Topo

Nos EUA, olavista reforça favoritismo para assumir embaixada do Brasil

17.mar.2019 - Jair Bolsonaro (PSL) em jantar em Washington; à esquerda, na cabeceira da mesa, Nestor Forster Jr. (de gravata azul, ao lado de Eduardo Bolsonaro) - Alan Santos/PR
17.mar.2019 - Jair Bolsonaro (PSL) em jantar em Washington; à esquerda, na cabeceira da mesa, Nestor Forster Jr. (de gravata azul, ao lado de Eduardo Bolsonaro) Imagem: Alan Santos/PR

Luciana Amaral

Do UOL, em Washington

21/03/2019 04h00

O atual embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sergio Amaral, 74, está de aviso prévio informal. Diplomata já aposentado, ele havia voltado para os trabalhos em Washington D.C. a pedido do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). Agora, candidatos trabalham nos bastidores para assumir um dos postos mais almejados do Itamaraty.

O diplomata Nestor Forster Junior aproveitou a visita oficial do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ao presidente norte-americano, Donald Trump, para reforçar o próprio nome. Um dos favoritos à vaga, Forster Junior atualmente já trabalha como ministro de segunda classe --um degrau abaixo de embaixador na carreira do Itamaraty-- na embaixada em Washington.

Ele chegou a ser nomeado para ser o número dois do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em Brasília, em dezembro passado, mas o ato foi tornado inócuo dias depois.

Fã do escritor Olavo de Carvalho, um dos principais mentores da família Bolsonaro, Forster Junior foi à exibição do filme sobre a vida e os pensamentos do autoproclamado filósofo no sábado passado em um hotel de luxo pertencente a Trump.

No coquetel antes da sessão, entre pequenos goles de bebida à mão, conversou animadamente com convidados e, em especial, com o filho do presidente brasileiro e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), além do Olavo em si. Depois, se juntou aos dois e grupo de demais olavistas para jantar em espaço reservado no restaurante do local.

Ambos são os principais fiadores da indicação de Forster para virar embaixador nos Estados Unidos. O diplomata-candidato, inclusive, teria sido o responsável por apresentar Ernesto Araújo a Olavo.

No dia seguinte à chegada de Bolsonaro e sua comitiva aos Estados Unidos, o presidente foi jantar na residência da embaixada do Brasil na cidade. Entre os convidados, personalidades da cena conservadora dos Estados Unidos. Forster não só estava lá como se sentou na cabeceira da longa mesa onde realizaram a refeição.

Na saída do jantar, Olavo afirmou que o encontro havia o surpreendido positivamente pelos resultados esperados para a reunião com Trump, ocorrida na terça (19), e não ficou no "blá-blá-blá".

Bolsonaro já reclamou que iria trocar embaixadores brasileiros no exterior por não divulgarem uma imagem positiva dele. Além de ser de carreira e ter caído nas graças de Olavo, Forster conta a seu favor a certeza de que tem os mesmos pensamentos ideológicos de Bolsonaro, de Araújo e dos filhos do presidente.

Forster ainda tem bom trânsito entre assessores e entusiastas da administração de Trump. Outra vantagem é já conhecer os trâmites da Casa Branca e do Congresso norte-americano.

O cientista político Murillo de Aragão - Laycer Tomaz/Câmara dos Deputados - Laycer Tomaz/Câmara dos Deputados
O cientista político Murillo de Aragão, cotado para ser embaixador em Washington
Imagem: Laycer Tomaz/Câmara dos Deputados
O concorrente de Forster no páreo para a embaixada é um antigo conselheiro de Michel Temer e figura conhecida no mercado: o cientista político Murillo de Aragão, também fundador de empresa de consultoria com sede em Brasília Arko Advice.

Apoiado pela ala militar, com destaque para o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), Augusto Heleno, e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, Aragão é visto como opção se Bolsonaro quiser investir na relação comercial e de segurança junto aos americanos.

Ele é considerado a pessoa ideal para "vender" as reformas propostas pelo governo federal aos americanos, apontando para uma imagem de que o Brasil está se modernizando e abrindo mercado, além de ajudar a atrair empresários ao país.

No entanto, pesam contra sua nomeação o fato de não ser visto com bons olhos por parte do Itamaraty por não ser da carreira diplomática e de poder cair em conflitos de interesse, uma vez que, como embaixador, lidaria com empresas para as quais já prestou serviço de consultoria privado.

Ainda que ambos apresentem ótimas credenciais, a reportagem apurou ser consenso que a escolha do sucessor de Sergio Amaral por Bolsonaro dependerá da ala que estiver com maior influência no momento. E, por enquanto, após a viagem aos Estados Unidos, parece ser a dos olavistas.