Conteúdo publicado há 1 mês

Milei fará auditoria contra 'inimigos da liberdade' após saída de chanceler

O governo do presidente argentino Javier Milei anunciou nesta quarta-feira (30) que fará uma "auditoria" entre os servidores do Ministério das Relações Exteriores do país visando "identificar os promotores de agendas inimigas da liberdade". A medida ocorre após a saída chanceler Diana Mondino depois que a Argentina votou contra o embargo a Cuba imposto há décadas pelos Estados Unidos.

O que aconteceu

"O novo chanceler da República Argentina é o senhor Gerardo Werthein", até então embaixador argentino nos Estados Unidos. O anúncio foi feito no X pelo porta-voz do governo argentino, Manuel Adorni, horas depois de a ONU aprovar nesta quarta-feira (30) a resolução contra o embargo dos Estados Unidos contra Cuba com 187 votos a favor, dois contrários — de Estados Unidos e Israel, seu aliado — e uma abstenção (Moldávia).

Gabinete do presidente argentino publicou nota confirmando que o Poder Executivo iniciará uma auditoria ao pessoal de carreira da Chancelaria do país. Confirmando o pedido de renúncia de Diana, eles informaram que o país "defenderá os referidos princípios em todos os fóruns internacionais em que participar" e que Gerardo "liderará a continuidade da transformação da política externa de nosso país". Não foram fornecidos detalhes de como será feita essa auditoria.

O gabinete também ressaltou no texto que se "opõe categoricamente à ditadura cubana". "[Nós permaneceremos] firmes na promoção de uma política externa que condene todos os regimes que perpetuam a violação dos direitos humanos e das liberdades individuais."

A Argentina atravessa um período de profundas mudanças e esta nova etapa exige que o nosso corpo diplomático reflita em cada decisão os valores de liberdade, soberania e direitos individuais que caracterizam as democracias ocidentais.
Gabinete do presidente argentino

Milei soube do voto a favor da suspensão do embargo contra Cuba por meio de uma ligação telefônica que recebeu de Gerardo, dos Estados Unidos, enquanto almoçava. A informação foi divulgada pelo canal de televisão Todo Noticias. "Orgulhosa de um governo que não apoia nem é cúmplice de ditadores. Viva Cuba Livre", disse a parlamentar Sabrina Ajmechet em um post na rede social X, um comentário que o presidente Milei republicou.

Segundo o Clarín, o voto foi contrário às políticas que Milei vêm tendo diante da ONU e das suas críticas ao socialismo e a Cuba, que chama o embargo de "bloqueio". Fontes oficiais disseram ao jornal argentino que o voto foi em conjunto com a maioria das democracias ocidentais, em uma declaração a favor do livre comércio e da liberdade de navegação. Eles também reforçaram que a votação não foi "contra" ninguém e que estava consoante ao direito nacional e internacional.

Diana foi muito criticada dentro do governo argentino e manteve fortes divergências com pessoas próximas ao presidente, como a Karina Milei, secretária-geral da presidência e irmã do mandatário, e o conselheiro presidencial, Santiago Caputo. Ela foi uma das primeiras figuras confirmadas no gabinete de Milei após a vitória nas eleições presidenciais.

A agora ex-chanceler desempenhou um papel importante na melhoria das relações diplomáticas da Argentina com países como o Brasil e a China. Em abril, Diana visitou o Palácio do Itamaraty, em Brasília. Ela se reuniu com Mauro Vieira e apaziguou os ânimos após Milei "oferecer colaboração" no conflito entre o dono do X, Elon Musk, e ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Continua após a publicidade

O novo ministro das Relações Exteriores, 68 anos, é veterinário e conhecido empresário argentino. Ele também é vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional, tendo presidido o Comitê Olímpico Argentino entre 2009 e 2021, antes de ser nomeado por Milei embaixador do país sul-americano nos Estados Unidos.

Até o momento, Diana não se manifestou sobre a decisão do mandatário.

Votação na assembleia da ONU foi por ampla maioria

A Assembleia Geral da ONU aprovou, nesta quarta-feira (30), por ampla maioria, uma nova resolução contra o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba, em vigor há mais de seis décadas, marcando mais uma vitória moral para a ilha, embora, como nas anteriores, seus efeitos sejam escassos.

A resolução recebeu 187 votos a favor, dois contrários — dos Estados Unidos e de seu aliado Israel — e uma abstenção (Moldávia). Esta é a 34ª declaração não vinculante que as autoridades cubanas apresentam desde 1992, em defesa da "necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba", que tem marcado a vida dos cubanos nas últimas décadas. A resolução "insta os estados que mantêm e seguem aplicando tais leis e medidas a adotarem as medidas necessárias para revogá-las ou anulá-las o quanto antes".

Continua após a publicidade

Para as autoridades da ilha, o embargo é o principal obstáculo para seu desenvolvimento e causa da profunda crise econômica que provoca o êxodo da população e um grande descontentamento social.

O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, atribuiu à "política criminosa" dos Estados Unidos o apagão generalizado ocorrido recentemente na ilha devido à "escassez de combustível que afetou a geração [de energia] e provocou instabilidade associada ao estado precário" das usinas.

O bloqueio, segundo ele, traduz-se na "agonia constante de buscar os recursos para pagar as remessas pontuais contratadas pelo país" e causa um "impacto muito severo na produção de alimentos", dificultando o acesso a combustíveis, sementes, fertilizantes, rações, pesticidas e outros insumos.

Impacto limitado

"O pequeno Davi venceu novamente o gigante Golias", reagiu o presidente cubano. "A pequena #Cuba derrotou novamente o império vizinho", acrescentou Miguel Díaz-Canel, na rede social X.

Apesar do amplo apoio dos países-membros da ONU contra a medida o impacto da resolução será limitado. A medida foi imposta em 1962, durante a Guerra Fria, pelo presidente John F. Kennedy para pressionar o regime comunista.

Continua após a publicidade

Porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, reconheceu que esta não é a primeira vez que resoluções são votadas e não aplicadas. "A carga econômica sobre Cuba e o povo cubano continua", lamentou Stephane Dujarric.

"Essas votações anuais sobre o embargo são um momento privilegiado para que os cubanos demonstrem o lado negativo dos Estados Unidos". "Os Estados Unidos não vão recuar no embargo se isso irritar os eleitores cubano-americanos", afirmou o pesquisador do Crisis Group, Richard Gowan, em mensagem à AFP.

Na tribuna da ONU, várias vozes denunciaram o bloqueio: "neocolonialismo", "sistema injusto e desumano", "violação flagrante e sistemática dos direitos humanos" e "punição coletiva".

Em 2015, sob a gestão do democrata Barack Obama, os governos dos dois países começaram um processo de normalização das relações diplomáticas, embora sem levantar o embargo. Mas a chegada do republicano Donald Trump à Casa Branca, em 2017, reforçou a implementação de medidas que, em boa parte, seu sucessor, o democrata Joe Biden, manteve, incluindo a de não retirar Cuba da lista de países que promovem o terrorismo.

A resolução exige também que o secretário-geral solicite aos Estados-membros e outros organismos um relatório sobre seu cumprimento à luz dos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, e o apresente à Assembleia Geral.

(Com AFP e Reuters)

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.