Rússia volta a descumprir cessar-fogo para saída de civis, diz Ucrânia
A Ucrânia voltou a dizer hoje que a Rússia não está cumprindo o cessar-fogo acordado para saída dos civis de cidades atacadas no país. A evacuação foi retomada nesta quarta-feira (9) a partir das 9h e deveria se encerra 21h, no horário local (das 4h às 16h, em Brasília).
Em meio ao que deveria ser uma trégua, um hospital infantil de Mariupol, uma das cidades selecionadas para a evacuação, foi atacado pelo Exército russo, segundo informou o governo ucraniano. "Uma maternidade no centro da cidade, uma ala infantil e um departamento de medicina interna. Tudo isso foi destruído durante o ataque aéreo russo em Mariupol", disse Pavlo Kyrylenko, chefe da administração regional de Donetsk.
Segundo Kyrylenko, 17 pessoas ficaram feridas — entre elas, mulheres em trabalho de parto e médicos. Não há registro de mortes.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, publicou nas redes sociais sobre o ataque e pediu para que os ataques parem. "Pessoas, crianças estão sob os destroços. Atrocidade! Por quanto tempo mais o mundo será um cúmplice ignorando o terror?", escreveu.
Há dias Mariupol tenta evacuar civis. Segundo o governo, não há água, nem eletricidade. Informações do site Sky News afirmam que cerca de 1.200 pessoas morreram na cidade nos últimos 14 dias.
Ontem, autoridades ucranianas já haviam dito que os ataques russos continuavam mesmo com o anúncio do cessar-fogo. Nesta quarta-feira, a invasão da Rússia ao território ucraniano chega ao 14º dia.
Em outro impasse, em Stoyanka, região de Kiev, capital da Ucrânia, forças russas bloquearam hoje 50 ônibus que transportavam pessoas para o corredor humanitário, segundo autoridades ucranianas. "As negociações estão em andamento para desbloquear o tráfego", informou o conselho da cidade de Bucha.
Em Kharkiv, segundo o chefe da administração estadual regional do local, Oleg Synegubov, também há dificuldade para evacuação dos civis. Kharkiv é a segunda maior cidade da Ucrânia.
"No momento, não podemos evacuar a população devido a explosões nos subúrbios", disse, em comunicado. "Apesar dos compromissos do lado russo, o bombardeio continua", completou.
Seis corredores
Os seis trajetos de evacuação de hoje acordados entre Ucrânia e Rússia são:
- Energodar-Zaporizhia
- Sumy-Poltava
- Mariupol-Zaporizhia
- Volnovakha-Pokrovsk
- Izium-Lozova
- Vorzel, Bucha, Irpin, Borodyanka, Gostomel-Kiev
Pelos relatos das autoridades ucranianas, não fica claro para onde as pessoas estão indo. Algumas rotas indicam apenas um deslocamento interno.
Ontem, com o corredor, Sumy conseguiu evacuar cerca de 5.000 pessoas, segundo Zhyvytskyi. De acordo com o chefe da administração regional da região, Dmytro Zhyvytsky, isso foi possível após a equipe de negociação ter trabalhado "a noite toda".
Mas, na madrugada de hoje, antes do horário do cessar-fogo, houve um ataque aéreo na região. Cinco pessoas, incluindo duas crianças, foram resgatadas dos escombros.
De acordo com Zhyvytskyi, por volta das 3h (22h de ontem no horário de Brasília), houve dois ataques aéreos, com bombardeio, em Okhtyrka, a cerca de 70 quilômetros de Sumy. "Atualmente, não há conexão com Okhtyrka", disse o administrador.
Saída na região de Kiev
A prefeitura da capital ucraniana, Kiev, diz que "está ajudando na evacuação e ajuda humanitária" nas cidades próximas.
"Pedimos a todos que sigam rigorosamente as instruções dos policiais, tragam documentos e coisas, mantenham a calma", disse a polícia em comunicado.
Segundo Timoshenko, crianças foram evacuadas de um orfanato em Vorzel. "Planejamos colocar as crianças no hospital infantil em Kiev", disse. Uma maternidade em Vorzel também foi evacuada.
