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Guerra da Rússia-Ucrânia

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ONU diz entender 'queixas', mas lembra que Rússia invadiu a Ucrânia

Do UOL*, em São Paulo

26/04/2022 05h15Atualizada em 26/04/2022 10h54

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, defendeu a organização sobre as reclamações da Rússia a respeito dela e de outros países. Guterres —que teve hoje (26) um encontro, em Moscou, com o ministro das Relações Exteriores da Rússia— ressaltou que "há um grande número de mecanismos nos quais as queixas podem ser tratadas".

Em seguida, o secretário-geral citou um ponto que "é verdadeiro e óbvio, e nenhum argumento pode mudar". "Não temos tropas ucranianas no território da Federação Russa, mas temos tropas russas no território da Federação Ucraniana." Logo na sequência, Lavrov disse apenas: "eu confirmo isto". Nesta terça (26), a ONU deverá ter uma votação para que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança justifiquem o recurso do veto, algo que a Rússia tem direito, o qual foi defendido por Lavrov.

O encontro de Guterres com Lavrov acontece em meio à invasão russa ao território ucraniano, que já completou dois meses. Nesta terça, também há expectativa pelo encontro entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin. É a primeira vez que eles se reunirão desde que a Rússia iniciou o conflito, em 24 de fevereiro. Na quinta (28), o secretário-geral irá se encontrar com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

No início do encontro, Guterres disse que a ONU entende que há uma "situação complexa" na Ucrânia, mas pediu diálogo e indicou que quer reduzir o sofrimento das pessoas. "Estamos extremamente interessados em encontrar uma forma de criar condições para um diálogo efetivo, criar condições para um cessar-fogo o quanto antes, criar condições para uma solução pacífica." Ele ainda falou que tem o interesse em fazer o possível para encerrar a guerra o mais breve.

Após a reunião, Guterres disse, em pronunciamento à imprensa, que foi à Rússia como "mensageiro da paz" e que teve uma conversa franca com Lavrov.

Ele também falou na possibilidade de um grupo entre Rússia, Ucrânia e ONU para criação de corredores de evacuação "verdadeiramente seguros", em referência à situação de Mariupol, cidade portuária na Ucrânia que está sitiada pelos russos. Lavrov, por sua vez, comentou que foram discutidas possíveis ações para fortalecer a cooperação entre a Rússia e a ONU sobre corredores humanitários.

O ministro russo também disse que a situação em torno da Ucrânia catalisa problemas que se acumularam nas últimas décadas "na área euro-atlântica". "Em grande medida, ela foi se acumulando e aconteceu como resultado do rumo tomado pelos nossos colegas americanos e seus aliados para a expansão ilimitada da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]." Ontem, Lavrov falou que não se poderia subestimar o risco de conflitos nucleares.

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, fala com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em reunião em Moscou
Imagem: Maxim Shipenkov/AFP

"Culpa do Ocidente"

O embaixador da Rússia nos Estados Unidos, Anatoly Antonov, disse que "o conflito ucraniano foi deliberadamente provocado pelo Ocidente". A análise de Antonov foi feita no final da noite de ontem (25), mesmo dia em que secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, disse querer "ver a Rússia debilitada a um nível que não possa fazer o tipo de coisas que tem feito ao invadir a Ucrânia". Após visita de Austin a Kiev, o governo dos Estados Unidos prometeu verba para compra de armas pela Ucrânia

Hoje (26), Austin tem um encontro com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, dentro do Grupo Consultivo de Segurança da Ucrânia.

Segundo a Otan, a reunião, em base aérea americana na Alemanha, é organizada por Austin e se concentrará "na crise na Ucrânia e as questões de segurança relacionadas com os aliados e parceiros". Representantes da área de Defesa de cerca de 40 países também participam. A Alemanha já prometeu que autorizará a entrega de tanques à Ucrânia.

No encontro, Austin disse ter confiança que a Ucrânia pode vencer a Rússia no conflito. "Sua resistência trouxe inspiração para o mundo livre", disse Austin, ao denunciar a invasão russa da Ucrânia como "indefensável". "A Ucrânia acredita claramente que pode vencer, e todos aqui também acreditam", afirmou. No encontro, houve a promessa de fornecimento de armas pesadas de que a Ucrânia precisa para alcançar a vitória.

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Reunião na base aérea americana de Ramstein, no oeste da Alemanha, discute a situação na Ucrânia
Imagem: Andre Pain/AFP

Nesta terça, a guerra entrou em seu 62º dia, com novos ataques registrados na Ucrânia. O Ministério da Defesa da Rússia disse que realizou "1.299 missões de fogo durante o dia", matando 500 militares da Ucrânia. O ministério ucraniano, por sua vez, relatou que as forças russas continuam "a bloquear parcialmente a cidade de Kharkiv", a segunda maior do país, além de manter o cerco à resistência da Ucrânia na usina de Azovstal, em Mariupol, onde aconteceram ao menos 35 ataques. No leste e no sul ucraniano, ao menos nove pessoas morreram após bombardeios.

