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Esquadrões da morte na Colômbia aproveitam quarentena para matar ativistas

Federico Rios Escobar/The New York Times
Imagem: Federico Rios Escobar/The New York Times

Do UOL, em São Paulo

24/03/2020 11h06

Esquadrões da morte estão tirando proveito do período de quarentena na Colômbia para eliminar "rivais", dizem ONGs de proteção aos direitos humanos, segundo matéria do site The Guardian.

Na semana passada, três líderes sociais foram assassinados assim que entraram em vigor as medidas de bloqueio em várias cidades: Marco Rivadeneira foi morto na província de Putumayo, no sul; Alexis Vergara foi baleado na região de Cauca, no oeste; e Ivo Humberto Bracamonte morreu na fronteira leste com a Venezuela.

A Colômbia é considerada um dos locais mais perigosos no mundo para o ativismo social, e agora que o país se prepara para um fechamento nacional por 19 dias, previsto para ser iniciado amanhã, lideranças fazem alerta sobre o risco de mais mortes ocorrerem.

"Tenho recebido mais ameaças de morte desde que todo mundo começou a falar sobre o coronavírus", diz Carlos Paez, que trabalha em uma região de criação de gado perto da fronteira com o Panamá e atua em defesa dos direitos à terra. "Uma das mensagens dizia que eles sabem quem eu sou e que agora é a hora de me derrubar".

Os ativistas são alvo de grupos armados de diferentes origens, mas todos envolvidos no tráfico de drogas, mineração ilegal e extorsão.

Paez diz que se sente mais ameaçado porque tanto o sistema policial como o judiciário vão ser menos eficientes que de costume, em razão dos casos de covid-19.

"É horrível. Estou com medo pela minha vida", ele afirma.

Ficar em casa para se proteger do contágio torna os ativistas alvos fáceis, e ficar em circulação, por outro lado, aumenta o risco de contraírem o vírus.

"O governo tomou medidas drásticas para combater o vírus, mas não fez nada para nos proteger ou para nos informar sobre como fazer nosso trabalho", critica Héctor Marino Carabali, que vive em Cauca e normalmente só anda de carro blindado e com segurança providenciada pelo governo.

Na semana passada, o braço da ONU (Organização das Nações Unidas) que atua na defesa dos direitos humanos divulgou que grupos armados continuavam a cometer crimes brutais em Chocó, província onde Paez é o líder de uma comunidade. Três pessoas foram decapitadas e uma gestante foi assassinada.

Uma coalizão de ONGs locais e mais de cem comunidades rurais pediram um cessar-fogo entre os grupos armados durante a pandemia do novo coronavírus. Muitas lideranças acusam o presidente do país, Iván Duque, de não fazer o suficiente para reprimir o derramamento de sangue.

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