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Ataques na capital da Síria matam integrantes da cúpula do governo de Assad

Do UOL, em São Paulo

18/07/2012 07h56Atualizada em 18/07/2012 21h22

Um atentado contra a sede da Segurança Nacional na capital da Síria, Damasco, nesta quarta-feira (18) matou pelo menos três oficiais do alto escalão do país --que enfrenta um grave conflito civil desde março do ano passado.

 

As mortes confirmadas são do ministro da Defesa da Síria, general Daoud Abdelah Rajha, o cunhado do presidente Bashar al-Assad, Assef Shawkat (que era vice da pasta) e o general Hassan Turkmeni, chefe da célula de crise criada para combater a rebelião síria. 
 
Inicialmente, o ministro do Interior do país, Mohammad Ibrahim al-Shaar, foi incluído entre as vítimas, mas a sua morte não foi confirmada. Informações dão conta de que ele foi gravemente ferido no ataque e está hospitalizado.

O canal de televisão informou que uma "bomba terrorista" foi detonada no prédio durante um encontro de ministros e autoridades de defesa, ferindo diversas pessoas. 

O Exército da Síria comprometeu-se a perseguir os autores do atentado para eliminá-los e "limpar a pátria de maldade", de acordo com comunicado lido na rede de televisão oficial após a confirmação da morte de Rajha e Shawkat.

Ativistas em Damasco disseram por telefone que a Guarda Republicana da Síria isolou o hospital Shami, na capital, enquanto ambulâncias levavam vítimas do local da explosão. 

Fontes da segurança afirmaram à agência AFP que vários feridos foram levados para o hospital. A BBC informou que, após as mortes, novas explosões foram ouvidas próximo ao quartel-general que guarda o palácio presidencial sírio. Segundo o blog da TV Al Jazeera, a força aérea síria estaria atacando o bairro de Alhager Alaswad, em Damasco.

Bashar al-Assad já nomeou o chefe do Estado-Maior, Fahd al-Freij, como novo ministro da Defesa. Segundo ONGs que atuam na Síria, cerca de 100 pessoas morreram --entre rebeldes, civis e militares-- em confrontos travados em várias regiões do país.

Iniciada em março de 2011, a revolta popular, violentamente reprimida pelo regime, degenerou em conflito armado entre soldados e rebeldes. Mais de 17 mil pessoas morreram no país em 16 meses. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) considerou, na segunda-feira (16), que os combates na Síria configuram uma situação de guerra civil.

As vítimas de hoje são os primeiros altos dirigentes do regime sírio que morrem desde o começo da revolta contra o regime de Assad.

"O Estado e todas as suas instituições estão sendo atacados. É uma guerra aberta contra todos os sírios", disse o deputado Khaled al Abbud. "Há elementos externos que atuam para a destruição do Estado sírio", afirmou, acusando os Estados Unidos e seus "instrumentos" no interior do país.

Autoria

A autoria do atentado foi reivindicada, inicialmente, por dois grupos. Em sua página no Facebook, o grupo rebelde sírio Liwa Al-Islam assumiu responsabilidade pelo ataque, segundo a agência Reuters. De acordo com agências, o autor do atentado foi um homem-bomba suicida, que trabalhava como guarda-costas para pessoas do círculo restrito de Assad. 

Já o Exército Livre Sírio (ELS), de oposição ao regime de Bashar al Assad, inicialmente culpou o governo pela explosão desta quarta-feira. Posteriormente, o grupo reivindicou a autoria do atentado e disse que foi uma bomba plantada no local, e não um atentado terrorista

Em entrevista à agência Efe pela internet, o porta-voz do ELS na Síria, Sami Kurdi, explicou que o ataque foi realizado em coordenação com seguranças de alguns políticos que estavam no prédio, e afirmou que, anteriormente, seu grupo negou a autoria porque seus combatentes ainda estavam no local do atentado.  

Situação na capital

Ontem, os rebeldes sírios lançaram a chamada "batalha pela libertação" de Damasco, onde violentos combates foram travados com a entrada em ação pela primeira vez dos helicópteros do Exército, intensificando ainda mais a violência.

Hoje, pelo Twitter, internautas relataram comemorações de rebeldes em outras cidades e ataques sírios nos subúrbios da capital. Um enviado da revista "Time" a Damasco relatou tiros disparados para o céu na província de Idlib, assim que a notícia das mortes do cunhado de Assad e do ministro sírio chegaram à província.