Hoje, a ONU indicou que o número de refugiados ucranianos em razão da guerra pode chegar a 8,3 milhões, mais que o dobro do que projetou no início do conflito. Atualmente, a organização contabiliza que 5,2 milhões de pessoas já deixaram o país.

"Por trás"

O embaixador russo nos Estados Unidos disse acreditar que, "por trás" dos aportes financeiros do governo americano em apoio à Defesa da Ucrânia, "está o desejo de arrastar" o conflito "por qualquer meio, tentando infligir o máximo dano à Rússia e lutar até o último ucraniano". "Os EUA querem manter um foco de instabilidade na Europa."

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Anatoly Antonov é embaixador da Rússia nos Estados Unidos
Imagem: Reprodução

Para Antonov, os americanos querem "reunir aliados ocidentais em torno de si para manter a posição dos Estados Unidos no cenário mundial". "No entanto, o mundo caminha para a multipolaridade. Este fato não pode ser ignorado."

Por esse motivo, ele disse acreditar que o conflito é provocado pelo Ocidente, dizendo que a Ucrânia está sendo usada como "um aríete militar" contra os russos. "A Rússia não pode ser posta de joelhos. Projetos ocidentais ilusórios são coisa do passado. É hora de entender isso e respeitar os interesses nacionais russos."

Antonov reforçou o discurso russo de que a guerra promovida por Putin "não é dirigida contra os ucranianos", mas tem o objetivo de "proteger" as áreas separatistas do leste, o status neutro e livre de armas nucleares, e a desmilitarização da Ucrânia. "Para nossa segurança nacional, é importante eliminar as ameaças que emanam do território ucraniano devido ao seu desenvolvimento pela Otan. As tarefas diante de nós serão cumpridas na íntegra."

Os Estados Unidos, a França, a República Tcheca e outros aliados estão mandando dezenas de projéteis de longo alcance para ajudar a Ucrânia a deter a escalada ofensiva no leste.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Mísseis

Dois mísseis de cruzeiro lançados pelo Exército da Rússia sobrevoaram, nesta terça-feira (26) a central nuclear de Zaporizhzhia, no sudeste da Ucrânia. Segundo Petro Kotin, CEO da Energoatom, estatal que opera as usinas de energia nuclear ucranianas, o sobrevoo de mísseis em baixa altitude "comporta riscos enormes".

"Os mísseis podem atingir uma ou mais instalações nucleares, é uma ameaça de catástrofe nuclear e radioativa para todo o mundo", declarou.

A central atômica de Zaporizhzhia é a principal da Ucrânia e conta com seis reatores (40% dos 15 em utilização no país). Em março, a usina chegou a ser palco de combates entre tropas de Moscou e Kiev, levantando temores sobre um possível desastre nuclear de proporções até maiores que Chernobyl —que, hoje, completa 36 anos.

De acordo com a administração da região, bombardeios contra a cidade de Zaporizhzhia deixaram pelo menos uma pessoa morta e outra ferida nesta terça-feira. "Dois mísseis atingiram a área de uma das empresas municipais. Um terceiro explodiu no ar."

Veto na ONU

Os 193 países da Assembleia Geral da ONU devem votar nesta terça-feira (26) uma resolução que obriga os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança a justificar o recurso do veto, uma reforma que foi retomada após a invasão da Rússia à Ucrânia.

A medida, que afeta diretamente China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia, os cinco países com direito a veto, foi promovida por Liechtenstein. Quase 60 países apoiam a iniciativa de Liechtenstein, incluindo os Estados Unidos —o que surpreendeu a ONU e seus aliados mais próximos. Reino Unido e França devem votar a favor da reforma, mas optaram por não copatrocinar a mesma. Rússia e China não divulgaram sua posição, mas não estão entre os patrocinadores do texto.

O projeto "cria um novo procedimento", defende o embaixador de Liechtenstein, Christian Wenaweser, que garante que a medida "não é contra ninguém". "Não está direcionada contra a Rússia", insiste, apesar de a proposta de votação após mais de dois anos de gestão sem sucesso coincidir com a paralisação do Conselho de Segurança para conseguir a interrupção da invasão russa, devido ao direito de veto de Moscou, mesmo com a mobilização internacional.

Desde que a União Soviética recorreu pela primeira vez ao direito ao veto em 1946, sobre uma divergência entre Síria e Líbano, Moscou utilizou 143 vezes a medida, à frente dos Estados Unidos (86), Reino Unido (30) e China e França (18 vezes cada uma).

(Com Ansa, Reuters e AFP)