tem mais apelo entre os mais ricos (34%) do que entre os vizinhos. Conta com o presidente Lula (PT), seu padrinho político, e com a vice Marta Suplicy (PT), para reverter o favoritismo de Nunes na periferia, onde vive a maioria da população.
Marçal também patina neste eleitorado (13%), que tenta atrair cantando rap e promessas de quebrar a dependência do Estado. Até agora, não colou.
Datena largou com boa parte desse público na mão. Mas sem tempo de TV, militância espalhada, sem obras para mostrar nem padrinhos com inserção na quebrada, não restou outra alternativa se não baixar o espírito de Moisés e lembrar que está (ainda) na pista.
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