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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Ataque russo a Kiev durante visita da ONU mata jornalista, diz Ucrânia

Nathan Lopes

Do UOL*, em São Paulo

29/04/2022 05h00Atualizada em 29/04/2022 12h54

A jornalista Vira Hyrych, da Rádio Liberty, morreu no ataque da Rússia que atingiu Kiev ontem, dia da visita do secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres. A rádio em que ela trabalhava confirmou a morte, a 22ª de um jornalista durante a invasão russa. Mais cedo, o prefeito de Kiev, Vitaliy Klitschko, anunciou que o corpo de uma pessoa havia sido encontrado hoje nos escombros de um prédio residencial que foi atingido. O ataque deixou a comitiva da ONU abalada.

"Ela estava indo para a cama quando um míssil balístico russo atingiu seu apartamento no centro de Kiev", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolenko.

A morte de Hyrych foi lamentada por colegas e políticos. "Meu Deus! Eu pessoalmente conhecia a Vera. Estivemos em contato todos esses dois meses [de guerra]. Ela me pedia para dar comentários, me pedia para participar das transmissões", disse Anton Gerashchenko, conselheiro do Ministro de Assuntos Internos da Ucrânia. Chefe de gabinete da Presidência ucraniana, Andriy Yermak disse que "os crimes dos russos não ficarão impunes" ao falar sobre o ataque que matou Hyrych.

Colega da jornalista na rádio, Oleksandr Demchenko disse que a residência de Hyrych foi atingida. Ele publicou uma foto do carro da jornalista, que ficou danificado após o ataque, com o qual ela lhe deu carona para reportagens. "Eu só não sei como dizer que pessoa maravilhosa ele é."

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A jornalista Vira Hyrych morreu em ataque que atingiu Kiev ontem
Imagem: 6.nov.2017 - Reprodução/Facebook/vira.hyrych

Hoje, a guerra entrou em 65º dia. Ao longo da invasão russa ao território ucraniano, iniciada em 24 de fevereiro, outros jornalistas também foram mortos. Além de Hyrych, outros 21 jornalistas morreram durante a cobertura da guerra ou em razão de bombardeios em momentos em que não estavam trabalhando, segundo levantamento do Comitê de Radiodifusão e Televisão, do governo ucraniano.

Até 27 de abril, o comitê contabilizou 243 ataques a jornalistas e meios de comunicação. "São assassinatos, ferimentos, desaparecimentos, sequestros, bombardeios contra jornalistas e torres de TV, ameaças, crimes cibernéticos."

Hyrych trabalhava no escritório de Kiev da rádio desde 1º de fevereiro de 2018. "Antes disso, ela trabalhou nos principais canais de TV ucranianos", disse a empresa, que lamentou sua morte e disse que recordará a jornalista "como uma pessoa brilhante e gentil, uma verdadeira profissional".

Segundo o prefeito, o prédio atingido era novo e tinha poucos moradores. De acordo com a última atualização da prefeitura da capital ucraniana, até o momento, ao menos cinco pessoas foram resgatadas e dez ficaram feridas em decorrência do ataque.

"Kiev continua sob fogo inimigo", comentou Klitschko, que completou dizendo que "o ataque de ontem foi prova disso". Kiev estava em um cenário mais tranquilo desde o anúncio da Rússia, no final de março, de que iria reduzir radicalmente a atividade militar na região e voltar seu foco para o leste ucraniano.

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O prefeito de Kiev, Vitaliy Klitschko, foi até o prédio atingido por um ataque
Imagem: Genya Savilov/AFP

O Ministério da Defesa da Rússia confirmou que realizou um ataque a Kiev. "Armas aéreas de longo alcance de alta precisão das Forças Aeroespaciais russas destruíram os edifícios de produção da empresa de foguetes Artem e da indústria espacial na cidade de Kiev", disse o comunicado. O texto não faz menção a ataques a prédios residenciais.

No total, a Rússia disse ter realizado "975 missões de fogo durante a noite" em território ucraniano e que matou ao menos 280 militares. Hoje, a Defesa russa anunciou ter lançado mísseis a partir de um submarino no Mar Negro. O ministério não informou se esse foi o primeiro ataque com mísseis a partir de um submarino durante o conflito na Ucrânia.

