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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Ucrânia duvida de promessa da Rússia e exige 'retirada completa' por paz

Do UOL*, em São Paulo

30/03/2022 05h15Atualizada em 30/03/2022 10h57

A Ucrânia quer a "retirada completa das tropas russas" para firmar um tratado de paz com a Rússia. A declaração é de David Arakhamia, líder da delegação ucraniana nas negociações com os russos. Ontem, os dois países tiveram uma reunião em Istambul, na Turquia, e deram uma sinalização em busca de um acordo, apesar do ceticismo por parte dos ucranianos —e até dos próprios russos—, que relataram novos ataques ao país nesta quarta (30), 35º dia da guerra.

"A principal condição para a assinatura de um tratado de paz com a Rússia é a retirada completa das tropas russas dos territórios ocupados desde 24 de fevereiro", disse Arakhamia.

"Quando chegarmos à assinatura condicional do tratado ou ao momento em que já puder ser discutido seriamente, eles terão que sair completamente", completou. "E então nos sentaremos para assinar". Os ucranianos já apresentaram suas demandas à Rússia.

"Acreditamos? Claro que não"

A promessa da Rússia de reduzir radicalmente as atividades militares na região de Kiev, capital da Ucrânia, e Chernihiv, no norte, é vista com ceticismo por ucranianos um dia após a reunião entre delegações dos dois países na Turquia —os ucranianos continuam em território turco para outras reuniões; os russos já deixaram o país. A região de Kiev, inclusive, terá toque de recolher entre hoje e amanhã, indicando ainda haver tensão.

chernihiv - Reprodução/Facebook/denisovaombudsman - Reprodução/Facebook/denisovaombudsman
Foguete é encontrado perto de parque infantil em Chernihiv, no norte da Ucrânia
Imagem: Reprodução/Facebook/denisovaombudsman

"Ontem, os russos declararam publicamente que estavam reduzindo suas ações e atividades ofensivas nas áreas de Chernihiv e Kiev. Acreditamos nisso? Claro que não", disse Vyacheslav Chaus, governador da região de Chernihiv. "E estamos prontos para qualquer desenvolvimento. E enfrentar o inimigo na região de Chernihiv também é o que fazemos."

Segundo Chaus, uma cidade próxima foi atacada e que "o inimigo vagou Chernihiv a noite toda", que também foi atingida por ações russas. Em Kiev, a administração local já avisou que, mais uma vez, não haverá corredores de evacuação na região. Sirenes de alerta para ida a abrigos ao menos cinco vezes ao longo desta quarta-feira (30), segundo levantamento do UOL feito até as 5h45, horário de Brasília, de hoje.

A região da capital, Kiev, também terá toque de recolher das 21h de hoje (15h, em Brasília) até as 6h de amanhã (0h, no Brasil). Oleksandr Pavliuk, chefe da Administração Militar Regional de Kiev, disse que "essa é uma medida necessária". "Seu objetivo é proteger os moradores da região."

Leste ucraniano

Ontem, a Rússia anunciou que a primeira etapa da "operação militar" —como chama a invasão à Ucrânia— está concluída, e que passaria a focar nas regiões separatistas. Hoje, houve registro de ataques na região de Lugansk, no leste do país. Ao menos uma pessoa morreu, segundo informações iniciais do serviço de emergências da Ucrânia.

Hoje, o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, disse que as negociações não resultaram em nada muito promissor ou qualquer avanço. "Há muito trabalho por fazer."

Em comunicado nesta quarta, o Ministério da Defesa da Rússia criticou o governo do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, dizendo que "expôs repetidamente as mentiras cínicas que o regime nacionalista de Kiev usa para manter seu poder na Ucrânia e enganar a comunidade mundial".

O governo russo voltou a afirmar que, "durante uma operação militar especial, as forças armadas russas não atacam alvos civis" e disse que o "regime de Kiev" usa locais civis "como pontos de coleta e transporte de armas" e "para participar das hostilidades".

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Hostilidades

"Infelizmente, não há como dizer que os russos estão reduzindo a intensidade das hostilidades nas direções de Kiev e Chernihiv", disse Vadym Denysenko, assessor do Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia.

Ele relatou que sirenes de ataques aéreos soaram em quase toda a Ucrânia à noite, e relatou que houve bombardeios em Chernihiv e que foguetes foram abatidos sobre Kiev.

O Ministério da Defesa da Ucrânia, em relatório nesta terça, disse que, no norte do país, "o inimigo concentrou seus esforços em atividades de sabotagem e reconhecimento", também mencionando "ataques de artilharia em posições de unidades das Forças Armadas da Ucrânia e instalações de infraestrutura próximas à cidade de Chernihiv".

