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Protestos antirracismo nos EUA se intensificam apesar de ameaça de Trump

02.jun.2020 - Protesto contra a brutalidade policial em Washington, nos EUA - Getty Images
02.jun.2020 - Protesto contra a brutalidade policial em Washington, nos EUA Imagem: Getty Images

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

03/06/2020 01h30

Os Estados Unidos entraram em sua oitava noite de protestos contra o racismo, motivados pela morte de um homem negro causada por um policial branco. Apesar da ameaça do presidente Donald Trump de colocar o exército nas ruas, as manifestações continuaram com força e contaram com a adesão de artistas, esportistas e atos nas redes sociais.

Os protestos começaram há uma semana, após George Floyd, um homem negro, ser morto em uma abordagem do policial Derek Chauvin em Minneapolis. Uma investigação independente concluiu anteontem que Floyd morreu de asfixia, depois que Chauvin apertou o seu pescoço com o joelho. Segundo os médicos que conduziram as investigações, Floyd já estava morto quando foi colocado na ambulância.

Desde então, manifestações estão surgindo em diversas cidades, com relatos de saques e violência policial em algumas delas. Os estados da Califórnia, Geórgia, Ohio e Nova York têm cidades sob toque de recolher para conter os protestos.

No início da noite de segunda-feira (1º), Trump prometeu utilizar o Insurrection Act de 1807 para colocar a Guarda Nacional nas ruas, a fim de conter os manifestantes. O presidente criticou os atos e se colocou como um mantenedor da lei e da ordem no país para "proteger as famílias".

A promessa não só não conteve os manifestantes nas duas últimas noites, como inflou ainda mais os protestos, além de causar reações de figuras públicas.

A Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia (UE) se manifestaram. O chefe de diplomacia da UE, Josep Borrell, afirmou em discurso televisionado que a organização está "chocada" e "horrorizada" com a morte de Floyd.

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, também se pronunciou sobre os episódios no país. Segundo ela, a pandemia do novo coronavírus e os protestos ressaltam a "discriminação racial endêmica". "Nos Estados Unidos, as manifestações (...) destacam não apenas a violência policial contra os cidadãos de cor, mas também as desigualdades no âmbito da saúde, educação e emprego e também a discriminação racial endêmica."

700 prisões nas duas últimas noites

Mesmo com o toque de recolher em algumas cidades, os manifestantes voltaram às ruas e houve ao menos 700 prisões nas últimas duas noites.

Trump reiterou sua ameaça de mobilizar o Exército e afirmou que Washington "não teve problemas", elogiando o papel da polícia, que dispersou com gás lacrimogêneo manifestantes reunidos do lado de fora da igreja Saint John. Cerca de 300 pessoas foram detidas em Washington, a maioria por desrespeitar o toque de recolher.

A prefeita de Washington, Muriel Bowser, criticou o destacamento militar "nas ruas contra os americanos", em sintonia com vários governadores democratas. O procurador-geral Bill Barr rebateu, avisando que haverá um destacamento "maior".

"Trump não vai dominar Nova York"

A procuradora-geral do estado de Nova York, Letitia James, prometeu tomar medidas legais para assegurar os direitos constitucionais da população, caso Trump cumpra a sua promessa. "O presidente dos Estados Unidos não é um ditador e não vai dominar o estado de Nova York. De fato, o presidente não tem o direito de enviar unilateralmente militares dos EUA aos estados."

Até mesmo o ex-presidente republicano George W. Bush pediu aos Estados Unidos que examinem suas "falhas trágicas" para acabar com o "racismo estrutural".

Candidato democrata para as eleições presidenciais, Joe Biden também usou a expressão "racismo estrutural" para criticar a atitude de Trump.

Artistas, esportistas e figuras políticas se juntaram para ajudar os manifestantes com doações e pagamento de fianças para os presos. Em apoio ao movimento "Black Out Tuesday", que promove um "apagão" nas empresas e negócios para manter o foco nas manifestações relacionadas ao "Black Lives Matter", a cantora Rihanna fechou o comércio de suas marcas Fenty Beauty, Fenty e Savage X Fenty.

Nas redes sociais, a hashtag "Black Out Tuesday" pintou Twitter, Facebook e Instagram de preto hoje, enquanto os protestos se espalharam para outros continentes, com manifestações em Paris, Tel Aviv, Sydney e Buenos Aires, entre outras cidades.

"Ele era bom"

A mãe de Gianna, a filha de George Floyd, se emocionou e lamentou pelo fato de que ele não poderá ver a garota crescer e levá-la ao altar.

"Eu não consigo organizar as minhas palavras agora, mas eu quero que todo mundo saiba que foi isso que aqueles policiais tiraram. No fim do dia, eles podem ir para casa e ver suas famílias. Gianna não tem mais pai. Ele nunca a verá crescer, se formar", disse Roxie Washington.

Ele nunca poderá levá-la para o altar [se Gianna se casar um dia]. Se ela tiver um problema e precisar do pai, ela não terá mais isso. Eu estou aqui pela minha bebê e estou aqui pelo George. Quero que seja feita justiça por ele."
Roxie Washington, mãe da filha de George Floyd

Além de Chauvin, que já foi acusado de assassinato e homicídio culposo em terceiro grau e está em uma prisão de segurança máxima, os advogados da família Floyd informaram que os outros três agentes envolvidos no caso também responderão judicialmente.