Em vídeo que divulgou na noite de ontem, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que cinco mísseis atingiram a capital. E lembrou que isso aconteceu "imediatamente após o término de nossas conversas em Kiev", em referência ao encontro com Guterres.

"E isso diz muito sobre a verdadeira atitude da Rússia em relação às instituições globais. Sobre os esforços da liderança russa para humilhar a ONU e tudo o que a Organização representa. Portanto, requer uma resposta forte", disse Zelensky.

Para o presidente, os ataques "provam mais uma vez que não podemos baixar a guarda". "Não podemos pensar que a guerra acabou. Ainda temos que lutar. Ainda temos que expulsar os ocupantes."

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O Ministério da Defesa da Rússia disse ter lançado mísseis a partir de um submarino da frota do Mar Negro contra a "infraestrutura militar das Forças Armadas da Ucrânia"
Imagem: Ministério da Defesa da Rússia

Evacuação de Azovstal

Segundo a Câmara Municipal de Mariupol, a evacuação de civis do complexo de Azovstal está prevista para um "futuro próximo". O órgão indicou que a informação foi enviada pelo gabinete da Presidência da Ucrânia. A expectativa é que a retirada aconteça hoje.

Ontem, Azovstal —onde civis estão refugiados e militares ucranianos fazem resistência às forças russas— foi alvo de mais um ataque. O Ministério da Defesa da Ucrânia disse hoje que "os ocupantes russos continuam bloqueando nossas unidades em Mariupol, perto de Azovstal".

Em pronunciamento, Zelensky disse ontem acreditar que, "com a ajuda da ONU, é possível organizar uma missão de evacuação".

"A Ucrânia está pronta para essas etapas. Mas também é necessário que o lado russo considere essa questão sem cinismo e realmente faça o que ela diz", lembrando que, apesar da promessa de cessar-fogo por parte da Rússia, ataques continuaram na região. "O bombardeio de Mariupol pela Rússia não parou mesmo quando o secretário-geral da ONU estava negociando em Moscou."

A ONU disse que há intensas discussões em andamento para a retirada de pessoas de Azovstal.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Observação

O Ministério da Defesa da Ucrânia disse que na cidade de Izium, na região de Kharkiv, as forças russas estão focadas no reconhecimento da área, "na identificação das posições defensivas das unidades das Forças de Defesa e na sua destruição por fogo de artilharia."

No entorno da cidade de Kharkiv, a segunda maior da Ucrânia, o ministério disse que a Rússia mantém posições próximas, e "está tentando causar danos de fogo a unidades das Forças Armadas da Ucrânia em certas áreas".

A Defesa ucraniana também observa um fortalecimento "da proteção da fronteira" de Belarus com a Ucrânia. Os belarussos são aliados do governo russo.

Hoje, o Ministério da Defesa russo divulgou que "o primeiro grupo de militares belorussos completou o treinamento e passou nos testes no centro de treinamento conjunto e treinamento de combate na região de Nizhny Novgorod", na Rússia. "O pessoal da unidade de tanques das forças armadas da República de Belarus foi treinado por um mês.

Roubo de trigo

Diversas autoridades ucranianas acusaram a Rússia de estar roubando toneladas de trigo produzidas e estocadas nas áreas do sul e do leste do território. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia informou que está ocorrendo "o saque de grãos da região de Kherson", e que junto com o bloqueio dos portos ucranianos, "isso ameaça a segurança alimentar mundial".

A mesma acusação foi feita pelo prefeito de Melitopol, Ivan Fedorov. "Nós publicamos um vídeo de um comboio com mais de 50 caminhões com reboques que levavam nosso trigo para fora dos nossos territórios. Não sabemos para onde eles levaram isso", denunciou Fedorov.

Em uma nota oficial, o Estado Maior das Forças Armadas da Ucrânia também fez a mesma acusação, dizendo que os "ocupantes russos estão matando os habitantes das vilas ucranianas [...] além de terem levado mais de 60 toneladas de trigo nos caminhões de carga que foram roubados da cooperativa agrícola da cidade de Kamianka-Dniprovska, na região de Zaporizhzhia".

Antes da guerra, a Ucrânia era um dos maiores produtores de trigo do mundo, ocupando a quarta colocação no ranking global. Já a Rússia é a líder mundial em produção e, os dois países juntos, representam cerca de 30% do comércio mundial do grão.

(Com AFP e Ansa)