"Economize as balas! Vamos precisar delas", disse um rebelde ao outro, que respondeu "não hoje", foi um trecho dos diálogos presenciados pelo repórter. O usuário @n_curious, que ontem reportou o bombardeio de helicópteros em Damasco, escreveu nesta quarta-feira (18): "confrontos ininterruptos em subúrbios pela cidade". Segundo ele, funcionários públicos foram dispensados de ir ao trabalho hoje.

Repercussão no Ocidente

A comunidade internacional aproveitou os ataques para cobrar ações mais enérgicas contra a Síria. Secretário de Defesa dos EUA, Leon Panetta, disse nesta quarta-feira (18) à Reuters que a situação na Síria aparenta "estar ficando fora de controle", e alertou que o regime será responsabilizado pela segurança de suas armas químicas. O secretário de Defesa dos EUA também cobrou da comunidade internacional "máxima pressão (ao presidente Bashar al-Assad) para fazer o que é certo, recuar e permitir uma transição pacífica". 

O governo americano anunciou nova rodada de sanções contra membros do governo sírio, segundo a CNN. Não foram especificadas quais serão as medidas tomadas. 

Peter Wittig, embaixador alemão para a ONU e membro do Conselho de Segurança da organização, disse esperar que os ataques desta quarta-feira (18) levem a Rússia e a China a "se envolver em significantes negociações para a resolução que pusemos à mesa".  

No Brasil, o porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, expressou preocupação com a atual situação na Síria. “Estamos preocupados com a proporção que a violência está ocupando [na Síria]. É uma situação inaceitável", disse à Agência Brasil.

O ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel García-Margallo, afirmou que o regime sírio de Bashar al Assad se transformou em "uma ameaça para toda a região e a paz mundial".

García-Margallo está em Moscou acompanhando o rei da Espanha em sua visita oficial à Rússia. O chanceler acrescentou que "é absolutamente urgente uma resolução das Nações Unidas com base no capítulo 7, concretamente o artigo 41", que contempla a aplicação de sanções internacionais.


ONU discute sanções

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) discutiria nesta quarta-feira (18) em Nova York, nos EUA, duas propostas de resoluções referentes à Síria. Uma delas, apresentada pelos britânicos, recomenda a adoção de novas sanções ao governo sírio. Mas os russos apresentaram um texto sugerindo apenas a manutenção de observadores externos no país por mais três meses e a exclusão de restrições aos sírios.

No entanto, o enviado internacional Kofi Annan pediu que o conselho adiasse a discussão e a consequente votação. "O enviado especial Annan pediu o adiamento da votação do esboço de resolução sobre a Síria. Ao lado dos copatrocinadores (da resolução), nós estamos considerando este pedido", disse a missão britânica na ONU em sua conta oficial no Twitter. Mais tarde, foi confirmado o adiamento do encontro para amanhã.

Em seu blog, a Al Jazeera escreveu que um porta-voz da ONU disse à imprensa que "os relatos acrescentam um senso dramático de urgência aos esforços de hoje (quarta-feira). Eles são um estímulo aos que ainda pensam que o Conselho de Segurança deve continuar a trabalhar como sempre (sem intervir no conflito sírio). A inação do conselho piora a violência."

Nas últimas reuniões, as autoridades da Rússia bloquearam duas resoluções definindo condenações ao governo do presidente sírio, Bashar Al Assad, devido aos massacres em Treimsa –nos quais mais de 150 civis foram mortos na semana passada pelas tropas e milícias que apoiam o governo. A Rússia, a China e o Irã são parceiros tradicionais da Síria. Exceto o Irã, esses países integram o grupo das nações com assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU.

Pelas normas do conselho, uma resolução deve receber o voto favorável de todos os integrantes permanentes no órgão, no caso a China, a França, a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos. Se um deles se opuser à proposta, a medida não pode ser adotada. Também se manifestam nas discussões as autoridades dos dez países que ocupam assentos rotativos.

Até o final de 2012, estão nos asssentos provisórios do conselho: Azerbaijão, África do Sul, Colômbia, Marrocos, Togo, Alemanha, Paquistão, Guatemala e Portugal. Na tentativa de obter consenso entre os inegrantes do órgão em torno de uma solução para a crise na Síria, o emissário da ONU e da Liga Árabe ao país, Kofi Annan, conversou com vários líderes estrangeiros. 

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que defende a destituição de Assad, reúne-se hoje com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. “[Espero que a conversa] abra novos horizontes sobre a questão, e novas sanções contra a Síria surgirão na ordem do dia”, disse o vice-primeiro-ministro da Turquia, Bulent Arinc. (Com agências internacionais)