"Em Kiev, até onde podemos falar agora, vários mísseis foram derrubados sobre a capital. Agora a situação está sendo esclarecida", disse. De acordo com Denysenko, na região de Kiev, de fato, combates em Irpin foram ouvidos a noite toda.

Apesar dos ataques, o governo ucraniano observa uma diminuição na quantidade de soldados russos na região de Kiev, algo que não é visto na área de Chernihiv, de acordo com Oleksiy Arestovych, conselheiro presidencial ucraniano.

"Podemos dizer que certas unidades e equipamentos estão entrando no território de Belarus. Isso é mais como uma rotação e lamber as feridas do que uma verdadeira suspensão das hostilidades", disse Denysenko, segundo relato da imprensa ucraniana.

Reorganização

Essa análise é parecida com a da inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido, que disse que "as unidades russas que sofreram grandes perdas foram forçadas a retornar a Belarus e à Rússia para se reorganizar e reabastecer". "Essa atividade está pressionando ainda mais a logística já tensa da Rússia e demonstra as dificuldades que a Rússia está tendo para reorganizar suas unidades em áreas avançadas dentro da Ucrânia."

Para os britânicos, "a Rússia provavelmente continuará a compensar sua capacidade reduzida de manobra terrestre por meio de artilharia em massa e ataques com mísseis". "O foco declarado da Rússia em uma ofensiva em Donetsk e Lugansk é provavelmente uma admissão tácita de que está lutando para sustentar mais de um eixo significativo de avanço."

O inimigo demonstrou uma 'diminuição da atividade' na região de Chernihiv ao atacar Nizhyn, inclusive por via aérea, e passou a noite inteira atingindo Chernihiv. A infraestrutura civil foi destruída novamente. Bibliotecas, shoppings, outras instalações e muitas casas foram destruídas. Porque, de fato, o inimigo vagou Chernihiv a noite toda
Vyacheslav Chaus, governador da região de Chernihiv

Nesse cenário, o governo ucraniano ainda pede sanções à Rússia e mais armas aos países ocidentais.

"Todos devem entender hoje que nossos principais esforços na luta contra a Rússia terão como objetivo convencer os parceiros ocidentais da necessidade de um embargo de petróleo urgente e da transferência de armas pesadas para a Ucrânia, incluindo sistemas de defesa aérea, aeronaves e artilharia", disse, hoje, o chefe de gabinete da Presidência da Ucrânia, Andriy Yermak.

Ataque em região separatista

Prédios residenciais foram atingidos por "intensos bombardeios", segundo o serviço de emergências da Ucrânia, em Lysychansk, a cerca de 740 quilômetros de Kiev. A cidade fica na região separatista de Lugansk.

russo - Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia - Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia
Equipes de resgate buscam por vítimas em Lysychansk após ataque russo
Imagem: Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia

Ao menos uma pessoa morreu. "Provavelmente, há pessoas sob os escombros", disse o serviço, que disse que as informações sobre mortos e feridos ainda estão sendo apuradas.

Para o Ministério da Defesa da Ucrânia, as forças russas "planejam realizar outra onda de mobilização a partir de 1º de abril" na região de Lugansk. "É possível que tais esforços sejam feitos nos territórios recentemente ocupados da região."

O Ministério da Defesa da Rússia disse que, com mísseis, destruiu, no oeste da Ucrânia, "grandes depósitos de combustível", que serviria para "veículos blindados das tropas ucranianas" atuarem no leste separatista. Na região de Donetsk, dois depósitos de foguetes e armas de artilharia foram atacados pelos russos.

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O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, teve encontro com Wang Yi, ministro chinês da mesma área, em Tunxi, na China
Imagem: Ministério das Relações Exteriores da Rússia

Mundo multipolar

"Estamos passando por uma fase séria na história das relações internacionais", disse, hoje, o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que está em viagem à China. A declaração foi feita a Wang Yi, ministro chinês da mesma área.

Lavrov disse estar "convencido de que a situação internacional ficará muito mais clara" após este período. "Junto com você e com outras pessoas que pensam da mesma forma, avançaremos em direção a uma ordem mundial multipolar, justa e democrática."

O ministro russo desembarcou nesta quarta-feira na China para uma reunião de dois dias sobre o Afeganistão. É a primeira visita à China desde o início da guerra com a Ucrânia. O governo chinês se recusou a condenar a intervenção militar da Rússia na Ucrânia e criticou as sanções ocidentais contra Moscou.

Durante os encontros sobre o Afeganistão, Lavrov fez uma crítica aos Estados Unidos. "Aqueles que tentaram colocar o Afeganistão no centro da política mundial estão agora tentando substituir o Afeganistão pela Ucrânia. E todos nós sabemos do que se trata realmente." Os militares americanos deixaram o país do Oriente Médio no ano passado.

(Com Reuters e AFP)