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Se uma empresa no Brasil é grande demais para quebrar, é a Petrobras

Antonio Lacerda/Efe
Imagem: Antonio Lacerda/Efe

Dan Horch

Em São Paulo

13/02/2015 06h00

As acusações de corrupção na Petrobras, a gigante de petróleo do Brasil controlada pelo Estado, já levaram a um escândalo político e uma mudança em seu comando. Agora, os problemas estão ameaçando outras empresas brasileiras e podem acabar até levando o país à recessão.

Seria difícil exagerar a importância da Petrobras no Brasil. Ela produz mais de 90% do petróleo do país, é dona de todas as refinarias, opera mais de 33 mil quilômetros de oleodutos e gasodutos, domina a distribuição por atacado de gasolina e diesel e até mesmo é dona da maior rede de postos de gasolina.

"O plano do governo era tornar a Petrobras a maior possível", disse Samuel Pessoa, um economista da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Ele estimou que a empresa, por meio de suas próprias operações e suas empreiteiras, foi responsável por cerca de um décimo do PIB (produto interno bruto) do Brasil.

Após uma investigação policial, chamada Operação Lava Jato, que apontou que fornecedores e empreiteiras da Petrobras pagaram propina para executivos em troca de contratos superfaturados, a empresa suspendeu o pagamento em muitos projetos. A Petrobras também proibiu novos contratos com algumas das maiores empresas de engenharia e serviços de petróleo do país.

A queda nos gastos da empresa provavelmente eliminará 0,75% do crescimento da economia do país neste ano, disse Pessoa –o suficiente para fazer uma economia estagnada cair em uma leve recessão.

As decisões da empresa também estão ameaçando as finanças das empreiteiras, que estão sendo atingidas duas vezes: seu fluxo de caixa despencou e a crise significa que não podem tomar empréstimos para compensá-lo.

Os problemas da Petrobras também estão se espalhando para os mercados de capital do país.

Devido às incertezas sobre quanto a empresa perderá em valor de alguns ativos devido à corrupção, a auditora da Petrobras, a PricewaterhouseCoopers, se recusou a assinar seu balanço trimestral.

Sem um balanço auditado, a Petrobras, com dívida líquida de US$ 110 bilhões, não pode fazer uso do mercado global de ações.

Como a Petrobras era vista como a mais azul das "blue chips" (empresas de primeira linha), seus títulos tradicionalmente serviam como referência para todas as empresas brasileiras.

Sem esse referencial, outras empresas no Brasil não estão nem mesmo tentando usar o mercado de títulos.

As empresas locais venderam US$ 37 bilhões em títulos globais no ano passado, segundo a Dealogic. Desde novembro, quando a Petrobras não conseguiu apresentar um balanço auditado, nenhum título emitido por empresa brasileira chegou ao mercado. Janeiro é geralmente é um bom mês para as empresas brasileiras venderem títulos. Em janeiro de 2014, elas venderam um total de cerca de US$ 6,5 bilhões.

"Algumas poucas empresas com balancetes fortes ainda conseguiriam vender títulos, mas pagariam mais do que antes, de modo que estão evitando. Há outras empresas que realmente precisam levantar dinheiro agora, mas não estão conseguindo", disse Marcel Kussaba, diretor de pesquisa de ações da empresa brasileira Quantitas Asset Management.

Problemas semelhantes podem ser esperados nos setores de construção e energia à medida que as empreiteiras da Petrobras –muitas delas empresas gigantes– cortam gastos, mesmo se conseguirem evitar a falência.

"Nós veremos o fechamento de muitas empresas do setor", disse Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

Outras terão que vender ativos para sobreviver.

"Por causa da Operação Lava Jato, haverá setores específicos, particularmente em infraestrutura, onde veremos mais atividade de fusão e aquisição neste ano", disse Antonio Pereira, chefe de investimento da Goldman Sachs para o Brasil.

Aeroportos e estradas provavelmente estarão entre os ativos colocados à venda, disse Pereira.

Enquanto bancos de investimento esperam lucrar prestando consultoria sobre fusões e aquisições, outros bancos podem ser prejudicados.

O primeiro desafio da Petrobras é calcular quanto deverá depreciar o valor de seus ativos devido à corrupção, para que possa divulgar um balanço. Se a empresa não fizer isso até junho, os donos de seus US$ 54,5 bilhões em títulos poderiam exigir o pagamento imediato.

A maioria dos analistas diz que a situação é improvável, e mesmo se vier a ocorrer, pode não significar que a empresa seja obrigada a dar um calote em seus títulos. Se uma empresa no Brasil é grande demais para quebrar, é a Petrobras.

"Nós achamos que o governo interviria ou pressionaria os bancos locais a fornecer o financiamento necessário", disse Brigitte Posch, chefe de dívida de empresas do mercado emergente da Babson Capital, que possui títulos da Petrobras. "Essa empresa é importante demais para o Brasil."