Míssil dado pelos EUA à Ucrânia custa R$ 4 milhões e tem bomba polêmica

A Ucrânia utilizou pela primeira vez os mísseis americanos de longo alcance ATACMS contra forças militares russas, anunciou Zelenski nesta semana. A arma é polêmica, por carregar bomba de fragmentação, proibida pela maioria dos países.

"Os acordos que concluímos com o presidente [americano Joe] Biden estão sendo implementados. Estão sendo implementados de uma maneira muito precisa: os ATACMS demonstraram sua eficácia", disse Zelensky, em seu discurso diário publicado nas redes sociais na última terça-feira (17).

Embora Zelensky não tenha dado mais detalhes sobre onde ou quando transcorreu a operação, antes de sua declaração, as forças especiais ucranianas haviam registrado seu ataque a dois aeródromos russos, destruindo nove helicópteros militares, um sistema de mísseis antiaéreos e um depósito de munição, segundo as agências AFP e a DW.

Em comunicado, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Adrienne Watson, comentou: "Cremos que esses ATACMS darão um impulso significativo à capacidade ucraniana no campo de batalha, sem afetar nossa preparação militar."

Os projéteis superfície-superfície têm alcance máximo de 300 quilômetros, porém a versão fornecida a Kiev está limitada a cerca de 165 quilômetros, esclareceu Watson.

Isso quer dizer que os mísseis SCALP franceses e os Storm Shadows britânicos, que já foram utilizados por ucranianos para atingir alvos russos, incluindo no território da Crimeia, continuam a ser as armas de maior alcance nas mãos da Ucrânia, conforme o News York Times.

O que são os mísseis ATACMS

ATACMS (Sistema de Mísseis Táticos do Exército) são projéteis americanos de longo alcance produzidos pela Lockheed Martin e segundo a Federação de Cientistas Americanos custou cada um 820 mil dólares (R$ 4 milhões na conversão para o real) — isso seria na primeira leva de produção na década de 1990.

Continua após a publicidade

Em 2019, o governo americano assinou contrato com a Lockheed Martin de US$ 562 milhões de dólares (cerca de R$ 3 bilhões de reais) para produção de vários desses mísseis.

Segundo site Military Today, o míssil tem 4 metros de comprimento e 0,61 m de diâmetro, além de pesar 1,7 tonelada no lançamento. Conforme a Lockheed Martin, o míssil tem aprimoramento de GPS e carrega bombas de fragmentação — que espalham sub-bombas menores.

O ATACMS é um míssil que em sua versão mais potente pode atingir alvos a até 300 km de distância, e são projetados para "ataques profundos às forças inimigos", segundo o Exército dos EUA. Eles podem ser usados para atacar centros de comando e controle, defesas aéreas e locais de logística bem além da linha de frente.

Segundo o jornal Financial Times, inicialmente serão enviados a Kiev poucos ATACMS, e equipados com bombas de fragmentação, e não com uma única ogiva explosiva. Duas autoridades disseram que os Estados Unidos enviaram cerca de 20 mísseis para a Ucrânia, segundo o The New York Times.

A decisão pelo uso das bombas de fragmentação, um armamento controverso e banido por 111 países — mas não os Estados Unidos —, teria tido mais apoio no Pentágono, pois não reduziria os estoques americanos de mísseis do tipo com ogivas unitárias.

Até agora, a Ucrânia vem usando mísseis de curto alcance dos EUA, os Himars, e os mísseis de longo alcance produzidos pelo Reino Unido e pela França, o Storm Shadow.

Continua após a publicidade

Os ATACMS podem ser disparados da terra, a partir dos mesmos lançadores Himars já usados pela Ucrânia, enquanto que o Storm Shadow precisa ser disparado do ar, a partir de caças ucranianos.

Reação russa

O embaixador russo nos EUA e o presidente Russo reagiram à chegada dessas novas armas. Ambos afirmaram ser "erro" e que terá consequências graves.

O embaixador russo em Washington, Anatoly Antonov, condenou o apoio bélico: "A decisão da Casa Branca, de enviar mísseis de longo alcance aos ucranianos, é um grave erro. As consequências dessa ação, que foi deliberadamente ocultada do público, serão muito graves."

Os mísseis superfície-superfície ATACMS entregues pelos Estados Unidos à Ucrânia não afetarão o curso da guerra, garantiu nesta quarta-feira (18) o presidente russo, Vladimir Putin.

Kiev solicitava estas armas há meses, com o objetivo de destruir à distância a retaguarda e as linhas de abastecimento russas no sul e no leste da Ucrânia e, assim, fornecer mais oportunidades de êxito à contraofensiva que visa libertar os territórios ocupados pela Rússia.

Continua após a publicidade

A Ucrânia diz que as suas tropas estão avançando, mas o progresso é lento porque o Ocidente não fornece armas suficientes. Para o Kremlin, o fato de a Ucrânia não ter conseguido retomar mais do que algumas dezenas de quilômetros quadrados desde que iniciou a sua contraofensiva em junho mostra que a operação falhou.

"O principal é que [estes mísseis] não vão mudar radicalmente as coisas na linha de contato, é impossível", disse o presidente russo em coletiva de imprensa no final de uma visita à China. "A agonia da Ucrânia será prolongada", acrescentou, e considerou que os Estados Unidos cometeram "um erro".

Segundo o presidente russo, a entrega desses mísseis à Ucrânia mostra "que os Estados Unidos estão cada vez mais envolvidos neste conflito".

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou em 24 de fevereiro de 2022 a invasão da Ucrânia, alegando necessidade de "desmilitarizar" e "desnazificar" o país vizinho, assim como de se proteger contra a suposta ameaça de um avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Europa.

A agressão russa é condenada por grande parte da comunidade, que tem respondido com apoio militar, humanitário e político a Kiev. Em 10 de setembro de 2023, o ACNUDH (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos) registrava 9.614 civis mortos e 17.535 feridos no conflito.

Continua após a publicidade

*Com informações da AFP e Deutsche Welle

Deixe seu comentário

Só para assinantes