Abuso de poder e intimidação: entenda o processo de impeachment de Trump
Resumo da notícia
- Trump teria pedido ao presidente ucraniano que investigasse Biden
- O democrata pode ser seu rival nas eleições do ano que vem
- Casa Branca teria agido para encobrir os registros do telefonema com o pedido
- Denunciante é um agente da CIA
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está diante de sua maior ameaça desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2017. Na terça-feira (24), a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, anunciou que a Casa abriria um processo de impeachment contra ele.
Se a maioria simples dos deputados aprovarem o pedido, Trump será julgado no Senado --dois terços dos senadores precisariam votar contra o presidente para tirá-lo do cargo.
A principal acusação contra Trump envolve um suposto pedido do americano ao presidente ucraniano Volodimir Zelenski, durante uma conversa por telefone, para que o governo do país europeu investigasse o democrata Joe Biden, pré-candidato à Presidência e possível rival de Trump nas eleições de 2020.
Com a divulgação da denúncia completa na quinta, uma nova acusação surgiu: de que a Casa Branca teria agido para encobrir os registros do telefonema entre os dois líderes momentos depois da ligação acontecer.
Trump nega ter cometido qualquer irregularidade. "Foi uma conversa perfeita com o presidente da Ucrânia", disse atacando os rivais democratas e questionando o denunciante, cuja identidade não é conhecida - segundo a imprensa americana, é um agente da CIA que trabalhava na Casa Branca.
O que diz a denúncia?
O principal ponto do agente, que protocolou formalmente a denúncia, diz respeito ao telefonema entre Trump e Zelenski.
Nele, o presidente americano sugere que o governo ucraniano investigue Joe Biden e seu filho, Hunter Biden, que fazia parte do conselho de uma empresa ucraniana de gás natural na época em que Biden era vice do ex-presidente Barack Obama.
Na conversa, Trump também pede que o ucraniano trabalhe em conjunto com o procurador-geral dos EUA, William Barr, e seu advogado pessoal e ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani.
O denunciante também afirmou que funcionários da Casa Branca contaram a ele que "encobriram", a mando de "advogados da Casa Branca", os registros eletrônicos da conversa.
Segundo o denunciante, os registros foram movidos do servidor onde seriam normalmente armazenados para um sistema codificado que, em tese, deveria proteger apenas informações consideradas sensíveis à segurança nacionais.
O denunciante afirmou também que não foi a primeira vez que a Casa Branca tomou essa medida em relação à transcrição de conversas do presidente.
O documento ainda levanta dúvidas sobre a postura de Trump em relação ao novo presidente da Ucrânia, que assumiu o poder em maio.
De acordo com a denúncia, o norte-americano observou qual seria o comportamento de Zelenski para saber se o teria como aliado, inclusive nas investigações contra Biden.
Depois da conversa telefônica, Trump elogiou publicamente Zelenski e prometeu um encontro entre os dois, atendendo a uma demanda do presidente ucraniano — país, em conflito com a Rússia, recebe muita ajuda financeira dos Estados Unidos.
Outro ponto da denúncia é a informação de que o governo Trump "congelou" por alguns meses um apoio previsto de cerca de US$ 400 milhões à Ucrânia. O denunciante, no entanto, disse que não conseguiu descobrir o porquê de esse bloqueio ter ocorrido.
Qual a gravidade das acusações?
Se prevalecer a tese de que Trump pediu que Zelenski investigasse Biden, o caso pode ser enquadrado como abuso do poder presidencial por parte do norte-americano. Essa tem sido o principal ponto apontado pelos defensores do impeachment - que, no entanto, é um julgamento basicamente político e é elemento central na disputa entre democratas e republicanos um ano antes da eleição presidencial.
Outro ponto indicado pelos defensores do impeachment é que Trump incitou um país estrangeiro a interferir nas eleições —onde Biden aparece como o pré-candidato democrata mais bem colocado nas pesquisas.
Já acusação de que a Casa Branca "acobertou" os registros, se comprovada, engrossa o discurso de abuso de poder de Trump e também pode atingir seus aliados.
Também há desconfiança sobre o motivo de a denúncia formal contra Trump não ter chegado diretamente ao Congresso, como seria o procedimento normal de um documento.
A Casa Branca bloqueou os congressistas do acesso ao documento até essa semana, justificando que as informações contidas nele eram de "privilégio presidencial".
Uma nova acusação contra Trump surgiu na quinta, quando jornais como o Washington Post publicaram uma transcrição de uma conversa do presidente na missão norte-americana na ONU dizendo que o denunciante era "quase como um espião".
"Você sabe o que costumávamos fazer antigamente, quando éramos espertos? Com espiões e traição, certo? Lidávamos com ele um pouco diferente do que fazemos hoje", disse Trump.
Até hoje, o código civil americano prevê que cidadãos condenados por traição estão sujeitos a pena de morte.
A fala de Trump causou revolta entre democratas e também engrossaria a tese de abuso de poder. "Ele soa como um criminoso", disse a senadora e pré-candidata democrata à Presidência Kamala Harris.
Outros três deputados democratas que chefiam comitês da Câmara divulgaram um comunicado conjunto afirmando que a citação constituía "intimidação de testemunha" e "uma tentativa de obstrução do inquérito de impeachment do Congresso".
Quem denunciou Trump?
Segundo o The New York Times e outros veículos americanos, o denunciante é um agente da CIA que havia sido deslocado para trabalhar na Casa Branca. Não há mais detalhes sobre sua identidade.
Sua postura e credibilidade foram defendidas pelo diretor interino de Inteligência, Joseph Maguire, durante testemunho ao Congresso na quinta-feira.
O autor começa a denúncia afirmando que ela ocorre é de "preocupação urgente".
"Em acordo com as minhas obrigações oficiais, recebi a informação de múltiplos agentes do governo de que o presidente dos Estados Unidos está usando o poder de seu cargo para solicitar interferência de um país estrangeiro nas eleições americanas de 2020."
Apesar de o denunciante não ter presenciado e nem tido acesso à transcrição da conversa telefônica, se baseando no relato de outros oficiais do governo, sua descrição sobre a conversa entre Trump e Zelenski se mostrou fiel à transcrição editada que a própria Casa Branca divulgou ao Congresso na quarta-feira, após a presidente da Câmara anunciar a abertura do pedido de impeachment.
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