Raquel Landim

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Opinião

Maduro se vitimiza e se confunde com a Justiça Eleitoral da Venezuela

O ditador Nicolás Maduro está propositadamente se confundindo com a Justiça Eleitoral da Venezuela num truque retórico para legitimar as eleições presidenciais do último domingo (28).

Ele afirmou nesta quarta-feira (31) que seu partido vai apresentar as atas eleitorais por zonas de votação que observadores internacionais e países ao redor do mundo, inclusive o Brasil, vêm cobrando.

"Como chefe político e líder revolucionário da Venezuela, digo que o Partido Socialista da Venezuela está pronto para apresentar 100% das atas eleitorais das eleições de domingo", afirmou Maduro.

Na Venezuela, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) está totalmente comprometido. Negou o registro de candidaturas opositoras, dificultou a votação de venezuelanos no exterior, permitiu a instalação de barreiras intimidatórias contra eleitores próximas às zonas eleitorais.

Segundo o Carter Center, principal observador internacional que estava em Caracas nas eleições, o CNE teve um "viés" favorável a Maduro. É o que acontece em ditaduras — a captura das instituições.

Ainda assim, cabe a autoridade eleitoral divulgar os resultados das eleições, e não a um partido político. O CNE disse que Maduro estava eleito com 51% dos votos com apenas 80% das urnas apuradas e que havia interrompido a transmissão de dados por causa de um ataque hacker.

Desde então, o órgão se recusa a informar os resultados por seção de votação.

Nas democracias, todo partido tem direito a entrar com um recurso contra o resultado de uma eleição. É parte do jogo.

Maduro utiliza das regras quando lhe convém. Agora está se vitimizando: se diz alvo de um golpe armado pela oposição para tumultuar o processo eleitoral e afirma que vai entrar na Justiça.

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"Estou disposto a ser convocado, interrogado, investigado pela Justiça Eleitoral como candidato presidencial vencedor das eleições de domingo. Dou a cara e me submeto à Justiça", disse.

Para ele é fácil. A "justiça" na Venezuela só decide a seu favor.

Enquanto isso, venezuelanos, que se manifestavam nas ruas contra os resultados, foram presos e estão sendo ameaçados com 15 a 30 anos de cadeia. Líderes da oposição estão sendo processados pela Procuradoria-Geral da República.

O discurso de Maduro nesta quarta-feira (31) está em linha com o que sugeriu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem à noite.

Lula seguiu cobrando as atas das urnas, mas disse que o processo eleitoral na Venezuela foi "normal" e que quem não está satisfeito deveria ir à Justiça. Isso não funciona num Judiciário viciado, com instituições comprometidas, numa ditadura.

Maduro sabe disso e distorce a realidade a seu favor.

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Político experiente, que despontou na época da ditadura militar, Lula também se lembra do que é viver num país com as instituições comprometidas. Mas ele se nega a enxergar a realidade da Venezuela.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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