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Venezuelanos no Brasil torcem pela queda de Maduro: 'Divulguem as atas'

Venezuelanos que moram no Brasil têm acompanhado com atenção a eleição no país vizinho, que terminou no domingo (28) com a recondução de Nicolás Maduro ao poder. Porém, a oposição questiona o resultado e acusa o ditador de fraude.

O que aconteceu

A psicóloga Merlina Saudade, 41, chegou ao Brasil em 2016 buscando melhores condições de vida. Moradora de São José (SC), ela classifica Maduro como um "fantoche" do socialismo. "Eu acho que ele nem tem a compreensão teórica, experiencial, do que significa o socialismo ou comunismo. [...] Maduro é um fantoche", disse ao UOL.

Merlina, que é uma das fundadoras da Redeven (Rede de Venezuelanos no Brasil), criticou a fala do presidente Lula, que minimizou os questionamentos à eleição de Maduro. "Acho que essa postura mostra uma face que não é conveniente a ele, ele poderia ter pedido que comprovassem que ganharam".

Psicóloga Merlina Saudade, 41, chegou ao Brasil em 2016
Psicóloga Merlina Saudade, 41, chegou ao Brasil em 2016 Imagem: Arquivo pessoal

Lula disse, na terça-feira (30), que não houve "nada de grave" ou "de assustador" nas eleições venezuelanas. Apesar da declaração, o presidente brasileiro reforçou o pedido para que o ditador venezuelano apresente as atas que esclareceriam o resultado. "Tem uma briga, como vai resolver essa briga? Apresenta a ata. Se com a ata tiver dúvida entre oposição e situação, oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça tomar o processo. Aí vai ter a decisão, que a gente tem que acatar".

O cientista político venezuelano William Clavijo, 34, ressaltou a importância da comunidade internacional cobrar transparência. "Para garantir que essa tentativa de violentar e desconhecer a vontade popular seja contida".

William mora no Rio de Janeiro desde 2014, quando chegou ao país para fazer um mestrado. Um mês depois da sua chegada, a liderança política para a qual ele trabalhava foi presa, assim como toda a equipe de campanha, o que motivou sua permanência no Brasil. Ele é o coordenador da Redeven.

Cientista político venezuelano William Clavijo
Cientista político venezuelano William Clavijo Imagem: Arquivo pessoal

"A crise econômica e política foi aprofundada", contou ao UOL. "Aí, eu achei inviável e arriscado voltar para Venezuela", acrescenta o cientista político.

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Atas da eleição

Os venezuelanos ouvidos pela reportagem seguem o discurso da oposição e da comunidade internacional, pedindo a divulgação das atas eleitorais. Os dados esclareceriam o resultado das eleições. "Acredito que é possível 'reverter' e voltar aos resultados reais, usando a transparência da informação. A verdade que a ditadura de Maduro deseja tampar com o seu governo", disse a venezuelana Claudia Ocanto, 46, moradora de Belo Horizonte (MG).

Venezuelana Claudia Ocanto, 46, moradora de Belo Horizonte (MG)
Venezuelana Claudia Ocanto, 46, moradora de Belo Horizonte (MG) Imagem: Arquivo pessoal

Mais cedo, durante discurso no Tribunal Supremo de Justiça, Maduro prometeu divulgar as atas. "Como chefe político e líder revolucionário da Venezuela, digo que o Partido Socialista da Venezuela está pronto para apresentar 100% das atas eleitorais, das eleições de domingo. E espero que cada candidato tenha a mesma postura de reconhecer as atas".

"É um pedido simples, que as normas eleitorais sejam cumpridas", ressaltou William Clavijo. "Que as atas sejam divulgadas e haja um processo de auditoria aberto e imparcial", completou.

O ditador Nicolás Maduro conta com aliados em cargos de chefia no Estado, como: o presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Elvis Amoroso, próximo ao chavismo; Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela; e o presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez. Todos endossaram a suposta vitória de Maduro.

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Claudia, que ainda tem família na Venezuela, torce por dias melhores no país. "Meu pai e meus tios ainda estão lá, no meio dessa crise. Eles ainda têm esperança, esperam que tudo melhore, o governo mude. Me preocupo com eles".

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