'Não falei que ia embora', diz brasileiro que saiu da Ucrânia após ataque
O instrutor de tiro brasileiro Tiago Rossi, 28, que revelou em vídeo que foi para a Polônia após um ataque aéreo russo neste domingo (13) a uma base militar da Legião Internacional de Defesa do Território da Ucrânia, disse ter retornado ao "combate" para "salvar pessoas".
Em entrevista ao UOL, ele negou que tivesse cogitado deixar a Ucrânia definitivamente após o bombardeio que matou ao menos 35 pessoas na região de Lviv, a 25 km da fronteira com a Polônia. "Não falei que ia embora. Só reorganizamos a equipe [na Polônia] e já voltamos. Sei que provavelmente eu vá morrer aqui. Quero morrer com dignidade para minha família".
Em uma postagem nos stories do seu perfil do Instagram, Rossi já havia dito que permaneceria no país. "Estou aqui [na Ucrânia], estou bem, estou conseguindo ajudar muitas pessoas e estou muito feliz com isso".
Questionado pela reportagem, não quis revelar onde estava. Também se negou a repassar fotos ou informar quantos outros combatentes estavam com ele. "Se fizer isso, é minha sentença de morte", justificou.
Estamos andando em vilarejos. Resgatamos uma família que perdeu três pessoas e teve a casa destruída. São ginásios lotados de mulheres, idosos e crianças na fronteira, todos na mesma situação. Tem noção disso? É uma das piores coisas que vi na minha vida"
Tiago Rossi, instrutor de tiro
Rossi rebateu a repercussão negativa do vídeo postado anteriormente (veja abaixo), quando revelou estar em um ônibus na Polônia após o bombardeio russo que atingiu a base militar ucraniana. "Todos criticando de casa é fácil. Não vou embora, vou cumprir minha missão aqui".
Contudo, não respondeu se ainda faz parte da Legião Internacional de Defesa do Território da Ucrânia ou se está agindo por conta própria com outros colegas. "Não posso dizer porque os russos estão querendo minha cabeça", justificou.
O vídeo feito logo após o ataque russo, quando deixou o território ucraniano, deixou dúvidas sobre a relação dele com a unidade de combatentes estrangeiros. Ao relatar o bombardeio, Rossi disse apenas ter informado ao seu superior hierárquico de que iria deixar o local, mesmo sem orientação da unidade. "Falei com o comandante da legião, avisei que a gente ia sair. Eles quiseram ficar na base".
Na ocasião, ele afirmou ainda ter recebido orientação de deixar o local "o mais rápido possível" após fazer contatos com pessoas de fora da unidade sem mencionar quem seriam.
Perfil bolsonarista na internet
Em suas redes sociais no Brasil, o instrutor de tiro exibe um perfil bolsonarista —já reproduziu mensagens negacionistas, de apoio à intervenção militar, publicações de cunho homofóbico e favoráveis à política armamentista defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Postou um vídeo de uma tentativa de assalto a um veículo estacionado. Nas imagens, o proprietário do carro desembarca e atira no criminoso, que aparentemente morre no local. "Mais um CPF cancelado", escreveu na legenda.
Em meio a inúmeras fotos com armas, Rossi chegou a publicar uma imagem de outubro de 2019 ao lado de um amigo, quando estava hospitalizado após ser atingido por uma descarga elétrica. Na imagem, faz com as mãos o tradicional gesto de apoio à política armamentista no país.
Apoiou intervenção militar no Brasil
Em uma postagem de março de 2021 em seu perfil no Facebook, Rossi fez convocação para um ato golpista de apoio à intervenção militar no Brasil e contrária ao STF (Supremo Tribunal Federal).
Ele também postou uma mensagem negacionista em relação às medidas de prevenção contra a covid-19 em junho de 2021, ao reproduzir uma reportagem em que o presidente defende o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras.
Rossi ainda republicou uma entrevista homofóbica concedida pelo ex-deputado conservador Enéas Carneiro, morto em maio de 2007.
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