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Redução de impostos e custos da saúde dominam primeiro debate americano

Obama e Romney se cumprimentam em primeiro de três debates das eleições americanas - Chip Somodevilla/Getty Images/AFP
Obama e Romney se cumprimentam em primeiro de três debates das eleições americanas Imagem: Chip Somodevilla/Getty Images/AFP

Do UOL, em São Paulo

03/10/2012 23h33Atualizada em 04/10/2012 07h27

O primeiro debate da eleição presidencial norte-americana realizado na noite desta quarta-feira (3), em Denver, Colorado (EUA), destacou muitas divergências entre as propostas do presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição, Barack Obama, e do candidato republicano Mitt Romney, principalmente em relação a redução dos impostos e custos da saúde.

Enquanto Romney dedicou grande parte de seu tempo para criticar duramente a gestão de Obama, o presidente investiu em julgar os planos de governo de seu adversário republicano. Ambos, no entanto, abusaram dos números, estratégia que pode deixar os eleitores ainda mais confusos em entender as propostas democratas e republicanas.

Romney falou sobre seu plano de criar empregos ajudando os pequenos negócios e, em um momento mais duro, acusou o presidente de prejudicar a economia. "Estou preocupado que o caminho que estamos seguindo seja infrutífero", disse Romney, em seus comentários iniciais, prometendo: "vou restaurar a vitalidade que fará a América voltar a funcionar".

O candidato republicano ironizou seu adversário de voltar atrás em seu plano de cortes amplos de impostos. "Bem, nos últimos 18 meses, ele defende este plano tarifário e agora, cinco semanas antes das eleições, ele diz que esta sua ideia audaciosa 'não tem importância'", disse Obama, depois que Romney negou que seus planos aumentariam o déficit do orçamento americano.

Em sua defesa, Romney acusou Obama de dar ideias falsas sobre seu plano de redução de impostos. "Virtualmente tudo o que ele disse sobre meu plano de impostos é impreciso", disse, desmentindo a afirmação do presidente de que o candidato republicano pede um corte de impostos de US$ 5 trilhões, ao lado de um aumento de gastos militares.

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Ao mesmo tempo em que Obama argumentou que seus planos levariam definitivamente ao crescimento do emprego, Romney disse que as políticas de Obama não conseguiram estimular a economia e fazer uma diferença significativa contra a taxa de 8,1% de desemprego. "O governador Romney tem uma perspectiva que diz que se cortamos impostos dos ricos e diminuirmos as regulações, será melhor. Eu tenho uma visão diferente", disse Obama. Romney, no entanto, acusou o democrata de depender demais de um governo grande.

"O presidente tem uma visão muito semelhante à que ele tinha quando concorreu à presidência há quatro anos, que é gastar mais, mais impostos, mais regulações, se quiser, que funcione o gotejamento do gasto do governo. Essa não é a resposta correta para os Estados Unidos", disse Romney.

Para explicar seu plano econômico, Romney citou cinco pontos: "diminuir a tributação, ter independência energética, abrir o comércio para América latina, defender as pequenas empresas e ter as melhores escolas."

Questionado sobre o papel do governo, o atual presidente disse que, para ele, o principal é manter o cidadão seguro, mas que ele também pode abrir oportunidades, sem restringir a liberdade das pessoas.

Romney afirmou que pretende manter os gastos militares e, citando Deus, disse que devemos nos ajudar, mas que o governo não pode fazer melhor que as "pessoas que buscam o seu próprio sonho". Para ele, o alto nível de desemprego do governo Obama é a prova de que o governo "não está funcionando".

Apesar de ter lembrado o fato de o país ter enfrentado uma grande crise financeira e ter ficado "à beira do colapso", Obama diz ter conseguido reagir com a criação de 5 milhões de empregos em 30 meses. Mas disse que a tarefa pela frente é de "reconstruir" o país, e reconheceu que falta muito a ser feito. "Os EUA vão pelo caminho certo, com investimentos em educação e em fontes renováveis de energia."

Medicare

Os candidatos também não entraram em um consenso em relação ao Medicare, programa de saúde para idosos --uma das grandes bandeiras do governo Obama. Em ironia à proposta de saúde do presidente, Romney chegou a nomeá-la de "Obamacare". "Gostei desse termo", agradeceu Obama, que passou a adotá-lo no decorrer do confronto.

Segundo Obama, o Medicare criou segurança para as famílias norte-americanas e alertou que uma eventual revogação da reforma da saúde que ele impulsionou poderia deixar 50 milhões de pessoas sem cobertura médica em um momento no qual isso tem uma "importância vital". No entanto, Romney disse que a população não quer o programa. A proposta do republicano é transferir a responsabilidade da iniciativa federal para os Estados.