Chernobyl
Além dos ataques e da busca pela retirada de civis, outro ponto de preocupação da Ucrânia é com as usinas nucleares. Hoje, o assessor do presidente da Ucrânia, Mikhaylo Podolyak, disse que IAEA (sigla em inglês para Agência Internacional de Energia Atómica) perdeu conexão com o sistema de monitoramento da usina de Chernobyl, que foi tomada pelos russos.
A empresa responsável diz que a usina está sem energia, com risco de emitir radiação.
Substâncias radioativas podem ser liberadas da extinta usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, porque ela não pode resfriar o combustível nuclear armazenado após a interrupção de sua conexão de energia, disse nesta quarta-feira a Energoatom, a empresa nuclear estatal da Ucrânia. O trabalho para reparar a conexão e restaurar a energia da usina, que foi ocupada pelas tropas russas, não foi possível porque os combates estão em andamento, disse a empresa.
Em mensagem publicada em seu perfil no Twitter, Podolyak citou que IAEA perdeu a conexão com Chernobyl. "No momento, ninguém entende o que está acontecendo em Chernobyl e o que está ameaçando a região. Uma situação extremamente perigosa", escreveu, sem entrar em detalhes.
A IAEA, disse, também pelas redes sociais, que "a carga de calor da piscina de armazenamento de combustível usado e o volume de água de resfriamento na usina nuclear de Chernobyl são suficientes para a remoção eficaz de calor sem necessidade de fornecimento elétrico".
Segundo o Serviço Estatal de Comunicações Especiais e Proteção da Informação da Ucrânia, "todo o pessoal" na usina nuclear "receberá uma dose perigosa de radiação". "O sistema de extinção de incêndio também não funciona, e isso é um grande risco de incêndio causado por bombardeios. A luta continua impossibilitando a realização de reparos e restabelecimento da energia", disse, em comunicado nas redes sociais. "Além disso, não há ventilação dentro da instalação."
Já o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que "há riscos de provocações nucleares de Kiev". Segundo relato da imprensa russa, "o estabelecimento do controle sobre as usinas nucleares foi feito apenas para evitar tais provocações".
Rússia diz ver avanços
A Rússia avalia que há "progressos" nas negociações com a Ucrânia. A declaração é da porta-voz do Ministério russo das Relações Exteriores, Maria Zakharova. "Houve alguns progressos" nas negociações destinadas a "pôr fim, o quanto antes, ao banho de sangue sem sentido e à resistência das Forças Armadas ucranianas", disse ela hoje, em entrevista coletiva, afirmando que a Rússia não pretende "derrubar o governo" ucraniano.
Para ela, a Rússia vai atingir seu objetivo de assegurar a neutralidade da Ucrânia e diz que o governo russo prefere fazer isso por meio de negociações.
Zelensky reforça pedido
Já o presidente da Ucrânia disse hoje mais cedo que a comunidade internacional será responsável por uma "catástrofe humanitária" em massa se não concordar em implementar uma zona de exclusão aérea para proteger seu país.
Em seu pronunciamento diário na televisão, ele disse que o nível de ameaça está no máximo, praticamente duas semanas após a invasão russa da Ucrânia, mas que os ucranianos mostraram que nunca desistirão. "A Rússia usa mísseis, aviões e helicópteros contra nós, contra civis, contra nossas cidades, contra nossa infraestrutura. É dever humanitário do mundo responder", disse.
Ocidente aumenta isolamento da Rússia
Hoje, os 27 membros da UE (União Europeia) ampliaram suas sanções contra Rússia após a invasão da Ucrânia, anunciou a presidência francesa do Conselho da UE. Eles adotaram novas restrições dirigidas ao setor marítimo e às criptomoedas, além de acrescentar líderes e oligarcas russos à sua lista negativa, segundo a Presidência francesa.
Ontem, a proibição às importações de petróleo russo anunciadas pelos Estados Unidos elevou o patamar das punições impostas pelos países ocidentais à Rússia.
Várias grandes empresas ocidentais anunciaram a suspensão de seus negócios na Rússia, aumentando o isolamento internacional do país. Entre estas, a General Electric, as redes McDonald's e Starbucks e as gigantes Coca-Cola Company e PepsiCo.
(Com Reuters, AFP e DW)
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