Como a Geórgia virou um decisivo campo de batalha nas eleições dos EUA
Dois meses após as eleições nos EUA, o estado da Geórgia voltou às manchetes dos jornais americanos. O antigo reduto republicano escolheu o democrata Joe Biden para a Presidência, mas, depois de uma votação exaustiva, marcada por recontagens e acusações de fraudes por parte de Donald Trump, assiste a uma possível pressão política.
Afinal, por que o estado se tornou um campo de batalha tão decisivo nessas eleições?
Historicamente o estado daria uma vitória garantida aos republicanos. Desde 1992, quando foi escolhido Bill Clinton, o estado não elegia um democrata. Porém, nas semanas precedentes às eleições de 3 de novembro, o local demonstrou que não seria tão favorável a Trump.
Em 13 de novembro, pela primeira vez em quase 30 anos, um republicano perdeu no estado. E novamente duas vezes depois. Trump se recusou a aceitar o resultado, falando em fraude e pedindo recontagens. Nas duas checagens, foi confirmada a vitória de Biden.
Na noite das eleições, o republicano enfrentava um cenário apertado, mas ainda favorável. Quando começaram a chegar os votos de Atlanta, a situação se inverteu. Analistas apontam diversos motivos para essa virada azul no mapa, mas destacam uma: o movimento negro.
A Geórgia tem força nos movimentos negros, sendo Atlanta a cidade berço de Martin Luther King Jr. Nos últimos anos, esses votos foram sendo represados, até que a morte de George Floyd fez ressurgir uma insatisfação latente com a forma como republicanos têm lidado com a questão racial.
Atlanta foi palco de diversas manifestações do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam, em inglês), o que já indicava uma dificuldade para Trump. Depois de manifestações públicas do presidente contra os protestos antirracistas, estudiosos passaram a prever uma trajetória difícil no estado, mas não cravaram a derrota. Quando ela se sacramentou, despertou as intensas reações de Trump.
A equipe do presidente entrou em uma cruzada contra os próprios republicanos do estado: o governador Brian Kemp e o secretário de Estado, Brad Raffensperger. As acusações de Trump forçaram uma recontagem manual dos quase 5 milhões de votos. Em 20 de dezembro, Kemp certificou o resultado, garantindo os preciosos 16 delegados para Biden.
A pequena margem de vitória, no entanto, permitia a Trump pedir uma nova recontagem. Nada provou a tese do republicano.
Já contamos as cédulas legalmente lançadas três vezes e os resultados permanecem inalterados. Eu sei que há pessoas que estão convencidas de que a eleição foi repleta de problemas, mas as evidências, as evidências reais, os fatos nos contam uma história diferente.
Brad Raffensperger, secretário de Estado da Geórgia em 7 de dezembro
O que parecia já ser uma briga resolvida ganhou novos desdobramentos no último fim de semana. No domingo, o jornal americano "The Washington Post" revelou que Trump telefonou para Raffensperger no sábado, tentando pressioná-lo para reverter a derrota.
Na conversa, Trump dizia para o secretário "encontrar votos" que garantissem sua vitória. Democratas já pediram a abertura de uma investigação criminal contra o presidente.
Disputa no Senado
Perdida a batalha pela Presidência, agora o foco é nas vagas ao Senado. Novamente era para ser uma briga favorável aos republicanos da Geórgia, mas não é o que aparenta. Se os democratas vencerem a disputa local, acaba a maioria republicana na Câmara Alta.
Atualmente, democratas controlam a Câmara Baixa do Legislativo, equivalente à Câmara dos Deputados, em Brasília. Os republicanos têm a maioria no Senado por 52 a 48. A batalha na Geórgia, no entanto, ameaça esse cenário e pode transformar o cenário em 50-50, o que seria uma vitória para os democratas. Como a vice-presidente Kamala Harris vai assumir a liderança da Casa, Biden não terá dificuldades para aprovar propostas.
Hoje, os cidadãos da Geórgia vão novamente às urnas para escolher representantes nas duas cadeiras em disputa para o Senado. Pela regra do estado, se nenhum candidato ultrapassa 50% dos votos, os dois primeiros colocados disputam o segundo turno. É isso o que ocorre hoje, com votações antecipadas desde 14 de dezembro.
Na primeira vaga, o republicano David Perdue concorre contra o documentarista democrata Jon Ossoff. Na segunda vaga, a republicana Kelly Loeffler disputa com o reverendo democrata Raphael Warnock.
As pesquisas mostram Warnock à frente de Loeffler e um empate entre os outros dois oponentes.
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