O presidente criticou o plano de Romney de criar um voucher para o Medicare e disse que a medida acabaria deixando os idosos à mercê das empresas de seguros privados, o que, na opinião dele, acarretaria custos adicionais ao bolso do americano. "O sistema de assistência médica tradicional entrará em colapso com essa proposta e deixará pessoas como a minha avó à mercê do seguro de saúde privado."

Romney rebateu os ataques e acusou Obama de ter cortado US$ 716 bilhões do programa. "Eu não consigo entender como você pode cortar os US$ 716 bilhões do Medicare e dizer que está beneficiando os idosos". O presidente negou a afirmação e insistiu que seu plano de cortar custos para as companhias de seguros prevê que o dinheiro seja redirecionado para outras partes do sistema.

Crise europeia

Durante o debate, Mitt Romney afirmou que não quer "seguir o caminho da Espanha", que, segundo ele, dedica mais de 40% do seu orçamento público "ao governo". "A Espanha gasta 42% da sua economia total com o governo. Nós estamos gastando agora 42% da nossa economia com o governo. Não quero seguir pelo caminho da Espanha. Eu quero seguir o caminho do crescimento, que põe os americanos para trabalhar, com mais dinheiro que entra porque estão trabalhando", acrescentou o aspirante republicano.

Romney acusou Obama em várias ocasiões durante a campanha de fomentar políticas econômicas que, em sua opinião, levarão os EUA rumo à mesma grave crise que afeta a Europa.

Wall Street

Na quarta fase do debate, o candidato republicano assegurou que se for eleito em 6 de novembro eliminará a famosa Lei Dodd-Frank, desenhada para aumentar o controle das operações financeiras de risco após a crise de Wall Street em 2008.

"Necessitamos de regulações em Wall Street, mas não designar uma lista dos bancos que são grandes demais para quebrar", respondeu o candidato republicano ao ser questionado pelo moderador, Jim Lehrer, quanto ao seu parecer sobre a regulação.

Para enfatizar o excesso da regulação do setor, Romney citou a falência de 122 bancos comunitários. E, em contrapartida, disse que os grandes bancos receberam "um cheque em branco e por isso muitos bancos pequenos e regionais" sofreram as consequências. "Os bancos são reticentes a conceder empréstimos, hipotecas. Tente conseguir uma hipoteca hoje em dia. O mercado da moradia está ferido", insistiu.

Obama, porém, disse: "alguém acredita que o maior problema que nós tivemos é que havia muita supervisão e regulação sobre Wall Street? Se você acredita nisso, então o governador Romney é o seu candidato", disse o presidente.

Pesquisas

Uma pesquisa The Washington Post/ABC News divulgada nesta segunda (1º) mostra Obama com 49% e Romney com 47% em nível nacional, mas com 52% contra 41% entre os eleitores dos Estados indecisos. Já um levantamento da diário da Reuters/Ipsos mostrou nesta quarta-feira (3) Obama à frente entre os prováveis eleitores, com 47%, contra 41% de Romney. Uma nova pesquisa NPR trouxe Obama com 51%, contra 44% de Romney.

Em relação ao voto hispânico, o presidente democrata e seu vice Joe Biden contam com 70% de apoio, enquanto que a dupla Mitt Romney e Paul Ryan têm apenas 20% das intenções de voto, segundo nova pesquisa NBC News/The Wall Street Journal/Telemundo divulgada nesta quarta-feira (3).

As cifras confirmam uma tendência anunciada na véspera por uma análise da consultora Latino Decisions, que indicou que o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, só conseguirá 23% do voto hispânico, diante de 76% para o presidente democrata Barack Obama.

Próximos debates

Após o debate de Denver, os candidatos realizarão o segundo encontro no dia 16 de outubro na universidade de Hofstra, em Nova York, e o terceiro e último na universidade de Lynn, situada em Boca Raton, na Flórida, no dia 22 de outubro. No dia 11 de outubro ocorre o confronto entre os candidatos a vice de ambos os partidos.

Antes do debate de Nova York, uma nova medição do índice de desemprego, correspondente ao mês de setembro, deve ser divulgada e acirrar ainda mais a disputa. Com uma taxa acima dos 8% durante 43 meses consecutivos, o desemprego aparece como uma das principais questões nesta disputa eleitoral.

Trata-se de um número-chave, já que a economia se transformou em eixo do debate presidencial devido, principalmente, à fragilidade demonstrada pelos EUA após os efeitos da crise financeira de 2008. (Com informações de agências internacionais)